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A mostrar mensagens de abril, 2020

O arco de volta perfeita em pedra

Rezam as crónicas familiares de que o meu bisavô Francisco Calisto construíra um arco de volta perfeita, em pedra, nas suas terras em A-da-Gorda. Sem nenhum conhecimento arquitetónico, mas, com um extremo sentido estético, centrou a sua edificação no respeito pelos desígnios do Grande Arquiteto, depois de ter diante de si alguns ensinamentos antigos, que lhe povoaram a mente de diversos valores morais. O arco de volta perfeita era o culminar de uma vedação unificada, toda ela de acácias, uma exótica planta de origem australiana que foi introduzida em Portugal, pela mão do homem, em meados do século XIX. Devido à sua riqueza ornamental, Francisco, achou por bem plantar a “Acácia dealbata”, como linha divisória, ao redor de suas terras. Depois de alguns anos, deixou de ser apenas para adorno, mas, também, para fornecimento de matéria-prima, passando a vender a casca para a indústria dos curtumes, tanto de Guimarães, quanto do Porto e de Alcanena, regiões que recebiam,

A surpreendente italiana

Francisco Calisto adentrou a Porta da Vila. Ia a caminho de casa. Vinha cansado, com as botas cheias de terra e o estômago a pedir alimento. A sua rotina era metódica: Chegava, deixava a água da bica escarrapachar-se em si, lavando-o merecidamente, vestia uma roupa limpa, sentava-se para jantar, e saía, rumo aos lampiões que acendia, religiosamente, todo fim de tarde. Sim, Francisco, além de agricultor, era o Acendedor de Lampiões de Óbidos e de A-da-Gorda. Executava o serviço com lentidão, mas com alegria, no lombo de um muar. Era um período de muitas dificuldades no plano social e ele, devido ao contato diário com as populações de Óbidos e de A-da-Gorda, conhecia-as com profundidade. Essas localidades eram de expansão agrícola, e o comércio resumia-se a meia dúzia de vendas (pequenas mercearias) e tabernas. A agricultura, natural e familiar, era o ganha-pão da maioria dos habitantes. Quem não possuísse uma boa dúzia de enxadas, e as mãos calejadas, “não era filho de b

O meu avô Manuel e a taberna do Antero

Repondo a História, fazendo Justiça: Caldas da Rainha, dos finais do século XIX até, quase, ao ano de 1995, era uma cidade repleta de tabernas. O meu avô Manuel, filho de Francisco Calisto e Cecília de Paulo, tinha três irmãos (Francisco, Joaquim e Mapril) e uma irmã (Cacilda). Esta irmã cresceu, casou (com Bernardino) e teve filhos (José, Maria, Nazaré e Antero). Cacilda, sendo a sua única irmã, era a menina querida dos seus olhos. O meu avô sempre foi um homem de trabalho, e um amparo familiar, e, como era um homem de visão comercial, teve uma vida equilibrada e próspera. Graças a essa estabilidade conseguiu ajudar a família. Nesse auxílio está uma generosa oferta ao sobrinho Antero no ano de 1957. Antero era um jovem e modesto agricultor no Pinhal (Óbidos), sem nenhuma perspetiva de mudar de profissão. Porém, numa certa tarde, o meu avô vai buscar o sobrinho e leva-o para as Caldas da Rainha. O destino era um singelo beco na área central da cidade. Em lá cheg