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A mostrar mensagens de 2020

A Cultura e a Santa Casa da Misericórdia da Vila de Óbidos

  Deixo, nesta minha coluna semanal, toda a minha satisfação por saber da publicação de mais um livro importante para a salvaguarda da história da instituição em epígrafe: O seu 11º volume de Atas. Num atento trabalho de recolha e editoração, encontra-se agora à disposição do público em geral esse valioso documento que muito, com certeza, honrará as gentes obidenses. O historiador Ricardo Pereira, o provedor Carlos Orlando de Castro e Sousa Rodrigues, bem como toda a Mesa administrativa, Assembleia Geral e Conselho Fiscal, num esforço admirável, estão a trazer a lume uma riqueza ímpar, através do desenvolvimento de um projeto cultural, estabelecido na raiz mais profunda de uma Instituição, ou região. Sendo que, ao mesmo tempo, apenas deste modo pode ficar na memória coletiva de um país. Se destacarmos somente este 11º volume, reparamos que o que ali está mais em evidência é a saúde financeira da Santa Casa, que vai de uma preocupação natural (devido à debilidade estampada na do

As águas de uma cidade

  Com muita curiosidade refiz um roteiro de águas em Caldas da Rainha. Um passeio muito interessante e que me levou a analisar alguns, poucos, pontos singulares acerca do facto de essa cidade ter surgido das águas e estar a morrer sem elas. Afogada na sua própria sede. Chafarizes, bocas d’água, bebedouros, veios incrustados na terra, tudo largado à sua própria sorte. Um dia, a Rainha D. Leonor de Lencastre (1458-1525) acreditou nas riquezas curativas das águas quentes que brotavam nesses chãos, o que a levou, em futuro não muito distante, a mandar erigir uma capela e um nosocómio termal, ambos destinados à cura. Alma e corpo, razões mais do que perfeitas para o desenvolvimento do Lugar. Não foi à toa que, pelos séculos adiante, a monarquia, a nobreza e a burguesia, encantaram-se pela região. Entojos que putrificaram mentalidades. Quem com isso perdeu: O povo andrajoso e pobre que tanto necessitava daqueles santificados e curadores banhos. A mentalidade não se alterou. A decomposi

A Filosofia Aristotélica e o político atual

  Para Aristóteles (384 a. C – 322 a. C.) a política é a ciência que possui por finalidade proporcionar felicidade ao ser humano, e está dividida na Ética, e na irrepreensível organização, direção e administração das Cidades-Estado. A Ética deveria ser, segundo o próprio autor, o motor de uma engrenagem muito bem afinada, onde as pessoas fossem a razão pela qual toda a estrutura política existe. Na “Política” (dividido em oito livros), esse autor pretende examinar as estruturas governamentais, bem como os organismos existentes na sociedade, apropriados para confirmar a possibilidade de oferecer a todos os cidadãos uma vida plenamente feliz. Demandar conhecimento como meio para a atuação é o mote aristotélico para o político oferecer bem-estar geral aos seus concidadãos. A prática filosófica desse pensador regeu a intenção/ação da Europa a partir do século XII, e foi o início de um avanço espetacular no campo científico, baseado nas suas teorias, o que, em crescendo, ocasionou

Salazar nas estantes

  Como é do conhecimento público sou ideologicamente de Esquerda, porém, recentemente, um grande amigo, cujo ideal político assenta na Direita, disse-me que achava curioso o facto de, sendo eu uma pessoa com essa tendência política, possuir na minha biblioteca um volume tão grande de publicações de e sobre o Dr. António de Oliveira Salazar (1889-1970). Atualmente, especialmente pelas redes sociais, deparamo-nos com comentários francamente alienados acerca da atual conjuntura política portuguesa. É graças a esse alheamento que surgem os partidos de Extrema-Direita. Infelizmente, uma absurda quantidade de pessoas passa a identificar-se com eles, movidas que são por palavras/frases de efeito, daquelas que ecoam lindamente em ouvidos pouco atentos. Se separarmos o político do escritor, percebemos que o Dr. António de Oliveira Salazar possuía uma curiosa qualidade intelectual, que o levou a escrever textos literariamente interessantes. Esse é um dos pontos que me impele a ler a sua prod

