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Mensagens

A mostrar mensagens de 2023

Obrigado!

  Depois de, aproximadamente, seis anos de colaboração com o Jornal das Caldas, chegou o momento de uma mudança. Um autor que não se movimenta acaba por cair em lugares-comuns. O que não é bom para a saúde literária da própria criação. Repentinamente, após um telefonema recebido, vi-me impelido a aceitar um dos convites que tenho arrecadado ao longo do meu percurso. Em busca do melhor, o ser humano não pode, nem deve, estagnar. Avante, pois para a frente é o caminho, como se costuma dizer, já de modo tão gasto. Sim, estou de saída. Deixo para trás uma equipa de bons profissionais. Agradeço, a cada um, pelos anos de convívio e camaradagem. Os meus leitores não deverão sentir falta. Mas se por acaso isso vier a acontecer, brevemente, através das minhas redes sociais, saberão em que folha jornalística estarei. Por enquanto reservo-me à discrição, pois há detalhes que ainda estão a ser ultimados. A responsabilidade de quem escreve num jornal é enorme, especialmente quando se pr

O Declínio das Fábulas - I

  Em poucos dias, o primeiro volume do meu novo livro “O Declínio das Fábulas” chegará a todas as livrarias portuguesas. Esse tomo reúne uma série de temas que reverberam o meu pensamento nas áreas da cultura, da arquitetura, da mobilidade, etc. para uma cidade como Caldas da Rainha. O prefácio é de autoria da jornalista Joana Cavaco que, com uma sensibilidade impressionante, timbra, assim, o que tem constituído o trabalho deste que vos escreve. Nele, há trechos que me comoveram francamente. Outros são mais técnicos, contudo exteriorizam um imenso conhecimento daquilo que venho produzindo, por exemplo: “É essa mesma cidade ideal a que, pelo seu prolífico trabalho, tem procurado erguer, nos vários locais por onde tem passado, seja a nível cultural ou político. Autor de extensa obra, que inclui mais de sessenta livros (a maior parte por publicar) e um sem fim de artigos publicados em jornais portugueses e brasileiros, revistas de institutos científicos e centros de estudos, entre o

Impressões de 1907

  Matthew entra na estação do Rossio, na mão direita o bilhete para Caldas da Rainha, na esquerda o volume “Notas de Viagem – Paris e a Exposição Universal (1878-1879)”, de Ramalho Ortigão. O seu intuito é, somente, o de rever a Vila, que é afamada graças às Termas e, quem sabe, aproveitar um pouco daquelas águas para debelar alguns incómodos respiratórios, reumáticos e músculoesqueléticos. O enredo do livro levara o seu pensamento a desejar a França, contudo, os seus parcos recursos não o autorizavam a tanto. Quando ouviu o silvo da máquina, apressou-se a subir os pequenos degraus da carruagem e a acomodar-se confortavelmente. Quinze minutos depois percebeu que não conseguiria esquadrinhar o relato de Ramalho, a paisagem não o permitiria. Completamente envolvido pelas cores deixou-se entreter, imaginando como poderia fazer bem, aos seus pulmões, caminhar por aqueles campos. A brochura foi parar à algibeira. Os olhos passaram a perscrutar o entorno, completamente extasiados. A vi

José Mattoso

  Desde 1968, com o surgimento da tese de doutoramento: “ Les monastères du diocèse de Porto de l'an mille  à 1200 ”, até este 2023, a historiografia portuguesa contou com um investigador que abriu inúmeros caminhos para importantes descobertas acerca da História Medieval, ajudando a clarificar - para minha imensa satisfação - incontáveis itinerários de exploração, inclusive sobre a Vila de Óbidos, assim como em relação a outros concelhos régios medievais da região Oeste. Como o meu querido leitor sabe, a crónica existente, relativa a essa citada Vila, é devastadoramente bela, contribuindo para realçar a relevância de Portugal no contexto europeu e afirmando a própria personalidade das gentes do lugar. Isso só é possível graças ao trabalho árduo de inúmeros estudiosos, entre eles, um dos maiores, José João da Conceição Gonçalves Mattoso (1933-2023). Ainda imberbe - e influenciado pelo tio-avô D. José Alves Mattoso (1860-1952), Bispo da Guarda - esse erudito ingressou na vida

