Avançar para o conteúdo principal

Mécia Rodrigues


Hoje, faz exatamente dois meses que a cronista e contista Mécia Rodrigues morreu. Como seria do seu agrado, abri um bom vinho tinto e brindei à nossa velha amizade, iniciada no já distante ano de 1983.
 
Tantas semanas passadas e deixei de ouvir o eco das notícias a seu respeito. Ninguém, de tantos que com ela confraternizaram, teceu mais um comentário, ou escreveu uma linha a seu respeito. Nem os seus amigos, nem os seus advogados, nem sequer os curiosos que, através de uma rede social, foram pintalgando frases feitas a respeito da artista, no dia em que esta se foi.
As suas cinzas, o seu acervo literário, o de seu pai, os seus originais, as suas publicações, o seu arquivo, enfim: a sua vida foi deixada de lado. Mécia Rodrigues não deixou herdeiros que façam cumprir as suas vontades.
 
De minha parte, venho, calma e cuidadosamente, a escrever os prefácios e a preparar os volumes que deixou sob minha guarda, para, num dia de felicidade, os publicar, e dar a conhecer a muitos, várias de suas facetas literárias.
 
No dia seguinte à sua morte, algumas pessoas perguntaram-me o que seria do seu blogue. Quem poderia assumir a responsabilidade pela sua continuação. Respondi que aquele veículo de comunicação morrera com a autora. Muitos ficaram escandalizados. Mais chocados ficaram, depois de ouvirem a minha frase seguinte: A Mécia Rodrigues morreu para todos vós. Com o passar dos dias a verdade de um abandono pré-anunciado vai ser realidade. Dito e feito. A Mécia Rodrigues morreu para todos. Morreu porque não deixou fortuna. Morreu porque os livros que publicou em vida não se transformaram em diamantes. Morreu porque a alma humana só é sensível a quem a compra.
O ser humano é assim: pequeno, mesquinho e egoísta. Incapaz de mobilizar-se por outro. A não ser que anteveja lucro. O ser humano, numa só palavra, é simplesmente: Medíocre!

Comentários

Anónimo disse…
Há veículos de utilização, que de facto morrem se não tiveram sido importantes .... não é este caso. Mas já referir, o nome da pessoa em causa, significa devolvê-la para junto daqueles que com ela pricaram, e de quem foram Amigos. E o ser Humano, não é "Medíocre", ao contrário, é a definição de vida. A vida habita a Humanidade, aí existem seres Humanos! Todos eles, são maravilhosos.

Mensagens populares deste blogue

José Rui Faria de Abreu

  Existem amigos que, quando partem para os confins do Desconhecido, nos deixam uma lacuna na alma, difícil de preencher. Foi o caso do Faria de Abreu. O primeiro contacto que tive com ele foi em Coimbra, no ano de 2001, quando fui obrigado a levar o meu pai, em consulta oftalmológica, de urgência. Após aquele dia, travamos uma salutar amizade, com vários telefonemas em diversos períodos nos anos que se seguiram, e até inúmeras visitas aquando das minhas várias passagens pela Terra dos Estudantes. Os colegas diziam que ele era o melhor oftalmologista de Portugal, a Universidade de Coimbra tecia-lhe elogios e louvores, os pacientes – o meu pai incluído – diziam que ele era um médico respeitador e dedicado. Eu digo, simplesmente, que ele era uma figura humana sensível, logo, alguém que compreendia o valor da amizade. José Rui Faria de Abreu faleceu na manhã do dia 27 de novembro de 2012 no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra , aos 67 anos de idade,...

Arena Romana nas Caldas da Rainha

Toda a vez que ouço um aficionado das touradas destilar frases de efeito, anunciando que “aquilo” é cultura, ponho-me a pensar num excelente projeto que poder-se-ia executar nas Caldas da Rainha: Construir-se uma Arena Romana. Naturalmente seria um plano muito interessante do ponto de vista “cultural”. As Arenas Romanas estão na história devido à inexorável caçada suportada pelos cristãos primitivos. Praticamente a mesma coisa que acontece com os touros numa praça. São muito conhecidas as crónicas sobre as catervas de animais impetuosos que eram lançados sobre os fiéis indefesos, algo muito semelhante com o que se vê nas liças tauromáquicas. Um touro a mais ou a menos para os aficionados é, praticamente, igual ao sentimento romano: Um cristão a mais ou a menos pouco importa. O que vale é a festa; a boa disposição de quem está nas arquibancadas; as fortunas envolvidas, representando lucros fenomenais para alguns; a bandinha de música, orientada por um maestro bêbad...

A arte de Paulo Autran

  Um dos amigos de quem sinto mais saudades é esse Senhor, cujo nome está em epígrafe. O seu percurso profissional mistura-se com a história do teatro brasileiro. O seu talento ombreia com o das divindades dos palcos, Leopoldo Fróes (1882-1932) e Laurence Olivier (1907-1989). A sua postura era ímpar, a de um cavalheiro, praticamente um aristocrata. Estava com 25 anos de idade quando o conheci, um ser ainda imberbe. Ele, com simpáticos 68. Gigante há muito. Respeitado, cultuado, um exemplo. Era carioca, nasceu na cidade do Rio de Janeiro, numa quinta-feira, 7 de setembro de 1922. Muito influenciado pelo pai, Walter Autran (1891-1960), formou-se na Faculdade de Direiro do Largo de São Francisco, em 1945, desejando abraçar carreira na diplomacia. Não almejava ser ator, porém estreou como amador, em junho de 1947, no Teatro Municipal de São Paulo, com a peça “Esquina Perigosa”, de autoria de John Boynton Priestley (1894-1984), com direção de Silveira Sampaio (1914-1964). Infl...