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Mensagens

A mostrar mensagens de novembro, 2017

O Baú da Memória

Muito mais do que o baú de escritos, que mora ao lado de uma grande estante de livros, repousa em mim o cuidado pela existência da arca da minha memória. Tenho uma facilidade enorme em enumerar os livros lidos e arquivados em minha memória biológica, será isso uma capacidade da reputação declarativa ou explícita? Será uma mais-valia do meu lobo temporal medial? O que me parece é que essa aptidão, no que toca à lembrança dos livros lidos, deve estar relacionada com a reminiscência semântica, inspirada pela base do conhecimento, inflada pelo trabalho e pelo estímulo. Serão, então, os livros lidos, os tijolos que erguem o meu Baú da Memória? Estarei a construir uma fortaleza, inspirada na criatividade, excelsa extensão da minha própria condição humana? O meu mundo, plasmado em Arte, é o meu reduto criativo, livrando minh’alma dos pactos, doutrinas e preceitos da sociedade. Tenho em mim uma enunciação criadora, consequência evidente da minha autonomia. Muito mais do que o baú de escritos,

Dar asas à Imaginação

Já há algum tempo que venho dedicando muitas horas à ficção, mais exatamente aos romances, não os de capa e espada, nem os lamechas, cheios de lugares comuns e pouca intensidade. O meu caminho, enquanto romancista, passa por uma acentuada e cuidada investigação, para dar à história uma base sólida, onde as personagens e as ações possam deambular sem cair numa espécie de precipício literário. Um romance bem estruturado dá ao leitor o tálamo confortável e prazeroso que, naturalmente, o fará “entrar na história”, e apaixonar-se por ela, ou, simplesmente, por alguma personagem. Dos meus romances escritos, só um, por enquanto, está publicado, o “Espero por Ti em Luanda”. Uma parte da sua estrutura é ficcional, uma parcela das personagens são reais e todos os locais de ação existem. Deixei, em determinadas partes, a imaginação criar asas e sobrevoar o meu planeta mental, creio que correu bem. Se seguisse as ideias de Descartes ou Spinoza, não sairia da escrita concebível, tornando o romance

Siddhartha

Li Siddhartha, de Hermann Hesse (1877-1962), no ano de 1982. Comprei-o num alfarrabista do Rio de Janeiro, durante a minha primeira viagem de reconhecimento cultural da Cidade Maravilhosa. É um livro muito bem escrito - como tantos outros - por esse excelente escritor da língua alemã (curiosamente, não vejo Hesse como um romancista, creio que, devido ao impacto de sua escrita, está mais para um prosador-poeta), e foi inspirado na vida do príncipe hindu e grande líder espiritual dos povos asiáticos Siddhartha Gautama, o Buda (o Desperto ou o Iluminado). Alguns críticos rotulam o Siddhartha, de Hermann Hesse, como um livro esotérico, porém, não o vejo assim. Essa é uma classificação simplista, derivada do pouco conhecimento desses críticos, acerca da história de Buda, e de toda a mitografia asiática. Se observarmos o livro através de um óculo asiático, percebemos que a essência da história é uma mistura fabulária, biográfica e filosófica e não esotérica. Posso, portanto, arrumá-lo em min

Orson Welles

Lembro-me, perfeitamente bem, do dia da morte de Orson Welles, 10 de outubro de 1985. Estava, por pura coincidência, a ler uma crítica acerca de "Cidadão Kane" quando a notícia do seu passamento chegou aos meus ouvidos. Foi-me dada por um colega de trabalho, estávamos em São Paulo, nos camarins de um teatro, a descansar, depois de algumas horas de apuro técnico (o nosso encenador era muito exigente). Senti um certo vazio. Desprendendo-se de mim um som de desalento. Morrera um indivíduo que muito admirava. Mas, o que é a morte? No caso de Orson Welles não é nada, pelo menos para mim, que ainda continuo a admirá-lo com a mesma profundidade. As marcas que deixou no cinema são imperecíveis, inovando a estética cinematográfica, seja nos ângulos de câmara, na exploração do campo, na narrativa ou na edição e montagem. Somente quem vê, e sente, o cinema como uma das maiores expressões artísticas planetárias, consegue perceber a força e a intensidade de Orson Welles. &qu