Cidade-dormitório

  Apesar da autopromoção constante, nos meios de comunicação - por parte do executivo da Câmara Municipal - Caldas da Rainha continua a ser uma singela localidade perto de Óbidos, com pouca atratividade cultural e nenhuma graça estética. O concelho não possui um rosto, uma marca que o defina. Parece, inclusive, que os autarcas não conseguem decidir-se sobre qual o caminho a seguir nesse quesito. Caldas da Rainha é uma cidade com que fisionomia? Qual o seu selo distintivo? O que pode atrair turistas? O que a pode tornar apetecível para grandes investimentos? Uma das ações urgentes a realizar é a do resgate da sua história e da sua identidade, todavia, o pelouro indicado para isso, o da Cultura, é apenas um cabide de emprego e uma vitrina de pavoneamento. Não existe uma estratégia, por parte desse organismo, para evidenciar a crónica caldense, os seus feitos, os seus heróis, as suas instituições, etc . Não há, igualmente, um programa de revitalização urbana, que tenha como objeti

“Ruy, a história devida”

  O Senhor Teatro esteve em Óbidos, no auditório municipal da Casa da Música, com o espetáculo assinalado em epígrafe, e a minha pena, sensatamente, não poderia deixar passar em branco esse memorável acontecimento. Escrever sobre essa fundamental figura da Cultura portuguesa é muito gratificante, conviver com ela é uma bênção. Não sei precisar há quanto tempo conheço Ruy de Carvalho (1927-), o que sei é que a minha admiração foi aumentando com os passar dos anos. Essa afeição não é apenas pelo imenso ator que é, mas também pelo cavalheiro, pela índole, pela postura, ou seja, pelo ser humano ímpar. Na peça em questão – escrita pelo talento do meu, igualmente, querido amigo Paulo Mira Coelho (1952-) – o Senhor Teatro, que divide o palco com Luís Pacheco (1969-), faz uma peregrinação pela memória, indo buscar histórias que a família e os amigos mais chegados conhecem há anos, e são deliciosas, muitas delas vividas com nomes sonantes como Vasco Santana (1898-1958), Ribeirinho (1911-198

Francisco de Almeida Grandella

  Maçon . Iniciado no ano de 1910, e integrado na Loja José Estevão, do Grande Oriente Lusitano, sob o nome “Pilatos”, praticou uma Maçonaria de apoio aos mais vulneráveis, respeitando o tríptico: Liberdade, Igualdade e Fraternidade. Fundou a Caixa Previdente do Futuro (1883); construiu dezoito escolas primárias e uma creche; edificou o Bairro Grandella na Capital portuguesa, para oferecer boas condições de moradia aos seus funcionários; ofereceu-lhes assistência médica e proteção social; estabeleceu, a todos, sem exceção, um dia de descanso semanal (domingo); consagrou-lhes uma semana de férias (remunerada e anual), e constituiu a Casa do Povo na Foz do Arelho. O seu nascimento, há 170 anos, deu-se em Aveiras de Cima, Azambuja, no dia 23 de junho de 1853, sendo filho de Francisco Maria de Almeida Grandella (1830-?) e de Matilde Libânia Doroteia de Barros Grandella (1852-?). Aos 11 anos de idade mudou-se para Lisboa, pela mão da prima Miquelina (?-?), indo morar na casa desta, situ

Gestão sem estratégia

  O atual executivo da Câmara Municipal das Caldas da Rainha já nos brindou com uma série de promessas não cumpridas. Entre muitas, cito a da não realização de eventos no Parque D. Carlos I. Este emblemático espaço vem sofrendo com os continuados mau tratos, porém, é algo que não preocupa os autarcas, pois tudo o que é relacionado ao Ambiente só possui real interesse se for possível agregar uma festarola. Caminho, pensam eles, que pode fazê-los granjear alguns votinhos nas próximas Autárquicas. Enquanto o concelho avança para lado nenhum, devido à nulidade de estratégia (a todos os níveis), o povo vai sendo entretido. Há quem goste. A maioria da população, não. A atual gestão camarária segue inaugurando obras que não são suas originariamente, mas age como se fossem. Como não há nenhum plano, relativo a prováveis ações estruturais, o melhor é fazer barulho com os tambores alheios. Pode dar certo até um determinado ponto, o problema é que restam apenas dois anos para terminar o man