Natal em tempo de pandemia

  Em sua origem, o Natal surgiu para celebrar o Deus Sol no solstício de inverno. Há indícios históricos de que o primeiro louvor natalício, como o conhecemos, tenha ocorrido no século II, na Turquia. Depois, no século III, a Igreja Católica passou a encorajar a conversão dos povos pagãos - então dominados pelo Império Romano - a glorificar o nascimento de Jesus, o Homem de Nazaré. No século IV estava consolidada a festividade entre os religiosos ocidentais, com a primeira comemoração em Roma no ano de 336. Já no ano 350 o Papa Júlio I (?-352) coordenou uma extenuante investigação e proclamou o dia 25 de dezembro como data-maior católica. Por estes lados, as luzes natalinas já estão acesas. O comércio colocou brilhos e luzes da época em suas montras; Uma cadeira para o bom velhinho - aquele, de barbas brancas e fato vermelho – foi instalada numa grande superfície comercial; Aguarda-se, apenas, o tilintar dos sinos, a anunciar a aproximação das renas, carregadinhas das prendas para

Cuidar da casa alheia

  Acho muito curioso o modo enérgico demonstrado por alguns caldenses e obidenses, no que trata à recente eleição para a presidência dos Estados Unidos da América. Gostaria de ver as populações, desses dois concelhos, preocupadas, isso sim, com as suas terras, com o desempenho das suas autarquias, e com a prestação da Oposição em ambas as localidades. “Com certeza, se estivesse nos “States” votaria em fulano…”, foi o que ouvimos por estes dias. Louvo a atitude, mas, pergunto: Porque não vão às urnas em território português? Porque limitam a sua atuação política a banais discussões em redes sociais? Para transformarmos um município morto num de grande produtividade, em todas as áreas, precisamos de envolvimento popular. Se nunca nos dispusermos a atuar daremos força à não-mudança. Nada é mais prejudicial à Democracia do que ajudarmos (abstendo-nos de ir às urnas) a manter um partido no poder por mandatos consecutivos. Sendo, também, muito nocivo, por razões óbvias, estimular as mai

O baú da memória

  A investigação traz-nos muitas alegrias. O prazer de uma descoberta é algo que não possui uma explicação simples, embora, quem não esteja habituado a tal, desconheça completamente esse sentimento. Temas de predileção: Tenho muitos. Pesquisa efetuada: Segundo as minhas estantes, são quilómetros. Resultado: Um local, distante de onde resido, a quem dei o singelo nome transcrito em epígrafe, adaptado, na íntegra, feito repositório/arquivo/biblioteca, ou o que mais se quiser chamar. Uma das preciosidades que envolve a investigação de um tema é a de encontrarmos documentação, sobre esse e outros motes, nos lugares mais recônditos e esquecidos do planeta, como foi o caso de saltarem-me à vista, numa singela biblioteca do Reino Unido, dois testemunhos em papel, muito curiosos. Um acerca de Óbidos, outro sobre Caldas da Rainha. Isto, numa época em que a minha inquirição era sobre a Belle Époque no Rio de Janeiro, portanto, não possuindo nenhuma relação com as temáticas descritas. A inv

Os 125 anos da Jarra Beethoven

  Há momentos em que o pensamento foge na direção da melhor cidade do mundo. Fui muito feliz no Rio de Janeiro, e espero voltar a sê-lo. Uma urbe que transpira cultura, que verte de suas artérias uma seiva abundante no que trata ao Teatro, ao Cinema, às Artes Plásticas, à Dança, à Música, etc.. Uma metrópole tão impactante que transforma, integralmente, a nossa alma, e o nosso modo de ver o planeta, com as suas nuances estético-culturais. De entre as centenas de horas que conto, muitas delas foram vividas na Cidade Maravilhosa a observar, a sentir, e a palmilhar diversos caminhos relacionados com a cultura. Posso referir, no correr da pena, inúmeras alegrias que a arte daquela urbe me proporcionou, tanto como elemento da plateia quanto como homem do palco, mas não o farei. Deixarei, apenas, a escrita resvalar para uma determinada tarde, plantada num dia muito distante, do ano de 1983: A primeira vez que vi a Jarra Beethoven, de autoria de Rafael Bordallo Pinheiro (1846-1905). Con

