Avançar para o conteúdo principal

O psicodrama da inveja

 


O sol não brilha do mesmo modo na mente de todos os seres humanos, alguns possuem grandes nuvens negras a pairar sobre as suas frágeis consciências. Como resultado, libertam uma avassaladora onda de inveja, que levanta as pedras da calçada. Somente os fortes resistem, e não tropeçam nos pedregulhos.

A inveja é parte integrante do sistema psíquico dos pobres mortais que somos, sem dúvida, porém, há os que trabalham mentalmente de um modo organizado, e, como se ocupam positivamente na construção da sua vida, não possuem tempo para se atormentar com as conquistas alheias.

Alguns estudiosos do tema assumem que a inveja é um dos maiores tabus da humanidade. Se for verdade, isso significa que a maioria das pessoas pouco tem feito pela sua própria vida.

Essa zelotipia terrível motiva crimes, além de minar assustadoramente o núcleo da maioria dos partidos políticos. Neste caso específico causa verdadeiros estragos. É exatamente no cerne da instituição partidária que a mesma não deveria ocorrer, pois, todo aquele que se envolve em questões do foro político deveria fazê-lo apenas para corroborar com o crescimento e a evolução da sua aldeia, vila ou cidade, sem estar de olho comprido no “tachinho”, no “lobby”. Para agravar o que ocorre partidariamente, temos meia dúzia de elementos malformados, e manipuladores, que, com receio de perderem “a boquinha”, a chance de ver a sua “focinheira” num cartaz autárquico, ou o seu nome numa Lista para uma Junta de Freguesia, Assembleia ou Câmara Municipal, são capazes de andar “de casa em casa” a difamar e a caluniar aqueles que, pelas valências que possuem, se destacam.

A inveja provoca traição. Outro ponto desagradável no seio político. A pessoa que não possua uma excelente formação, inevitavelmente passa a acreditar em todas as parvoíces que o invejoso dominador inventa, e, como consequência, por “dá cá aquela palha”, não hesita em trair os que lhe são próximos. A traição mostra, inclusive, falta de caráter.

A inveja é um sentimento tenebroso, injustificável e medíocre, habitante feroz do coração dos que nada produzem e nada representam para a sociedade, portanto, não trazendo nenhum benefício ao planeta.

Aristóteles (384 – 322 a. C.), na Retórica, diz-nos que: “Praticamente, tudo o que traz felicidade estimula e inveja”. O que significa que a maioria das pessoas não consegue – mesmo – lidar com o sucesso alheio.

Na política, a inveja sobressai quando o outro percebe que - devido à nossa forte presença social, ao nosso conhecimento e à demonstração da nossa nata qualidade de liderar - somos muito superiores a ele.

É curioso: O invejoso – que não colabora com o desenvolvimento e o crescimento humano, conduzindo à inércia tudo ao seu redor - prefere aniquilar, enquanto o ciumento deseja mandar. Em qualquer dos casos, o esforço desse tipo de gente é no sentido de tentar trazer o outro para o seu baixo nível, um local triste e vazio, distante das emoções e das verdadeiras alegrias.

O psiquiatra José Ângelo Gaiarsa (1920-2010) afirmava que “o caminho que a inveja pode tomar é o da apelação para a calúnia ou para a sabotagem indireta, tudo isso para diminuir as qualidades da pessoa visada. O mexerico e a intriga são, então, utilizados como meios de condução social, o que revela o invejoso e mostra-nos quão estúpido é o que escuta, e aceita, sem ouvir o outro lado.”.

Arthur Schopenhauer (1788-1860) dizia que: “Ninguém é realmente digno de inveja, e tantos são dignos de lástima!”.

Todos estão certos, mas não podemos esquecer-nos de que o invejoso é inseguro, ingrato, possui ínfima autoestima e uma imensa insatisfação pessoal. A história se encarregará de o colocar no vão da escada.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Um jardim para Carolina

Revolucionária e doce. O que mais posso dizer de ti, minha querida Carolina? Creio que poucos extravasaram tão bem, tão literariamente, tão poeticamente, as suas apoquentações políticas. Vivias num estado febricitante de transbordamento emocional, que o digam os teus textos – aflitos – sobre as questões sociais ou, no mais puro dos devaneios sentimentais, as tuas observações sobre a música que te apaixonava. O teu perene estado de busca pelo – quase – inalcançável, fazia-nos compreender como pode ser importante a fortaleza de uma alma que não se verga a modismos ou a chamamentos fúteis vindos de seres pequenos. E por falar em alma, a tua era maior do que o teu corpo, por isso vivias a plenitude da insatisfação contínua. Esse espírito, um bom daemon , um excelente génio, que para os antigos gregos nada mais era do que a Eudaimonia , que tanto os carregava de felicidade, permitindo-lhes viver em harmonia com a natureza. Lembro-me de uma conversa ligeira, onde alinhava

Obrigado!

  Depois de, aproximadamente, seis anos de colaboração com o Jornal das Caldas, chegou o momento de uma mudança. Um autor que não se movimenta acaba por cair em lugares-comuns. O que não é bom para a saúde literária da própria criação. Repentinamente, após um telefonema recebido, vi-me impelido a aceitar um dos convites que tenho arrecadado ao longo do meu percurso. Em busca do melhor, o ser humano não pode, nem deve, estagnar. Avante, pois para a frente é o caminho, como se costuma dizer, já de modo tão gasto. Sim, estou de saída. Deixo para trás uma equipa de bons profissionais. Agradeço, a cada um, pelos anos de convívio e camaradagem. Os meus leitores não deverão sentir falta. Mas se por acaso isso vier a acontecer, brevemente, através das minhas redes sociais, saberão em que folha jornalística estarei. Por enquanto reservo-me à discrição, pois há detalhes que ainda estão a ser ultimados. A responsabilidade de quem escreve num jornal é enorme, especialmente quando se pr

O Declínio das Fábulas - I

  Em poucos dias, o primeiro volume do meu novo livro “O Declínio das Fábulas” chegará a todas as livrarias portuguesas. Esse tomo reúne uma série de temas que reverberam o meu pensamento nas áreas da cultura, da arquitetura, da mobilidade, etc. para uma cidade como Caldas da Rainha. O prefácio é de autoria da jornalista Joana Cavaco que, com uma sensibilidade impressionante, timbra, assim, o que tem constituído o trabalho deste que vos escreve. Nele, há trechos que me comoveram francamente. Outros são mais técnicos, contudo exteriorizam um imenso conhecimento daquilo que venho produzindo, por exemplo: “É essa mesma cidade ideal a que, pelo seu prolífico trabalho, tem procurado erguer, nos vários locais por onde tem passado, seja a nível cultural ou político. Autor de extensa obra, que inclui mais de sessenta livros (a maior parte por publicar) e um sem fim de artigos publicados em jornais portugueses e brasileiros, revistas de institutos científicos e centros de estudos, entre o