Raul Proença

  A história de um concelho pode ser anunciada como motor impulsor do turismo se as Câmaras Municipais investirem na preservação do património cultural material que possuem. O que não acontece nas Caldas da Rainha. “Não é fácil dialogar com os proprietários” é a frase-lema dos autarcas, quando os imóveis a serem intervencionados pertencem a privados. O curioso é que, na maioria das vezes, por parte dos edis, as tentativas para a conversa não existem. Há, no concelho caldense, um absoluto descaso quando se trata de reparos, melhoramentos ou manutenção de imóveis de interesse histórico-cultural, bem como no que está relacionado à estatutária local. Um dos casos mais gritantes gira em torno da figura de Raul Sangreman Proença (1884-1941). Em 2024 completam-se os 140 anos do seu nascimento e a casa onde nasceu, situada no Largo João de Deus, nº 10, está em precário estado. O hilário é encontrar – de total responsabilidade camarária – o monumento erigido em sua homenagem também num

Peças de colecionador

  No recente dia 31 de maio ocorreu a abertura da exposição “Nove capas para o Zeca”, de José Santa-Bárbara, na Sala Polivalente da Biblioteca da Escola Superior de Artes e Design em Caldas da Rainha (ESAD.CR), sob curadoria de Abel Rosa. A mesma estará patente até ao dia 17 de julho e poderá ser visitada por todos que possuírem interesse. O evento teve a coordenação do “Núcleo AJA Caldas da Rainha – Associação José Afonso”, um dos 19 núcleos existentes que homenageiam o maior cantor de intervenção de Portugal: José Manuel Cerqueira Afonso dos Santos (1929-1987), o Zeca Afonso. José Santa-Bárbara, artista plástico iluminado e iluminador, possui uma obra notável, amparada por uma criatividade abundante e impetuosa. Se analisarmos as capas que concebeu para os discos de Zeca Afonso, respeitando, naturalmente, a época de criação, com todos os reduzidos meios técnicos existentes, encontramos um virar de página, um marco assente na novidade e no poder da originalidade. Cada capa é uma

“Poesia com Luz”

  A fotógrafa Odete Frazão inspirou-se na poesia de Afonso Lopes Vieira (1878-1946) para compor a magnífica exposição assinalada em epígrafe, patente, desde o dia 20 de maio, na agradabilíssima Casa de Chá MOMO Sweets & Tea, nas Caldas da Rainha. A criadora adora “desenhar com luz”, trabalhando muito bem os contrastes e a perspetiva. Ao admirar cada peça, conseguimos perceber a sua respiração e a sua personalidade, sentindo-as vivas, pulsantes, marcadamente autênticas. Interpretar o que se vê é um excelente exercício mental para o observador e, neste caso, como temos um ponto de partida realista, fica-nos na alma a intuição que se manifesta em cada imagem, ricocheteando em nós traços de alta humanidade e agitação emotiva, plasmados na alma da artista. Se perguntarem, tecnicamente, se essa exposição expressa a arte, somos obrigados a dizer que sim, pois explora magistralmente (e sem ter sido essa a intenção) a intelecção, além de evidenciar um método artístico cuja pauta est

Falta de respeito

  É amplamente visível que o atual executivo da Câmara Municipal das Caldas da Rainha está desesperado, e com muito medo de perder as autárquicas de 2025. Nas comemorações do Dia da Cidade mais um ato de intensa demagogia tomou conta dos ouvidos dos habitantes, nomeadamente dos doentes acamados (sobretudo dos idosos e das crianças, as mais afetadas são as que possuem uma Perturbação do Espectro do Autismo (PEA), entre outros Transtornos), que foram obrigados a suportar um inacreditável exemplo de desrespeito, através de um absurdo e interminável ruído, provindo de um extenso e inaceitável exibicionismo pirotécnico. O respetivo executivo esqueceu-se de que vem exigindo que o atual Governo construa um novo e moderno hospital no seu concelho. Porém, sabendo que, esse mesmo nosocómio será a residência de muitos utentes, pergunto: todos os anos, na comemoração do Dia da Cidade, os autarcas irão agradar aos pacientes, com essa exibição despropositada e barulhenta? Desejam o hospital apen