A Região do Oeste e o Turismo

  A Região do Oeste é composta por 12 concelhos (Alcobaça, Alenquer, Arruda dos Vinhos, Bombarral, Cadaval, Caldas da Rainha, Lourinhã, Nazaré, Óbidos, Peniche, Sobral de Monte Agraço e Torres Vedras) e cada um possui referências importantes em vários âmbitos, porém, continuam, no campo do turismo, a reger-se por uma individualidade muito forte. Se as localidades citadas sobrevalorizassem o património histórico-arquitetónico-cultural que possuem, e executassem um programa conjunto, certamente poderia existir um fluxo turístico, nacional e internacional, muito enriquecedor. O que salta à vista, quando visitamos toda a Região do Oeste, é a opulência da sua natureza. Devido à falta de sinergia entre as partes, os artistas e os agentes culturais, tentam, com os mínimos recursos que possuem, fazer o milagre da multiplicação, inventando-se a cada dia, com o intuito de mostrar ao visitante o que de melhor existe relacionado com a música, o teatro, a dança, a fotografia, a literatura, e

Um projeto arrojado para o Caldas S. C.

  Recentemente voltei a dedicar alguma atenção a um projeto, de autoria dos arquitetos Hugo Feliciano, Marco Godinho, Nuno Gonçalves e Vasco Antunes (contando com a colaboração do engenheiro Eduardo Freitas), que pode colocar o Caldas Sport Clube (fundado a 15 de maio de 1916) num patamar de excelência, em âmbito desportivo. Esse emblema usufrui, desde 1934, de um recinto para a prática do futebol, conhecido nacionalmente por “Campo da Mata”, com uma lotação que pode chegar às 13.000 pessoas. Porém, as condições gerais desse local, bem como o conforto dos seus atletas, adeptos e simpatizantes, foram sempre colocadas em segundo plano, devido, naturalmente, à escassez de verbas que um clube desta dimensão possui. Entretanto, também há poucos dias, soube que o Caldas S. C. (agora com alguma verba disponível) iniciou um somatório de ações para a requalificação do seu santuário desportivo. No entanto, pelo que consta, o projeto citado acima não foi o beneficiado. O que me entristece, de

Árvores: A necessidade da Educação Ambiental

  As redes sociais mostram-me que, de facto, muitos são os portugueses preocupados com a arborização dos seus concelhos, porém, esse monumental esforço - em reclamar acerca do corte sem nexo que ocorre de norte a sul, eliminando espécimes, na maioria das vezes raras – passa-se apenas no descanso do sofá, pois, quando deveriam fazê-lo numa Assembleia de Freguesia, ou em outro organismo “que os pudesse ouvir realmente”, já não se dispõem a concretizá-lo, neste caso “dá muito trabalho”. As árvores são essenciais para a manutenção da vida. Uma área bem arborizada torna-se equilibrada, no que respeita a oxigénio e gás carbónico, o mesmo acontece quando um concelho está relativamente bem sustentado, possuindo uma diversidade de castas espalhadas pelo seu todo. Plantar é fundamental, enquanto cortar ou abater indiscriminadamente é destrutivo para as cidades, especialmente para os seus centros nevrálgicos, devido à aglomeração de pessoas e meios de transporte. Não existe, em território

Plano de Recuperação Patrimonial

Às vezes ponho-me a pensar acerca de quais podem ser os motivos que fazem com que o centro da cidade de Caldas da Rainha seja arquitetonicamente tão feio. Se existe um Fundo de Reabilitação e Conservação Patrimonial (FRCP) - criado pelo Decreto-Lei nº 24/2009, de 21 de janeiro, e que se destina a apoiar a reabilitação e conservação do património imobiliário do Estado, um documento financeiro valioso para a materialização dos móbiles assentes no Programa de Gestão do Património Imobiliário do Estado, vaticinado no artigo 113º do Decreto-Lei nº 280/2007, de 7 de agosto e sancionado pela Resolução de Conselho de Ministros nº 162/2008, de 24 de outubro – que financia integral ou parcialmente, a fundo perdido, a recuperação, reconstrução, ampliação, adaptação, reabilitação e conservação dos imóveis que são propriedade do Estado, o que falta para que, de facto, sejam usados os instrumentos legais que permitam tratar estrutural e arquitetonicamente do que Caldas da Rainha possui de valios

