Não é um devoto que vos escreve. Nunca
fui devoto de nenhuma religião. Admiro profundamente uma série de homens e
mulheres que dedicaram a sua vida a grandes causas, especialmente aquelas que
podem mudar o coração do ser humano, para melhor.
Não trato como santos aqueles que para
mim apenas fazem o que todo o indivíduo deveria fazer: distribuir caridade,
bondade e fraternidade. Não são santos, mas são pessoas que merecem todo o meu
respeito e admiração. Francisco de Assis
é um deles, Jesus Cristo outro e, se
deixar a mente procurar nas lembranças, creio que posso vos dar uma centena de
nomes, tanto ocidentais quanto orientais. Verdadeiros espécimes que a Sabedoria
e a Razão plantaram em nosso castigado planeta. Deus, para mim, é Sabedoria e Razão.
Nem homem, nem mulher.
No dia do meu nascimento, a minha mãe
ajoelhou-se na Capela Santo António,
na Sociedade Portuguesa de Beneficência,
em Santos, e pediu por um bom parto. Quinze dias depois, fui batizado na Paróquia Imaculado Coração de Maria, na mesma cidade. Com tão pouca idade
não pude decidir sobre se queria ou não ser batizado e em que religião.
Confesso que preferia que me tivessem levado para as águas da baía, ali na
minha terra natal e, sem pompa, nem circunstância, pela mão de um qualquer
elemento da família, ter recebido não apenas um punhado de água na cabeça mas
sim um banho revigorante e fortalecedor. Enquanto isso, podiam entoar qualquer
cântico, de qualquer ordem religiosa, pois, naturalmente, eu não saberia o que
se estava a passar. Certamente, o meu batismo chegaria a Deus, a toda a
Sabedoria e Razão, e eu estaria uno com Ele.
Por ter nascido num hospital que tem Santo António como orago, e ter sido
batizado numa igreja que possui a Virgem
Maria como padroeira, eu poderia, nos dias que correm, ser um fervoroso
católico. Não é o caso. Porém, tenho uma profunda admiração por aqueles locais,
bem como por aquelas personagens. E, não teria nenhum problema em ajoelhar-me e
agradecer-lhes por bênçãos recebidas, se tivesse certeza absoluta que essas
benesses tinham, de facto, sido ofertadas por esses etéreos seres.
Apesar de uma visível distância
religiosa, no que trata a ideias, conceitos e devoções, considero-me um
verdadeiro cristão, pois sou apologista e seguidor da tríade: caridade, bondade
e fraternidade.
Sofro, todos os dias, com a dor dos que
sofrem. Tenho esperança num mundo melhor, num planeta onde a Humanidade
compreenda que ser caridoso, ser bom e ser fraterno é o caminho para uma vida
plena, repleta de harmonia e equilíbrio.
Entristece-me ver e ouvir as disputas
religiosas que acontecem pelo mundo. Entristece-me saber que as religiões levam
o ser humano a matar os seus semelhantes. Onde está a Razão disso? Onde paira a
Sabedoria que deveria nortear a cabeça de cada um?
Todos os dias leio e reflito, reflito e
leio, volto os pensamentos para detalhes, uns sem importância, outros cuja
existência explica-me o motivo da vida. Chego a conclusões tristes na maioria
das vezes. E acabo por culpar o ser humano, acusando-o de causador de todo o
sofrimento que existe no planeta Terra.
Às vezes, começo a sentir que tudo pode
mudar, para melhor. Geralmente, essa sensação surge quando ocorre o
aparecimento de um novo líder religioso, alguém que trará nova luz à treva
existente. Neste momento, estou a sentir que pode existir essa mudança. O
recém-eleito Papa da Igreja Católica
Apostólica Romana parece ser um homem cordato. Não conheço o seu passado,
nada sei do seu presente, gostaria muito de me rejubilar com o seu futuro.
Jorge
Mário Bergoglio,
nascido em Buenos Aires ,
Argentina, a 17 de dezembro de 1936, foi eleito Papa a 13 de março de 2013, no
segundo dia do Conclave. Escolheu o nome pontifício de Francisco, passando, por isso, a ter uma
responsabilidade acrescida, ou não estivesse a ostentar o pseudónimo de um dos
vultos mais importantes da história da Humanidade e, claro, da própria Igreja
Católica, o querido Irmão de Assis,
batizado à nascença física como Giovanni di Pietro di Bernardone e à nascença religiosa como Francisco de Assis.
O Papa
Francisco I é o primeiro jesuíta e o primeiro sul-americano, a ser eleito,
é também o primeiro não europeu empossado como Bispo de Roma em mais de 1.200
anos, desde São Gregório III, nascido
na Síria, e que fora governante da Igreja Católica entre 731 e 741.
Preocupam-me alguns comentários sobre o
novo Papa, entre eles, o de ser contra o Aborto (também não sou favorável ao
ato em si, porém, sou a favor de que a mulher (ou o casal) possa decidir
livremente que rumo tomar), o de ser contra a eutanásia (creio que só quem
padece de determinado mal é que pode decidir o que fazer com a sua vida, e não
o Papa), e o de ser contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo (aqui,
também, um ato de decisão apenas e só dos envolvidos, e não do Sumo Pontífice, dessa
ou de qualquer outra religião).
Se Jorge
Mário Bergoglio escolheu o nome de Francisco,
em homenagem a São Francisco de Assis,
deve, então, seguir-lhe os passos, no que trata à caridade, à bondade e à
fraternidade. Espalhando pelo mundo, pelos seres humanos e pelos animais todas
as bênçãos, e apoios que tanto necessitam. Deve também despojar-se de toda a
riqueza, distribuindo verdadeiramente o pão a quem precisa. Saindo de encontro
à multidão que sofre e apaziguando as suas dores. Elevando a voz, para que se
ouça em todos os quadrantes, no apoio à Paz e à harmonia entre os povos. Sendo
um conciliador, tentando unir em fraterna paz todas as religiões do mundo.
Para ser fraterno, caridoso e bom, deve
dissolver o ego. Elevar-se perante a maldade, o preconceito e a injustiça. Pedro nunca se sentou em um trono de
ouro, Francisco também não o deve
fazer! O ser humano precisa reavaliar a sua própria vida, mudar os valores que
o norteiam, buscar caminhos onde a Fraternidade, a Caridade e a Bondade sejam o
mote da Existência. Creio que este é o momento para uma mudança na mentalidade
e no gesto do ser humano, e se essa transformação se der pela mão de quem
conduz a maior organização religiosa de que se tem notícia, muito bem,
estaremos no bom caminho.
Francisco
I deveria agora
reavaliar, com conta peso e medida, o que a Igreja pretende continuar a fazer
com o Medo, a Morte e o Vazio da Existência Humana. Três ínfimos detalhes que
mantêm, não só a cúpula católica, mas também todas as outras cúpulas religiosas
existentes à face da Terra, desde tempos imemoriais.
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