Concerto “Nocturnos”

  Recentemente, no Santuário do Senhor Jesus da Pedra, em Óbidos, o Coro & Orquestra da Academia de Música de Óbidos apresentou o espetáculo anunciado em epígrafe. Do programa constou uma peça de Joaquim Gonçalves dos Santos (1936-2008), Christus factos est (moteto para coro a 4 vozes mistas e órgão), uma de Estevão de Brito (1575?-1641), Stabat Mater (uma configuração polifónica de dois versos, para quatro vozes, atribuída a esse autor, porém, há certas dúvidas no que trata à sua verdadeira paternidade), além da Responsoria in Sabbato Sancto e dos Nocturnos , de autoria de José Joaquim dos Santos (1747-1801?). De Joaquim Gonçalves dos Santos, sabemos que fez os cursos de Humanidades, Filosofia e Teologia no Seminário de Braga, estudou composição com o Pe. Manuel Ferreira de Faria (1916-1983), em 1962 ordenou-se sacerdote e em 1963 ingressou no Pontifício Instituto de Música Sacra, em Roma, Itália, regressando a Portugal em 1968, onde desenvolveu ativa produção musical, espe

Absorver o vazio

  Atualmente, o ato de consumir define aquilo que conhecemos como felicidade. Poucos são os que admiram o por do sol ou o deslumbre do seu nascimento. O humano atual não olha para o céu, ou acima da linha do horizonte, a sua visão estanca na altura do umbigo, o que o faz pensar pequeno, quase rasteiro. Se o indivíduo reside numa urbe cuja vida noturna é completa, com acesso a salas de cinema, concertos musicais, teatro, espetáculos de dança, exposições pictóricas, escultóricas e/ou fotográficas, lançamentos de livros, etc. inevitavelmente há uma maior interação e um interessante “aproveitar o momento que se vive”, logo, existe vontade de “esticar”, sair dos eventos e frequentar um estabelecimento que encante o estômago ou um local propício a “abanar o esqueleto”. A vida que se apresenta diante de nós é que nos torna diferentes, mais comunicativos, pouco egoístas e rancorosos, menos propensos e destilar venenos. A nossa felicidade deveria, portanto, passar, indeclinavelmente, por at

Concordar com o que é certo

  Sempre me causou uma certa estranheza o facto de existirem tantos “treinadores de bancada”. Aqueles indivíduos que “sabem tudo” e, por assim acreditarem, escondem-se atrás da tela do computador e lançam venenos para todos os lados, porém, quando são confrontados na rua, colocam a cabeça abaixo da linha da humilhação e seguem o seu caminho, sem emitir um ligeiro pio. Olhar na cara e dizer o que se pensa não é para os fracos. Escrever crónicas e/ou artigos a apontar as grotescas falhas dos ineficazes executivos camarários que nos calham na rifa também não. Os meus textos, comummente, são motivo de debate, o que muito me satisfaz, pois afiança o meu lado de atento analítico. Essas boas querelas ocorrem nos cafés, ou em outros locais onde exista uma aglomeração de fiéis leitores desta minha coluna. O curioso é que a larga maioria não utiliza a parte pública das redes sociais para mostrar o agrado pelas ideias, desabafos e impaciências que lanço, fazem-no discretamente, enviando-me

Gestão nórdica

  As próximas eleições autárquicas ainda estão a alguma (pouca) distância, porém, o cenário que se coloca diante de todos é o da necessidade de novos protagonistas na Câmara Municipal das Caldas da Rainha, pois os atuais não demonstram estofo (trabalho feito) suficiente que lhes permita uma continuação. Basta atentar ao programa, por eles apresentado em 2021, para verificar que nada do que ali está foi, de facto, realizado. A lengalenga que se ouve é focada apenas no anúncio da possibilidade de realização de “grandes eventos” (a montanha continua a parir ratos), porém o que se efetiva não passa de insípido entretenimento. Para as virgens que estão ofendidas neste momento, só me apetece dizer: a mínima parte da população que está satisfeita é porque ganha algo com a atual autarquia ou porque as suas balizas são muito estreitas. Não há estruturação nem investimento sério na Cultura, na Educação, etc. Qual o motivo para esse descaso? A resposta é simples: são aplicações que não trazem