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A mostrar mensagens de agosto, 2021

Costa Motta (Sobrinho) e as Caldas da Rainha

  António Augusto da Costa Motta, Sobrinho (1877-1956) foi um dos mais prolíficos escultores portugueses. Amigo pessoal de Manuel de Brito Camacho (1862-1934), foi, no ano de 1906, por este apresentado a Manuel Augusto Godinho Leal (?-?), proprietário da Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha. Desse encontro surge o convite para que o escultor assumisse a direção artística da citada empresa. Costa Motta, recém-chegado de Paris, ao aceitar a empreitada, inicia, ali, um importante trabalho de renovação técnica, onde estava incluída a educação estética da população local; uma aprimorada correlação entre a criação cultural e o modo de produção industrial; e o aperfeiçoamento da formação, especialmente a artística, do modesto operariado, sem que se perdesse o sinal distintivo da faiança caldense, porém, com um aprimoramento de estilo nos fundamentos da flora e da fauna, da aplicação de esmaltes, da procura de diversos efeitos metaliformes, da busca de inovadoras faces texturadas, com

Entre unicórnios e fadas

  Tenho amigos - muito graúdos - que colecionam todo o tipo de bugiganga, outros, como é o meu caso, preferem atulhar a casa de livros e discos de vinil. Duas coleções que dão um certo trabalho, pois não se trata apenas de comprar para amontoar, é necessário dar-lhes atenção, muita. Todos os dias surge a necessidade de lavar um LP, de o colocar, quase de modo religioso, no toca-discos e, pasmado, perceber que o planeta parou de girar, que a respiração quase cessou, que o coração passou a bater no ritmo do que se ouve. Recuperado, avanço para o livro do momento, geralmente é algo “pesado” (Eça, Camilo, Machado de Assis, Coelho Netto, Graciliano Ramos, etc.), aquele tipo de volume que emociona a cada parágrafo, que nos entorpece os sentidos, que faz-nos acreditar que a vida pode ser melhor do que essa que querem impingir-nos. O ser humano atual lê pouco. O que é trágico, pois, assim, não consegue organizar campos de raciocínio. Como resultado, não possui estrutura para um debate

O psicodrama da inveja

  O sol não brilha do mesmo modo na mente de todos os seres humanos, alguns possuem grandes nuvens negras a pairar sobre as suas frágeis consciências. Como resultado, libertam uma avassaladora onda de inveja, que levanta as pedras da calçada. Somente os fortes resistem, e não tropeçam nos pedregulhos. A inveja é parte integrante do sistema psíquico dos pobres mortais que somos, sem dúvida, porém, há os que trabalham mentalmente de um modo organizado, e, como se ocupam positivamente na construção da sua vida, não possuem tempo para se atormentar com as conquistas alheias. Alguns estudiosos do tema assumem que a inveja é um dos maiores tabus da humanidade. Se for verdade, isso significa que a maioria das pessoas pouco tem feito pela sua própria vida. Essa zelotipia terrível motiva crimes, além de minar assustadoramente o núcleo da maioria dos partidos políticos. Neste caso específico causa verdadeiros estragos. É exatamente no cerne da instituição partidária que a mesma não dever

O alforge da passageira

  O local estava silencioso, como silente se encontrava o entorno. Um pássaro e um farfalhar de ramagem quebrara a monotonia. Não sei se do verso que lia, se do sorriso que despontara, vindo de um tímido sol. Senti um aconchego na alma. Lembrei-me de minha infância, passada entre os grãos de uma areia quente e sedosa, onde leve era a constância dos pensamentos e doce o paladar que saboreava os quitutes. Tudo era poesia. A idade assim o permitia. E melhorava quando a água do mar se aproximava e obrigava-me a um encantamento que só via em livros de aventuras, daqueles com grandes heróis de capa e espada. Esta manhã admirei o espaço envolvente - muito diferente, e distante, da minha praia -, e agora o que vejo são verdes espécimes, cortadas, na maioria das vezes, sem nenhum pudor. Escalvadas por completo, tendo a nu as suas fragilidades. Há um lago também, pouco cristalino e trôpego em imagens, se não fosse um pato ou um ganso cortarem as águas de vez em quando, imaginar-se-ia por ali