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Mensagens

A mostrar mensagens de 2013

As polainas do Senhor Pierre

Quando desci para comprar o jornal, o Quartier Latin estava ainda embaciado, com aquele jeito outonal que nos faz desejar mais algumas horas de bom sono.   Minutos depois, ao estender a mão para pagar o exemplar do Le Figaro , dei por mim a admirar as polainas do Senhor Pierre. De imediato, fiquei na dúvida se o que ficara perdido pelos séculos XVIII e XIX seria o bom gosto do meu vizinho ou o meu olhar.   Ali estavam elas, de couro, com o objetivo de proteger os sapatos do cavalheiro, belas, remetendo a imaginação para os romances e os poemas que brotaram na Belle Èpoque , um período delimitado por intensas evoluções culturais que se expressaram em modernos processos de refletir e nutrir o dia-a-dia, tanto em França quanto no Brasil. Uma época áurea, constelada, em estética, em inovação, em talento literário. Um período em que a mente pervagava pelas páginas de Henri Murger, Baudelaire, Balzac, Anatole France, Émile Zola, Verlaine, Mallarmé, Oscar Wilde, Rimbaud,

Hermínio Maçãs: O Idealista Erudito

Em março de 1974, um homem de porte atlético, galantemente vestido com uma impecável farda branca, abraça-me à minha chegada ao aeroporto de Luanda, Angola.   O mesmo homem que nove anos antes fora testemunha do meu batizado, e eu, pequeno e inconsciente rebento, naquele mesmo dia, o fui do seu casamento, em Santos, Brasil.   Quando, na terra de José Malhoa, às 10:15 horas, do dia 18 de setembro de 2013, o coração desse homem decide encerrar a sua jornada na Terra, termina também ali o percurso de uma vida repleta de Honestidade, Idealismo e Perdão.   Hermínio Maçãs foi um Puro! Todo o seu percurso, nos campos profissional e pessoal foi recheado de loas à vida e de ajuda ao próximo.   Formado em Filosofia, em 1958, aquele jovem seminarista aproveitara bem todo o seu trajeto estudantil na adolescência, dedicando-se também à Música Erudita e ao Latim. Assim, quando entra na Faculdade de Direito de Lisboa no ano de 1961 era já um rapaz respeitado e admirado pel

O cachimbo

A manhã começa serena neste meu tugúrio secreto do Quartier Latin. A sensação de imortalidade da alma surge a par do desejo de perceber um pouco mais da razão de existir. Por isso o anseio de paz e silêncio. Por isso a necessidade de pensar e refletir. Por isso o querer compreender o Ser, enquanto se desenvolve o Estar. Sento-me diante do vidro baço da janela, escutando Deus, encarnado em homem, através da ária So oft ich meine Tobackspfeife , o que me desperta a vontade de reencontrar-me com o meu velho Calabash . Encontro-o em repouso de semanas e, após alguns minutos deixo-o pronto para o deleite. O tabaco a ser utilizado deve ser sempre aquele cuja composição inclua uma mistura proveniente de quatro continentes, a sua textura, coloração e contraste, devem ser únicos e, para sabermos se o que possuímos está nesse patamar, usamos o olfato, aprimorado depois de anos de habituação, para concluirmos e decidirmos sobre qual saborear. Convém termos em casa três tipos de tabaco,

DIREITOS DE AUTOR

  Aviso aos mais incautos: Todos os textos de minha autoria estão protegidos pelas respetivas leis do Brasil e de Portugal. Quaisquer cópias, parciais ou integrais, e/ou reprodução de textos meus em outros meios eletrónicos e/ou impressos, só podem ocorrer se forem previamente autorizadas por mim. As citações, por ética, devem ser acompanhadas de referências bibliográficas completas.   Desde já, agradeço "ao espertinho" que tentou plagiar-me. Encontramo-nos na barra de um tribunal.   Agradeço, também, a compreensão de todos os amigos/leitores e, por favor, peço que não levem a mal esta mensagem, pois, naturalmente, não é dirigida a vós.   Com os meus melhores cumprimentos,   Rui Calisto

