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A mostrar mensagens de 2021

Ano novo, velhos hábitos

  Durante décadas pairou sobre a Terra um pensamento reconfortante, o de que, realmente, os novos anos que se aproximavam poderiam trazer à humanidade muita alegria, saúde e paz. Balelas insonsas disparadas por bocas pueris. O ser humano – e ficou claríssimo com o surgimento das redes sociais – odeia-se. Não existindo, portanto, a mínima hipótese de um alvorecer pacífico a cada manhã. A ganância e a inveja foram, no passado, os pratos a servir. E nada mais do que isso existirá, futuramente, nas comunidades a que pertencemos. Os valores que deveriam nortear o pensamento humano estão muito distantes de uma realidade sólida e palpável. O desejo de ser bondoso, que atravessa a todos, só se mantém em alguns, pouquíssimos, seres. O que é perfeitamente visível naquilo que se publica na Internet e o que se vê nas ações do dia-a-dia.   Albert Einstein (1879-1955), no seu extraordinário “Como vejo o mundo”, publicado no já distante ano de 1930, diz-nos: “Os ideais que iluminaram o meu ca

A praia da minha infância

É de uma extensão absurdamente bela, com palmeiras, amendoeiras e outras espécies arbóreas a estenderem-se por 218.800m2. Entre a magnificência da natureza repousam estátuas, hermas e bustos das mais significativas personalidades. Nos bem cuidados canteiros saltam-nos à vista as mais diversas castas de inenarráveis exemplares florícias que dão ao imenso jardim um colorido estonteante, inefavelmente estético. Caminhar por aquelas alamedas; brincar entre alfobres; subir ao leão (criação de Sigismundo Fernandes, instalado em 10 de outubro de 1940) e ao jaguar (executado pelos alunos do Instituto D. Escholástica Rosa, na sua Oficina de Fundição Artística), - ambos em betão e pintados de branco - para se deixar fotografar, é um delicioso entretenimento; sentar em um dos inúmeros bancos e ver a passagem dos navios de alto calado, a caminho da entrada do porto, é outro. É de destacar que esses são os maiores jardins frontais de praia do mundo, abrangendo sete bairros (José Menino, Pompeia

Uma polêmica sem sabor

  Recentemente publiquei dois artigos que foram baseados num excelente texto do historiador, investigador e médico Dr. Duílio Crispim Farina, de saudosa lembrança. Esse abalizado cultor das belas-letras, com a sua verve tão peculiar e repleta de elegância, aponta para algumas obras de arte que existiram em três concelhos portugueses, e que, por razões que se desconhece, deixaram de estar visíveis ao público. O venerável doutor, na publicação “Alguns apontamentos sobre monumentos portugueses em Caldas da Rainha, Coimbra e Lisboa” refere “a existência de uma estátua em lioz, em homenagem a Eça de Queirós, no Parque Dom Carlos I, em Caldas da Rainha, em contraponto com outra, do mesmo autor cerâmico, porém, de gesso, e que esteve provisoriamente no mesmo parque”. Cita, também, a “estátua equestre de D. João IV, em bronze, que durante dois anos ornamentou o Parque Dom Carlos I”. Conhecendo bem a seriedade desse boníssimo médico, culto historiador e exímio investigador, dou-lhe todo o c

Obras de arte desaparecidas: Estátua Equestre de D. João IV

    D. João IV (1604-1656), 8º duque de Bragança, 5º duque de Guimarães, 3º duque de Barcelos, filho de D. Teodósio II de Bragança (1568-1630) e da Sra. D. Ana Fernández de Velasco y Téllez-Girón (1585-1607), casado, no ano de 1633, com a Sra. D. Luísa Maria Francisca de Gusmão e Sandoval (1613-1666), da Casa espanhola de Medina-Sidónia, foi aclamado como o 22º Rei de Portugal e Algarves no dia 15 de dezembro de 1640. Cognominado “O Restaurador” - pois foi ele que restabeleceu a Monarquia portuguesa, depois de 60 anos de domínio espanhol (Guerra da Aclamação ou da Restauração) – foi um estratega militar e um meticuloso diplomata. No ano de 1645 despendeu uma jornada a Caldas da Rainha, Óbidos, Peniche, Alcobaça e Nazaré. Em todas as localidades foi muito aclamado, tendo as populações saído à rua e lançado loas festivas à sua passagem. Junto aos caldenses permaneceu dois dias, 27 e 28 de setembro, aí pernoitando no mais extremo conforto. Segundo rezam as crónicas do tempo passad

