Apresenta-se-me hoje um texto de Agustina Bessa-Luís intitulado: O Dourado. Sinto-o como uma das produções menos profundas dessa autora, uma escrita que não preencheu o vazio que me vinha na alma. O Dourado é uma personagem marcada pela sede de riqueza e posse, que não vê nenhum problema em passar de lanceiro do reino a saqueador de casas senhoriais. Pronto, está contada a história. A autora não deu atenção a algumas situações na acção da trama, que poderiam enriquecer todo o texto como, por exemplo, fazer uma descrição mais detalhada da personagem central, para levar o leitor a perceber o real motivo da sua mudança de “profissão”, ou seja, de lanceiro do Rei a saqueador. Toda a acção acontece muito rapidamente, sem o primor do detalhe “queirosiano”, fazendo com que a trama seja muito leve, e que tudo o que se apresenta seja muito previsível. Desenrolo aqui um certo gosto literário por Eça de Queirós, e faço um julgamento deveras perigoso em relação a Agustina Bessa-Luís, concordo, porém, o certo é que esperava bem mais desse conto, algo que me fizesse apontar para o preciosismo do pormenor, do “piscar o olho” da personagem principal para com o ávido leitor. Nada aconteceu. Fiquei, portanto, decepcionado quando percebi que não existe, no desenvolver da trama, aquele raro toque que outros textos de Agustina Bessa-Luís possuem. Para piorar a situação, aborreci-me profundamente com as várias quebras de ritmo existentes por todo o conto. Algo impensável para mim, que estou sempre à procura de uma certa musicalidade em cada texto. Não compreendo, o motivo que levou a autora a “economizar” a possibilidade de descrever situações que poderiam enriquecer, em muito, todo o trabalho. Fiquei com a sensação que não disse tudo o que queria dizer porque não lhe apetecia prolongar a escrita. Ou, se quiserem, não quis “investir no enriquecimento vocabular” do tema. Mas, nem tudo é mau, pois continuo a gostar da literatura de Agustina Bessa-Luís, e a acreditar que seria muito justo se fosse premiada com o Nobel pelo conjunto da obra.
Revolucionária e doce. O que mais posso dizer de ti, minha querida Carolina? Creio que poucos extravasaram tão bem, tão literariamente, tão poeticamente, as suas apoquentações políticas. Vivias num estado febricitante de transbordamento emocional, que o digam os teus textos – aflitos – sobre as questões sociais ou, no mais puro dos devaneios sentimentais, as tuas observações sobre a música que te apaixonava. O teu perene estado de busca pelo – quase – inalcançável, fazia-nos compreender como pode ser importante a fortaleza de uma alma que não se verga a modismos ou a chamamentos fúteis vindos de seres pequenos. E por falar em alma, a tua era maior do que o teu corpo, por isso vivias a plenitude da insatisfação contínua. Esse espírito, um bom daemon , um excelente génio, que para os antigos gregos nada mais era do que a Eudaimonia , que tanto os carregava de felicidade, permitindo-lhes viver em harmonia com a natureza. Lembro-me de uma conversa ligeira, onde alinhava
Comentários
Rui, fiquei curioso, em que livro da Agustina você encontrou o conto "O Dourado" ?
Cumpts!
Peço desculpa pela demora na resposta.
Em 2007 encontrei "O Dourado" publicado em separata. Creio que alguma livraria ainda o deve ter, ou então um alfarrabista.
Veja também nas editoras "Minutos de Leitura" e "Guimarães".
Cumprimentos
RC .:.
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