Elegância no Quartier Latin

  Nesta manhã deliciosamente quente, Natália, a doce e elegante advogada e estilista, proprietária deste blogue de moda, toca à campainha do amplo apartamento, encravado no Quartier Latin, em Paris. É um alvoroço. Todos se manifestam loucamente e, entre beijos e abraços, anunciam as saudades, reciprocamente atiradas ao ar abafado que se faz sentir. O rio Sena, testemunha muitas vezes secular, observa à distância, o movimento que as figuras apresentam entre janelas imensas. Os artistas e estudantes nas imediações não esticam pescoços, permanecendo cegos das cenas que se reproduzem ali. Se o fizessem veriam uma mulher deslumbrante a flanar levemente por toda a sala, pousando de janela em janela, analisando do alto de suas belas pernas toda a vida deste bairro boémio e sonhador. Quando os seus olhos azul-céu vislumbram a Sorbonne, a vetusta Universidade fundada no século XII, algumas lágrimas caem, cada uma mergulha numa profundidade medieval, banhada em latim puro e mei

José Saramago - As Intermitências da Vida

Foi com muita alegria que no dia 21 de junho, às 21 horas, apresentei, na Junta de Freguesia de Nossa Senhora do Pópulo , nas Caldas da Rainha, a convite de Maria Teresa Serrenho, o meu ensaio sobre a obra literária de José Saramago. Esse livro fora lançado em 2010, na Casa Fernando Pessoa em Lisboa, com a mesa de honra composta pelos distintos: Ruy de Carvalho, Annabela Rita (autora do prefácio) e Paulo Mira Coelho, e não ocorrera ainda em solo caldense devido ao excesso de apresentações nas mais diversas livrarias das mais variadas cidades de Portugal, incluindo as das duas redes mais conhecidas. Em Caldas da Rainha, a sessão contou com a moderação do Professor Doutor Amílcar Couvaneiro, cujas palavras sensibilizaram-me profundamente, e a plateia, estava formada pela fina flor da cultura local, o que muito me honrou. Por mais de uma hora pude dissertar sobre a obra literária do primeiro Nobel de Literatura em Língua Portuguesa, por mais de uma hora pude ouvir com atençã

Apresentação literária

Amigos. É hoje, às 21 horas, na sede da Junta de Freguesia de Nossa Senhora do Pópulo, em Caldas da Rainha, o "bate-papo" em torno deste livro, que foi lançado em 2010 e apresentado, posteriormente, em mais de 400 locais (livrarias, bibliotecas, fundações, museus etc.), de norte a sul do país. Gostaria de os ver por lá. Cumprimentos.

José Rui Faria de Abreu

  Existem amigos que, quando partem para os confins do Desconhecido, nos deixam uma lacuna na alma, difícil de preencher. Foi o caso do Faria de Abreu. O primeiro contacto que tive com ele foi em Coimbra, no ano de 2001, quando fui obrigado a levar o meu pai, em consulta oftalmológica, de urgência. Após aquele dia, travamos uma salutar amizade, com vários telefonemas em diversos períodos nos anos que se seguiram, e até inúmeras visitas aquando das minhas várias passagens pela Terra dos Estudantes. Os colegas diziam que ele era o melhor oftalmologista de Portugal, a Universidade de Coimbra tecia-lhe elogios e louvores, os pacientes – o meu pai incluído – diziam que ele era um médico respeitador e dedicado. Eu digo, simplesmente, que ele era uma figura humana sensível, logo, alguém que compreendia o valor da amizade. José Rui Faria de Abreu faleceu na manhã do dia 27 de novembro de 2012 no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra , aos 67 anos de idade, sen

Traços Imprecisos

Esta manhã tive uma conversa séria e objetiva com um par de calças. Fui obrigado a dizer-lhe uns quantos impropérios, coisas que nem ouso escrever aqui, pois não sei a idade das pessoas que poderão ler estes rabiscos. Confesso que não foi um diálogo nada fácil. Comecei por apontar-lhe alguns defeitos, como o de rasgar, além da conta, nos joelhos, depois da última ida à máquina de lavar. Sobre isso, ouvi uma resposta seca, do tipo “já me compraste rasgada”. E eu, sem titubear, fui obrigado a dizer-lhe que se não fosse o raio da moda que me obrigaram a meter goela abaixo, com certeza, não as compraria. Fui, imediatamente, chamado de volúvel, e de ser facilmente manipulável. Fiquei irado. Não bastava uma voz feminina a encher-me a cabeça, todos os dias, com o raio da moda, agora tenho que aturar, também, um par de calças insolente. Quando alguém começa a irritar-me, dificilmente consigo olhar com bons olhos a nossa convivência, aliás, raramente o dia-a-dia volta a ser de equilí

