Estamos em pleno século XXI e, em
praticamente todo o globo terrestre, continuam a existir terríveis atos de
xenofobia. O ser humano ainda não está preparado para olhar para o lado e
encontrar ali um irmão. A desconfiança, o medo, a aversão, a antipatia do “eu”
pelo todo à sua volta, surge apenas por que esse mesmo “eu” vive na dor
permanente e perpétua que tange o medo de não ser!
O planeta Terra morre todos os dias um
pouco. Lenta e agonizante está a vida de todas as horas entre os humanos.
Pode, o ser, acreditar que a sua
identidade estará perdida se amar o natural de outras terras distantes? Pode, o
ser, perder-se na sua identidade, se não admitir outras culturas ou outras
crenças?
Em todos os escalões sociais, em todo o
mundo, existem atitudes xenofóbicas. Atitudes que lesam, muito mais, o que
carrega o preconceito do que o atingido por ele.
Creio que, todo aquele que possui uma
atitude menos digna contra um ser humano – seja em palavras, em atos, ou em
pensamento – é detentor de uma doença, uma perturbação fóbica. Esta maleita
interfere drasticamente nas rotinas diárias e, inevitavelmente, em todos os
momentos de socialização desse indivíduo, fazendo com que o mesmo se feche numa
concha de ódio contra uma raça, uma cultura ou uma crença.
Existirá solução? Os humanos serão, um
dia, fiéis representantes da Bondade, da Caridade, da Complacência e da
Compaixão? Não creio! A Humanidade inteira deve tratar-se.
A Terapia Comportamental, desenvolvida
pelo médico psiquiatra sul-africano Joseph Wolpe, entre os anos de 1952 e 1958,
chegou a ser um bom início no combate à xenofobia. A sua técnica de
dessensibilização sistemática trouxe inúmeros resultados positivos, porém, não
foi o bastante. Creio que a verdadeira mudança só ocorrerá quando nos grandes
centros religiosos, sociais e políticos se iniciar um processo de aproximação
de todos para com todos. Levando a cada cabeça uma sentença de paz e de amor ao
próximo. Outro dos principais caminhos, creio, será a extinção das fronteiras, onde
todo o ser humano possa, sem burocracias, viajar de um lado para o outro, feito
abelha, a polinizar, culturas e civilizações, numa troca salutar de
experiências e vivências.
Encontrei em vários países um forte
teor xenofóbico, porém, o que mais me impressiona é o de Portugal, agravando-se
quanto mais para norte viajamos. Chega a cair em extremos, como, por exemplo,
recusarem-se a provar determinados alimentos por serem de origem estrangeira.
Lisboa continua a ser multicultural e
multifacetada. Tudo ali cabe, porém, não esqueçamos que a primazia sempre está
na couve e não no sushi. Felizmente os portugueses que viajam para o exterior
antes dos trinta anos de idade, conseguem trazer em si uma gama extraordinária
de boa disposição, de valores sociais e culturais e de gostos variados, pois
“abriram a mente” para o novo, o experimento, e o que é sinónimo de grande
humildade: admitem escutar o que os outros dizem. Isto é uma qualidade
admirável. Os de mais idade, que vão para outro país, costumam fechar-se em
conchas, em redutos lusitanos, frequentando o comércio dos patrícios e os “eventos culturais” que estes promovem. Na maioria
das vezes uma horripilante demonstração de mau gosto musical. Este é um dos
grandes motivos por que sempre me afastei dessas festas populares, outro, é a
estúpida matança de animais (para o repasto) regada a vários litros de tinto
batizado, que fazem questão de degustar durante esses “eventos”.
Acredito que a juventude que sai do
país em busca de um futuro mais risonho, um dia, se voltar, trará consigo mais
humanidade.
Em Portugal existem manifestas atitudes
de exclusão e diferenciação social, que foram sempre mais visíveis durante os
regimes fascistas que assolaram o país (e foram muitos, embora a falta de
memória lusitana divulgue apenas o período conhecido como Estado Novo, liderado
pelo Prof. Dr. António de Oliveira Salazar).
Um dos momentos mais tristes da
história de Portugal foi quando o governo, pós 25 de abril de 1974, colocou em
prática uma atitude nada digna, diria até fascista, abandonando centenas de
portugueses à sua sorte em Angola. Oferecendo , de forma cruel, toda a
discriminação, exclusão e diferenciação social que podia, para cima das cabeças
dos que vieram dessa ex-colónia. O que fez o povo perante essa atitude? Violentou-se,
apoiando o governo português e assumindo taxativamente que os irmãos que
passaram pelo infortúnio da guerra angolana eram simples “Retornados”, ou
“portugueses de segunda”, que não mereciam apoio de qualquer
espécie. Essa recepção negativa foi tão violenta que esses homens, mulheres e
crianças ficaram marcados para o resto dos seus dias. Como é do conhecimento
geral, os portugueses sempre foram emigrantes, sempre recorreram a outros
países para conseguirem melhorar a sua qualidade de vida, seria, pois, natural
que, se alguns tivessem de voltar para a sua própria pátria, fossem recebidos
como irmãos e não como alguém que vem “roubar o pão de cada dia”. Um claro
espelho racista e discriminatório!
Sei de muitos excessos cometidos por
uma boa camada desses portugueses que vieram de Angola após aquele 25 de abril
de 1974, excessos cometidos ainda em território angolano, sinais de desprezo
pelo país e pelo povo que os acolhera, reflexo da pouca cultura e nenhuma
educação que possuíam, porém, não mereciam ter sido julgados e condenados como
foram.
O desporto poderia ser um ponto de
união entre os povos no mundo, infelizmente não é, devido à ganância que o
conduz. Ganância que leva à disputa e não há fraternidade.
A cultura poderia ser o maior de todos
os sistemas de união entre esses mesmos povos, porém, não é por que os governos
sabem que um povo culto é um povo superior, logo, um povo que não se deixa
levar por cantilenas, por historietas ou por “conversa para boi dormir”, o que
faria com que esses mesmos governos deixassem de ter a importância que julgam
ter.
Os países não necessitam de governos.
Basta-lhes um povo sábio! Basta que a cultura, a aceitação das religiões
existentes e as diversas etnias que nos rodeiam atravessem fronteiras e se
mostrem.
Acredito que, quando o planeta Terra
entrar no século XXII os povos já terão conseguido compreender o porquê da sua
existência e, juntos, iniciado a construção de um “Eu Superior”.
Ao lado de cada um irá morar o irmão
fraterno que os ajudará a tanger a lira do Conhecimento e da Igualdade. Nesse
momento estaremos unos com o Universo!
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