Quem conhece ou esteve, pelo menos uma vez, na Lagoa de Óbidos possui, certamente, inúmeras e excelentes recordações. As minhas são, além de distintas, muito remotas. Nesta folha arrojo-me e revivo uma que me traz à memória o meu avô Rui Mateus (1899-1956). Segundo um antigo relato de minha mãe, este homem alto, espadaúdo, delicado nos gestos e educado na fala - que nunca levantara a voz para ninguém e jamais erguera a mão para algum dos quatro filhos, fazia com que tudo seguisse em conformidade, no ritmo de sua voz, poderosa e bem acentuada – não perdia uma oportunidade para conviver com os amigos. De vez em quando, o domingo era passado fora de casa, em tertúlias, nas Caldas da Rainha, em Óbidos, na Nazaré, ou em outra localidade próxima. Porém, em certas ocasiões, na primavera ou no verão, o local escolhido para o convívio era o Braço da Barrosa, na Lagoa de Óbidos. Era uma época diferente (entre os anos de 1930 e 1956), as amizades eram solidificadas com hone...
Ator, encenador, professor de Arte Dramática, escritor e jornalista.