“Associação Cultural e Recreativa do Alto da Pororoca”

  Estou sensibilizado por saber que Caldas da Rainha possui uma associação cultural e recreativa que preza muito pela prata da casa. É gratificante ver um punhado de nomes de artistas da terra, que, graças à bem pensada grade de programação cultural do dito grémio, conseguem apresentar-se ao público caldense. Um público deveras exigente, que vibra efusivamente ao ver os seus familiares naquele palco magnífico, coisa que em outra localidade não é possível, pois, as suas “associações culturais e recreativas” possuem agendas “repletas de nomes desconhecidos”, de que faz parte um punhado de grupos de teatro, dança, música ou ballet, cujos integrantes fazem da sua atividade, a sua profissão (os tais profissionais ). Gente que até pode elaborar uns workshops “porreiros”, onde um distraído consegue aprender algumas coisinhas interessantes, mas, que, no fim das contas, pode ser muito prejudicial pois irá embebedar os alunos de cultura e informação, duas palermices, que empatam o bom caminh

XIX Congresso Federativo do PS Leiria

  Decorreu, com o máximo cuidado e excelente organização, no recente dia 12 de setembro, o XIX Congresso Federativo do PS Leiria. Devo destacar que, na Comissão Política, pela Lista B, em nº 2 está Odete João e em nº 4 Isabel Alves Pinto, numa pauta com 70 nomes. Saliento, também, o facto de, na Mesa de Honra do Congresso ter estado a camarada Isabel Alves Pinto. O que confere à militante caldense uma posição deveras interessante, pois, como é do conhecimento da maioria dos Socialistas nas Caldas da Rainha, Isabel Alves Pinto é, devido à sua capacidade de liderança, extenso conhecimento político (desde as lides Universitárias em Coimbra, na Faculdade de Direito) e idoneidade no trabalho em prol do Bem Comum, dos Direitos Humanos e das Liberdades Adquiridas, um nome a enaltecer. As lideranças naturais percebem-se facilmente, não sendo necessário - como sói acontecer em muitas concelhias socialistas - elaborar golpes, alimentar corrupções, causticar a moral e a honestidade alheia

CCC-CR: Elefante branco?

Para que serve o Centro Cultural e de Congressos das Caldas da Rainha? O que, a princípio, se imaginava ser um polo para o desenvolvimento do setor cultural no concelho, apresenta-se como uma estrutura do mesmo calibre das existentes em pequenas vilas. O que nos faz pensar se o dinheiro ali investido não estaria melhor na benfeitoria das estradas do concelho. E, o que faz uma pessoa que defende a cultura, desde tempos imemoriais, pensar/dizer/escrever algo assim? Vamos tentar reflexionar: Portugal possui um número razoável de equipamentos idênticos ao Centro Cultural e de Congressos das Caldas da Rainha – porém, este ostenta o segundo maior palco do país – mas difere no seguinte: esses estabelecimentos, com o passar dos anos, investiram na criação de companhias teatrais, corpos de baile, orquestras, etc., originando um franco desenvolvimento artístico nas suas regiões. E o CCC, o que fez? Absolutamente nada. Não há, dentro aquele edifício, nenhum organismo que embrionariament

Fonoteca Municipal das Caldas da Rainha

Existem memórias que nunca deveríamos perder, uma delas, a meu ver, está relacionada com os discos de vinil que alguns de nós ainda possuem. Não há no concelho um grande especialista em discos nesse suporte, o que temos são curiosos, que despejam uma série de informações mal-amanhadas, e que conseguem, talvez devido ao volume com que propagam as barbáries, fazer-se ouvir. Baseando-me em conversas com alguns amigos de Lisboa, autoridades absolutas no que trata ao vinil, lembrei-me de escrever acerca dessa paixão, e das Caldas da Rainha. Decidi fazê-lo, também, para tentar sensibilizar os autarcas para a criação de uma Fonoteca Municipal, um local onde poderíamos arquivar, tratar e disponibilizar para audições, diversas coleções que jazem espalhadas por inúmeras coleções e que, antes de serem atiradas ao lixo, após a morte dos seus proprietários, pudessem ser mais uma riqueza cultural do concelho. Zero Freitas, o conhecido empresário brasileiro José Roberto Alves Freitas (1955),