Recentemente,
na sede do Olha-te, nas Caldas da Rainha, uma atenta plateia teve a
oportunidade de ouvir a Dra. Isabel Alves Pinto, especialista em Direito
Público, proferir a conferência “Direitos Humanos: História e Modernidade”.
A
conferencista, com afinada eloquência, explanou calma e concertadamente,
durante cerca de 1 hora, sobre tão importante tema. A assistência, constituída
por diversas pessoas relacionadas ao Olha-te, a dissemelhantes quadrantes da
sociedade caldense, e a diferentes estruturas políticas (inclusive, um
excelente contingente do Partido Socialista, o que me agrada muitíssimo, pois,
mostra que uma parte da militância está atenta à necessidade de trabalhar a sua
atualização sobre tão importante tema), esteve concentrada durante todo o
evento, não se intimidando e dirigindo inúmeras perguntas à oradora.
A
preleção em questão faz parte de um estudo muito alargado, que a Dra. Isabel
Alves Pinto desenvolve há muitos anos, ensaio que será publicado na íntegra,
abrindo, creio, a partir daí, um patamar de discussão, a nível nacional, até
então inexistente, pois, o conteúdo do tema “Direitos Humanos”, é completamente
desconhecido da população portuguesa, e da classe política em geral. Se não o
fosse, não teríamos exemplos grotescos de tentativas de cassação de direitos de
liberdade de expressão, e de pensamento, no âmago de alguns partidos políticos.
Como
pôde ser compreendido por todos os presentes, a “ideia” de Direitos Humanos
pode ter surgido na conceção filosófica de direitos naturais que seriam
outorgados pelo Todo-poderoso, sendo John Locke, o nome de maior relevo que
propagou essa hipótese. Existindo, porém, diversas correntes antagónicas, e
dentro delas, uma em defesa do universalismo, outra defensora do relativismo
cultural. A conferencista lembrou-nos, também, do Cilindro de Ciro, um dos
documentos mais antigos vinculados aos Direitos Humanos. Essa escritura é
meramente um depoimento de Ciro II (?-530 a. C.) - o Rei persa - desenvolvido
após a conquista da Babilónia no ano 539 a. C..
Foram,
no correr dos séculos, concebidos muitos documentos associados aos Direitos
Humanos, sendo, talvez, os mais relevantes, a Carta Magna da Inglaterra (1215),
a Carta de Mandén (1222), o Habeas Corpus (1679), o Contrato Social (1762), a
Declaração de Direitos de Virgínia (1776), a Declaração Americana da
Independência (1776), a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789), a
Declaração do Povo Trabalhador e Explorado (1918), a Carta das Nações Unidas
(1945), a Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH) (1948), o Pacto
Internacional dos Direitos Económicos, Sociais e Culturais (1976), o Pacto
Internacional dos Direitos Civis e Políticos (1976), a Carta Africana dos
Direitos Humanos e dos Povos (1981) e a Declaração e Programa de Ação de Viena
(1993).
A
importância da compreensão do que são os Direitos Humanos, leva-nos a perceber
quais os caminhos que devem ser percorridos para evitarmos catástrofes, como as
guerras mundiais ou a ascensão do fascismo. Creio que, devido ao facto de,
atualmente, poucas pessoas terem noção acerca da transcendência do tema, é que
se vê, por todo o planeta, o ressurgimento de governos cujos suportes
programáticos estão assentes na destruição dos valores primordiais que são a base
da preservação da vida, não proclamando, tal como se refere na DUDH, “a fé nos
direitos fundamentais do Homem, na dignidade e valor da pessoa humana, na
igualdade de direitos entre homens e mulheres, assim como das nações, grandes e
pequenas; em promover o progresso social e instaurar melhores condições de vida
numa maior liberdade”.
A
relevância desta Declaração, que marca, como nos disse a oradora, a modernidade
dos Direitos Humanos, delibera no facto de ser o alicerce de quase todos os
documentos relativos aos Direitos Humanos, servindo de base a inúmeras
Constituições nacionais. Acrescentou ainda a oradora que, pese embora o facto
de a DUDH ter nascido como documento não vinculativo, acabou por, pelo decurso do tempo e pela forma
prestigiosa como é encarada pelos cidadãos e pelos Estados, se transformar, na
visão da doutrina internacional maioritária, numa Declaração juridicamente
obrigatória.
Tendo
já, a Dra. Isabel Alves Pinto, uma série de conferências agendadas, para
diversos pontos do país, creio que, o tema “Direitos Humanos” possa vir a ser
alvo de discussões necessárias, pois, só ouvindo quem sabe é que conseguimos
perceber como andamos a percorrer caminhos errados, para a construção de um
futuro que se quer de Respeito e de Amor pela Humanidade.
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