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Mensagens

A mostrar mensagens de fevereiro, 2020

Até os Muros se Tornarem Livres

Recentemente ocorreram as eleições concelhias do Partido Socialista. Fui integrante da Lista B, liderada pela jurista (e ex-advogada) Isabel Alves Pinto. Antes da campanha ter início, em momento de alto debate político com a candidata, veio-me à memória a extraordinária história do Pequeno Príncipe, originando em mim, de imediato, a frase que, com o assentimento da equipa, seria o ribombar de toda a lide que nos aguardava: “Até os Muros se Tornarem Livres”. Os elementos da Lista adversária, como não prestaram atenção naquilo que estava intrínseco à mensagem (provavelmente por nunca terem lido “O Pequeno Príncipe”), ofenderam-se barbaramente, anunciando, de porta em porta (para a militância), que a nossa Lista B queria DESTRUIR o Partido Socialista. Para esses camaradas, tal como o afirmaram, “Até os Muros se Tornarem Livres” significava destruir. Conclusão simplista e longínqua da verdade ! É a falta de cultura que nos leva a precipitar para este tipo de ilações.

Uma intensa noite de luar

Estávamos em maio de 1975. Em chão lusitano havia, ainda, incómodos pidescos, medos enrustidos, palavras arrevesadas, olhares desconfiados. Qualquer um poderia ser um bufo, com o seu palavreado tosco, dentes arreganhados e pensamentos vazios. Seres insignificantes e mesquinhos, usurpadores de vidas e de mentalidades. Nadas de um país que, felizmente, já não existe. Apesar de andarem por aí pequenos filhotes, “paridos por cobras criadas”, sempre com olhares vesgos e tentativas de opressão. Analfabetos de razão. Naquele mês em epígrafe vi Óbidos pela primeira vez, e conheci familiares do ramo paterno. O momento solene daquela minha nova fase da vida ocorreu numa excelsa noite, em A-da-Gorda, sentado num rústico banco de madeira, tendo ao meu lado a minha bisavó Clementina Ferreira (1890-1977), prostrada confortavelmente numa cadeira de balanço, e com um lindo gato amarelo e branco no colo. O silêncio era sublime, pois, todos os familiares haviam saído, para uma caminhada

Dos Mistérios e Sagrações na intimidade do Castelo

Sopram-me aos ouvidos ventos de telúricas passagens. São cânticos entoados por velhas virgens ressabiadas, nervosas, com o facto de nunca as terem mimado entre ilusões. Desde séculos muito remotos que aquelas terras repetem ecos formidáveis. Sendo, inclusive, coscuvilhice entre as pedras que formaram os primeiros tempos, toda uma história de batalhas ensandecidas, pontuadas por misérias humanas e violentas dores de amores. Um misto do Mal e do Bem, na mais íntima das artes dos sofrimentos e das tentações. As bestas e o trabuco (uma arma de cerco, semelhante a uma catapulta), assim que surgiram, passaram a ser constantes para a defesa de toda essa região. Óbidos era apenas um amontoado de pedras; Verdes pastagens - onde desavisados animais perambulavam sem licença pedirem, tal era o à vontade com que se locomoviam -; E um soberbo manancial de água. Com o trotar das idades, seria, futuramente, instalada nas cercanias toda uma herança romana, muçulmana e cristã: Nú

Da Capela do Espírito Santo à Igreja da Misericórdia

A Igreja da Misericórdia, em Óbidos, considerada a primeira obra de arte desse ciclo arquitetónico em Portugal, foi fundada em 1511 pela Rainha D. Leonor de Lencastre (1458-1525), no mesmo edifício onde estava instalada a Capela do Espírito Santo, de estilo Manuelino, e que incorporava o Gótico Tardio com componentes Renascentistas. Em 1580, iniciam-se as obras que, de modo determinante, dariam àquela Igreja um precursor cunho Barroco (no resto da Europa, onde imperava o sistema político Absolutista, esse importante período tem início, somente, por volta de 1600). Essa empreitada é dada por concluída aquando da instalação, em 1596, do púlpito em pedra lavrada, ornamentado por volutas e cartelas, ostentando na base um singular urnário para arrecadação de donativos. Na segunda década do século XVII, por volta do final de 1622, necessitando de distintos reparos, foi encerrada à visitação pública. Sendo, nessa ocasião, agraciada com diversas modificações de vulto, especialm

Caminhos Romanos

A melhor construção da engenharia da Antiguidade em Portugal é, sem sombra de dúvida, a rede viária romana. Os percursos conhecidos até ao momento, embora, na sua maioria, ainda sombreados de incertezas, mostram-nos que os romanos sabiam muito bem qual a importância de unificar todo o território através daquele tipo de vereda. Para um conhecimento mais aprofundado, acerca das vias romanas na Península Ibérica, convém “passar os olhos” pelo Itinerário de Antonino, singular assentamento das estações e distâncias existentes ao longo de inúmeras estradas do Império Romano. Este documento possui uma sólida base e, segundo consta, iniciada em estudos oficiais da época de Júlio César (100 a. C – 44 a. C), com, inclusive, uma interessante continuação no período de Octavianus Augustus (63 a. C – 14). As vias romanas, uma infraestrutura material essencial para a subsistência e expansão do Império Romano, tiveram o seu início por volta do ano 300 a. C., sendo um meio muito eficaz