Obras de arte desaparecidas: Estátua de Eça de Queirós

    Em tempos existiu, no Parque D. Carlos I, em Caldas da Rainha, um monumento em homenagem ao grande romancista português cujo nome segue em epígrafe. A peça encontrava-se nas proximidades do Pavilhão Rainha D. Leonor (Casa dos Barcos) e, neste momento, não há santo que a encontre. Tratando-se de um busto, uma herma, um quadro, até compreenderia que algum “amigo do alheio” tivesse surripiado a peça, para depois “passá-la nos cobres”, mas um monumento com aquelas medidas não poderia ser levado às costas. O que me faz crer que o mesmo foi, em tempos, retirado pela autarquia, ou por outro órgão público. Acerca do cadastro da peça: Existe um registo fotográfico (um cartão-postal da década de 50, do século XX), porém, não há nenhuma ficha de inventário, rúbrica legível, auto de colocação e de retirada, e ato de depósito em outro local, o que pode tornar praticamente impossível a tentativa de a localizar. Aguardo (sem paciência nenhuma) que a nova vereadora da Cultura de Caldas da

Folguedos pueris

  Neste século XXI, os jogos tradicionais - praticados por crianças de todo o mundo até meados da centúria anterior - sobrevivem apenas na memória de quem com eles se divertiu. Foi o tempo em que jogar às escondidas, à cabra-cega, à barra do lenço, ao lá-vai-alho, ao elástico, ao berlinde, à cama-de-gato, ao espeta, aos soldados de plástico monocromáticos, ao macaquinho do chinês, à amarelinha, ao quente ou frio, ao saltar à corda, à macaca, à corrida de sacos, às cadeiras, ao gato-e-rato, às palmas das mãos (com a respetiva cantoria), aos jogos com bola, etc., era “o pão nosso de cada dia”. Brincar era, para todos, uma necessidade espantosa, com sol ou chuva. Juntar os grupos de amigos e dar asas à imaginação fortaleceu gerações, tornando-nos “super-qualquer-coisa”. As grandes corridas com carrinhos de rolamentos levaram muitos ao hospital. O pião, a abrir cabeças, também. Testávamos todos os limites, desde os físicos aos de segurança. A vida, para nós, era um precipício que d

Num distante verão

  Em tenra idade, conheci uma jovem oestina de longos cabelos castanho-claros, olhos cor de amêndoa, pele delicada e voz perfumada. Em poucas semanas tornámo-nos inseparáveis. Uma amizade extrema. Concreta. Pontilhada com trechos de Victor Hugo, Balzac, Eça e Machado de Assis. Devorávamos livros e discutíamo-los com fervor. Passámos a respirar o pó das bibliotecas. Mas não era só isso que fazíamos nos tempos livres. Graças à excelência do caminho-de-ferro da época, em domingos que poderiam ser pasmacentos, rebelávamo-nos e “fugíamos” para Lisboa. Passeávamos de mãos dadas, beijávamo-nos longamente à beira Tejo. E, antes do indesejado regresso, íamos ao Cinema Império, na alameda Afonso Henriques, ou ao São Jorge, na avenida da Liberdade, para assistir ao filme do momento. Os nossos olhos eram críticos a tudo, especialmente aos ridículos bigodes masculinos, às roupas mal cortadas e pouco modernas de algumas jovens senhoras, e, principalmente, às retinas que nos observavam de sos

O fado lusitano

  Muito antes de Jesus Cristo ter nascido, correu o mundo conhecido uma frase atribuída a Júlio César (100 a. C.-44 a. C.): “Há nos confins da Ibéria um povo que nem se governa nem se deixa governar”. É a sina do povo português. Mais uma vez está o país envolto numa turbulência política, igual a tantas que ilustraram o passado oscilante da nação. Não vejo em Portugal nenhum sinal de grandeza, pois a história foi contada, apenas, pelos vencedores. O que percebo (aliás, todo o planeta deduz), é que existe um povo que “não sabe muito bem a que veio”. São guerreiros? Tem dias. São unidos? Nunca. É um país rico? Seria, se não existisse tanta roubalheira (nos altos escalões do poder). É um povo de suprema Cultura? Poderia ser, se os sucessivos Governos assim o quisessem e permitissem. Os portugueses deveriam ser alvo de um minucioso estudo antropológico, pois tudo o que possuem de melhor teve origem no que possuíram de pior. Ou será que posso dizer que a razão apagou-se muito para al