Sua Majestade Imperial Dom Pedro II

Existem pessoas que passam pelo planeta Terra e não deixam nenhuma marca, isso deve-se à pequenez das suas atitudes, das suas ações e dos seus pensamentos. Outras deixam algum mediano vestígio digno de recordação. E, apenas um pequeno número deixa uma mensagem intensa, forte e vibrante, que é impossível não estar sempre a citá-las como exemplo em nossas próprias vidas. Para mim, entre tantos que poderia aqui destacar positivamente, aponto o nome de Pedro de Alcântara João Carlos Leopoldo Salvador Bibiano Francisco Xavier de Paula Leocádio Miguel Gabriel Rafael Gonzaga , conhecido por todas as monarquias do mundo como D. Pedro II.   O Grande Imperador nasceu no Rio de Janeiro, no dia 2 de dezembro de 1825. Filho de Dom Pedro I ( Pedro de Alcântara Francisco António João Carlos Xavier de Paula Miguel Rafael Joaquim José Gonzaga Pascoal Cipriano Serafim de Bragança e Bourbon ) , do ramo brasileiro da Sereníssima Casa de Bragança, e da Arquiduquesa Maria Leopoldina ( C
    O meu querido amigo Ruy de Carvalho mostra-se indignado com o facto de ter recebido uma carta das Finanças a indicar que ele já não é considerado um "Artista", passando a sua categoria a simples "prestador de serviços", perdendo direitos conexos e de propriedade intelectual. Sim, devemos ficar indignados. É digno de revolta. Porém, era um cenário previsível, pois investindo na política neoliberal como se investe desde há muito, é natural que esse tipo de injustiça aconteça. E stou ao lado de Ruy de Carvalho (sempre), mas, estou também ao lado de todos os desempregados, de todos os que passam fome, de todos os que perderam as suas casas, de todos os que são obrigados a sair de Portugal, devido, única e exclusivamente ao facto de existirem governos, passados e presente, que investiram, e investem, as divisas da nação a sustentar vícios políticos e a alimentar a corrupção que se conhece. Políticos que espalham a sua soberba, a sua arrogância e o seu claro e

O que é a moda, senão aquilo que fazemos dela?

  O ato de vestir-me todos os dias é um ato de saturação mental. Não consigo compreender como alguém pode ter prazer em passar horas diante de um espelho a experimentar esta ou aquela peça. Isso enerva-me de tal modo que, sem apoio, seria capaz de rasgar tudo o que estivesse a provar. Para mim, o óbvio é olhar para o guarda-roupa e vestir-me pensando apenas no básico: uma boa combinação de cores. Sempre primando pela discrição. O ser discreto é fundamental para não ser alvo de olhares menos bons. Creio que, se desejamos ser “espampanantes” no vestir, devemos fazê-lo no Carnaval. Período do ano em que podemos passar por “pessoas divertidas”. Quer dizer… por favor, não me interpretem mal, afinal, garanto-vos que sou uma pessoa divertida, mas creio que isso só se percebe num jantar, rodeado daqueles que amo e, naturalmente, com um tinto de qualidade a “molhar a goela”. Lembro-me, com uma certa saudade, das calças “boca-de-sino” dos anos setenta no, logo longínquo, século XX

Habemus Papam

Não é um devoto que vos escreve. Nunca fui devoto de nenhuma religião. Admiro profundamente uma série de homens e mulheres que dedicaram a sua vida a grandes causas, especialmente aquelas que podem mudar o coração do ser humano, para melhor. Não trato como santos aqueles que para mim apenas fazem o que todo o indivíduo deveria fazer: distribuir caridade, bondade e fraternidade. Não são santos, mas são pessoas que merecem todo o meu respeito e admiração. Francisco de Assis é um deles, Jesus Cristo outro e, se deixar a mente procurar nas lembranças, creio que posso vos dar uma centena de nomes, tanto ocidentais quanto orientais. Verdadeiros espécimes que a Sabedoria e a Razão plantaram em nosso castigado planeta. Deus, para mim, é Sabedoria e Razão. Nem homem, nem mulher. No dia do meu nascimento, a minha mãe ajoelhou-se na Capela Santo António, na Sociedade Portuguesa de Beneficência , em Santos, e pediu por um bom parto. Quinze dias depois, fui batizado na Paróquia I