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Martins Fontes: O Poeta chora


Deste meu exílio voluntário, onde me encontro desde 2001, sou obrigado a manifestar o meu descontentamento pela perda recente, e irreparável para a cultura brasileira, do acervo de Martins Fontes, que estava sob responsabilidade da Casa Edith Pires Gonçalves Dias/Museu Martins Fontes, em minha Santos.

Esse acervo pertenceu ao escritor Roberto Fontes Gomes e este, meses antes de falecer, por telefone, perguntou-se se eu concordava com a doação que queria fazer para aquela Casa, naturalmente concordei, disse-lhe, inclusive, que todo o meu acervo ligado a Martins Fontes, incomparavelmente maior do que esse que foi agora destruído, poderá um dia, se eu sentir que estará completamente seguro, também fazer parte dessa Casa. Estou agora com grandes dúvidas quanto a isso. E, a pensar em, daqui a muitos anos, enviá-lo para a Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, ou outra instituição mais protegida.

A Prefeitura Municipal de Santos, bem como inúmeros organismos a ela ligados, como também a população santista e todos os meios de segurança da cidade, são culpados pelo ocorrido. É impressionante o abandono a que foi votado o nome de Martins Fontes (para não falar de outros). É inacreditável, o que se deveria fazer em prol da literatura santista, e dos seus grandes vultos, e não se faz, por capricho ou por ignorância.

Depois de vinte e quatro anos de pesquisa/investigação consegui concluir (sem nenhuma ajuda financeira, por que quem o poderia fazer: classe política e empresarial, nunca se resignou a isso) a Biografia Definitiva do grande Martins Fontes. Todo esse material está em revisão, e será publicado em dois volumes, num total de 1.250 páginas. Possuindo a mais-valia de conter 85% de informações inéditas, bem como documentos e fotografias, nunca vistos por nenhum outro pesquisador que tenha escrito sobre o Poeta-Maior. Esta Biografia será publicada na Europa e, só depois, através de minha agente literária, poderá existir uma edição brasileira.

Neste momento de tristeza, só me vem à mente todos os mal-amanhados discursos políticos que ouvi durante anos, acerca da riqueza do nome de MARTINS FONTES para a cidade de Santos e para o Brasil, de como esse nome seria envolto em glória e recuperado para que as futuras gerações se pudessem orgulhar desse gigante das letras, santista de nascimento e coração. Pois bem, como sempre soube, todo esse palavreado “caiu em saco roto”, nada restando dele. E agora, assim como eu, ele também estará a lastimar o ocorrido.

Do alto do seu glorioso céu estrelado de Luz, Benquerença e Sabedoria, o nosso Zézinho, médico caritativo (“Como é Bom Ser Bom!”), Poeta-Maior, chora. O seu desalento e o seu choro convulso se ouvirão por muitas décadas.

A Cidade de Santos aumentou a sua dívida para com ele!
 

Comentários

Anónimo disse…
(...) Como é bom ser bom..(...), mas opto por dizer: como é fantástico ler estas plavras, que ultrapassam o simples acto de ler ! Vão muito mais além! Desejando que desse exílio voluntáro onde se encontra, as suas "Belas Palavras" , se continuem a manifestar!
Anónimo disse…
Magnifico texto, e exímias palavras, retratadas por este escelente Autor. Um Verdadeiro, Mestre das Palavras. Parabéns!

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