Conversas de café

  Todos os dias, no intervalo da manhã, entre a escrita de um artigo para um jornal ou um trecho do capítulo do novo livro, coloco os pés na rua e faço uma pausa consoladora. Geralmente dou uma caminhada de trinta minutos, mas também posso sentar-me numa esplanada, conversar com um amigo que acabo de encontrar, ler um pouco ou, simplesmente, auscultar o entorno, tentando perceber os achaques das personagens que povoam certas regiões da cidade onde estou no momento. Sim, sintam-se observados. Há diferenças gritantes, no que toca ao assunto que cada tipo de pessoa, que frequenta aqueles recintos, aborda. Se estivermos em Londres podemos ouvir encómios à nova obra pictórica, escultórica, etc., adquirida pelo Museu Britânico, se o caso se der na capital da Áustria, inevitavelmente seremos abençoados com detalhes da recente estreia na Ópera Estatal de Viena, se for em Lisboa ou no Porto ouvimos os mais diversos assuntos, se as bocas que os proferem forem estrangeiras, porém, se forem po

Irresponsabilidade e imprudência

  Muitos de nós passam, diariamente, momentos de angústia e nervosismo, por saber que os nossos filhos correm inúmeros riscos quando se dirigem para a escola. Um dos que tenho presenciado é aquele relacionado aos condutores imprudentes e irresponsáveis que, de moto ou de carro, aproximam-se, de modo inconsciente, daqueles estabelecimentos. A alta velocidade e as estripulias (exibicionismos excessivos) são o mote para momentos de aflição declarada, por parte dos progenitores que vão deixar os filhos menores. Há que tomar providências. As autoridades devem, com a máxima urgência, coibir abusos. Nos tempos da “outra senhora” uma “chapada na tromba” resolvia de imediato esse tipo de situação. Agora, porém, como estamos todos “armados em civilizados”, convém seguir alguns padrões menos toscos, entre eles, a colocação de lombas; a pintura imediata das passadeiras (a que existe em frente ao portão da Escola Secundária Rafael Bordalo Pinheiro está em petição de miséria); quiçá a inst

O que fazer com a memória documental

  Olho de soslaio para um antigo bilhete do Teatro Pinheiro Chagas, datado de 1954, que traz no canto superior esquerdo, muito visível, o nome da Empresa Eduardo Montez, e vejo nele uma história familiar deveras enriquecedora. Aquilo que o ser humano vai deixando pelo caminho são pedaços de uma crónica por contar. A nossa gaveta da memória, com o passar dos anos, vai do transbordamento ao esquecimento, por isso urge proteger as informações adquiridas. O mesmo acontece com a história física, os “papéis”, fotografias, etc., que vamos produzindo, na correria diária, referentes aos acontecimentos (especialmente os culturais e sociais) ocorridos nas aldeias, vilas e cidades. No Brasil e nos Estados Unidos da América existem centros de preservação da reminiscência popular documental, que conservam, para deleite das gerações futuras, um aglomerado de emoções e sentimentos, experimentados/vivenciados por gerações anteriores. Caldas da Rainha deveria, também, criar um centro de memóri

Canoa socialista vai ao fundo

  Neste 2021, Caldas da Rainha assistiu ao afundanço do Partido Socialista local. Os motivos que deram origem ao descalabro são inúmeros, passo a citar apenas quatro: Uma liderança que se preocupa apenas consigo, com o seu futuro na política e com as grandes possibilidades que podem surgir para ascender social e financeiramente; Um desinteresse cabal pelo concelho e pelas pessoas aqui residentes; Uma completa falta de visão política; Um desprezo absoluto pela militância (a mesma só é acarinhada quando os jogos de manipulação interna são fundamentais). Caldas da Rainha merecia uma Oposição séria e desinteressada. O PS/Caldas era o Partido que estava melhor posicionado, porém, deixou de o ser quando as lideranças passaram a olhar apenas para o próprio umbigo. Essas chefias lembram-me os girondinos franceses (a média e a alta burguesia, interessada apenas em reformas políticas pouco profundas na sociedade, e investimentos enormes em questões que favoreciam grandemente os seus interess

