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Caldas da Rainha: Mote de tertúlia política em jantar de campanha


Nesta recente sexta-feira, 10 de maio, durante o jantar de apoio à candidatura de Pedro Marques às eleições europeias, na Quinta do Paul, em Ortigosa (Leiria), a noite foi passada entre amigos, em amena cavaqueira, onde o ponto alto, sem dúvida, foi o discurso do nosso primeiro-ministro, Dr. António Costa.

Na mesa onde estive, entre convivas de diversos quadrantes do Distrito de Leiria, naturalmente, não poderiam faltar os atentos comentários acerca do concelho caldense dominado pelo PSD. Onde este partido é, como todos sabemos, um baluarte difícil de derrubar, em parte por causa da apatia política da maioria da população, mas, também, devido à excelente qualidade do óleo utilizado para untar o maquinismo laranja. Enquanto isso, a Esquerda local dorme, devendo acordar a escassos quatro meses das próximas autárquicas. Provavelmente, trazendo no bojo meia dúzia de frases feitas e os mesmos rostos, já cansados de desfilar desbotadas bandeiras.

Todos, naquela mesa, entre um copo e um acepipe, dissertaram largamente sobre “a necessária mudança”, com o surgimento de “novos líderes à Esquerda”. Coisa difícil de acontecer, em minha modesta opinião, pois, no concelho em discussão, os que se têm apresentado à luta almejam unicamente alcançar o cargo de vereador ou de deputado autárquico, respaldando, desse modo, em alguns casos, apenas em espaço para desfilar a sua vaidade incólume. Mas, política não é isso.
É necessária a vontade de vencer. É imperioso sentir na pele o empenho na transformação, apoiando nomes, que não necessariamente o seu, numa independência e afastamento absoluto da sede de poder. Será que a Esquerda das Caldas da Rainha está preparada para isso? Não! Não está!

Neste concelho, a Esquerda é o tempero da Direita. E, não passará disso nos próximos 20 anos. Falta-nos (a nós, de Esquerda) compreender que a verborragia desmedida afasta o eleitor do político. Optar pelo diálogo claro, aproximando as ideias embasadas na honestidade das palavras e dos atos, às necessidades da população, é o caminho. A verdade deve, sempre, ser transmitida através de uma linguagem simples, sem artifícios ou artimanhas.

Michel de Montaigne (1533-1592) mostra-nos alguns itinerários relacionados com o facto do mau político (aquele que dá lustro ao próprio umbigo, esquecendo, após eleito, quem o elegeu) andar em discursos ocos, sem sabor, a explanar sobre temas inócuos, e a argumentar no Vazio. Assuntos e fundamentos que, quando concluídos, não nos permitem recordar o seu princípio ou o seu meio e, como consequência, fazem-nos desinteressar pela sua conclusão. Assim anda a Esquerda das Caldas da Rainha.

Lucius Annaeus Séneca (4 a.C. – 65) tem uma frase muito interessante e que define a atual Esquerda caldense: “Há mais ruído do que sentido”.
E de tormenta em tormenta vamos desconstruindo ideias. Enfraquecendo as hostes. Esvaziando ideais. Restará à Esquerda a quimérica imagem do que poderia ter feito e o que deveria ter sido.

Quando os nossos netos perguntarem o que faltou, em nosso tempo, para uma Revolução dos Cravos nas Caldas da Rainha, só conseguiremos encolher os ombros, dando mostras de que não soubemos unir forças, edificando novas rotas para o diálogo. Seremos uma sombra daquilo que nunca fomos.

Há quem viva bem assim. Eu não! E, naquele jantar, fizemos a nossa pequena Revolução, libertando, utopicamente, Caldas da Rainha. Construindo pontes, e não erguendo muros.

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