Um ciclone nas Caldas da Rainha

  O 26 de setembro de 2021 ficará nos anais da história caldense como o dia do grande ciclone. Como foi noticiado em todos os quadrantes: Um furacão de grandes proporções passou pelo território, modificando o mapa político do concelho. O Movimento Vamos Mudar, ao vencer as eleições autárquicas locais terá pela frente um trabalho árduo, principalmente nas duas maiores freguesias, pois os candidatos vitoriosos não possuem nenhuma experiência política. É necessário, portanto, um tempo de adaptação, para conhecerem os assuntos que dominam o dia-a-dia daqueles órgãos e, principalmente, de tranquilidade e sagacidade para perceberem as necessidades dos seus fregueses. Neste momento, é urgente diminuir os conflitos políticos na região. É imprescindível que exista união de partes para que a qualidade de vida de cada cidadão melhore. Preocupa-me por isso, e grandemente, quem ficará com as pastas da Cultura e da Ação Social. A apreensão, no que trata à Cultura, é grande pois existem pesso

Fim de Mandato

No dia 13 de setembro de 2021 ocorreu a última reunião da Assembleia de Freguesia da União de Freguesias de Caldas da Rainha – N. S. do Pópulo, Coto e S. Gregório . Foram quatro anos de gratificante trabalho. Em junho de 2020 em assembleia do Partido Socialista das Caldas da Rainha deixei bem claro que não me recandidataria a essa União de Freguesias, e que também não estaria disponível para fazer parte de uma Lista a outro organismo autárquico. A Comissão Política (e o Secretariado) do Partido Socialista caldense, durante os meus quatro anos de mandato, não mostrou nenhum interesse por trabalhar em conjunto (a minha intenção era a de efetuar reuniões mensais com os meus camaradas, vereadores, deputados municipais e deputados de Assembleias de Freguesia, para realizar um trabalho concertado entre todas as partes, visando o aprimoramento de cada mandato, bem como, fornecendo ao próprio Partido diversos subsídios (informações) que pudessem ser uma mais-valia para a construção de um

A senhora sem nome

  Todos os dias, à mesma hora, ouço passos firmes sobre as pedras polidas da área pedonal defronte da minha casa. Como é habitual, vou à varanda e observo. Gosto de vê-la desfilar. O seu andar traz à minha memória uma época remota, um tempo carregado de sonho e fantasia. Não sei a sua idade, nem posso, por educação, preocupar-me com isso. Sei apenas que a sua presença faz-me recordar algumas pessoas queridas, que, por coincidência, foram suas amigas. Hoje não foi diferente, a boa Senhora veio e foi, assim como o passado, que caminha inevitavelmente veloz para um futuro insondado e enigmático. O vestido sóbrio, a mala discreta, o cabelo muito bem penteado, o olhar distante - talvez em busca de alguém que os anos transatos levaram, mas que imagina poder encontrar adiante, depois do final da vida terrena -, diria que, possuidor de inegável perspicácia e exímia prudência. Os seus traços são de circunspeção, certamente alinhados com o que lhe vai na alma. Lembro-me - era eu um rap

Cultura: A Independência de um povo

  Em 2024, o maior dos nomes da cultura portuguesa completará cinco séculos. Por todo esse tempo, a sua obra-maior continua a ecoar além-fronteiras, enquanto, em Portugal, o seu nome vai sendo tapado com um diáfano véu. Esse homem, fundamental para a Língua Portuguesa, carrega em si o peso de um idioma. Sem ele, tudo seria diferente, mais pobre, muito mais pobre. O seu nome, quando é pronunciado, chega como uma aurora boreal, que nos espanta e enternece. Durante os quatro anos deste mandato, tenho falado de Luís de Camões aos fregueses de N. S. do Pópulo, do Coto e de São Gregório. Tenho, também, tentado perceber que povo é este, o que quer, o que sonha, o que realiza, e, já agora, de que modo esta União de Freguesias pode ajudá-lo a ter mais esperança, mais conforto, menos solidão. Sim. SOLIDÃO! Encontrei famílias muito interessantes, umas mais, outras menos, numerosas. Em todas, por incrível que possa parecer, reside a solidão. Às vezes pensamos que o que mais desejam é o