O meu pai - e quem o conheceu
pode comprovar o que aqui escrevo - possuiu uma superioridade absoluta na
compreensão da essência humana - a natureza íntima de Deus - pois exprimia-se,
no dia-a-dia, pelo coração.
Não divisei mais nenhum outro
homem que exala-se tanta bondade, tanta afabilidade, tanto carinho pela espécie
humana.
Toda a sua vida foi um puro ato
de amor, pois, foi soberanamente justo e bom.
Quem com ele privou percebeu a
sua sabedoria, expressa nos atos e nos gestos contínuos de amor ao próximo. Uma
sapiência que nos permite conhecer, sem jamais duvidar, o que é a justiça e a
benevolência de Deus.
O meu pai não morreu, pois os seres
humanos bons nunca desaparecem. Os seus espíritos permanecem como sustentáculos
da Terra. Enquanto homem era um puro, vindo a este planeta para insuflar de bem-querer
os corações que dele se acercaram. Um ser que não possuía nenhuma influência da
matéria, sendo, somente, amor filial. Possuidor de uma superioridade moral
absoluta, despojava-se das máculas que lhe tentavam impingir, oferecendo
constantemente, e com toda a simplicidade, a outra face, revestida de consolo,
de felicidade, de clemência, de benquerença.
Foi um mensageiro, um ministro
de Deus, que primou pela harmonia suprema, exprimindo-se numa santidade
humanitária elevada e altruísta.
Quantas vezes ouvi chamarem-no
de anjo. Nesse instante, reflexivo, olhava ternamente para o outro e dizia-lhe
que era apenas uma pessoa que não queria o mal de ninguém. Modesto. Simples. Calmo.
Leal. Excecional. Singular. Exalando ternura e simpatia por todos os poros.
Para mim, os verdadeiros anjos
não possuem asas, trazem em si fraternidade e amor para ofertar às mancheias.
Se meu pai foi um anjo? Que o diga quem com ele confraternizou. No meu caso,
digo apenas que não conheci ninguém que fosse a encarnação mais autêntica da
frase “Amai-vos uns aos outros”.
Sei de antemão que foi um
espírito que percorreu os incontáveis e possíveis degraus da dimensão mais
sublime, destituído de todas as nódoas da materialidade. Graças a isso, certamente,
quem por ele rezar não terá de sofrer agruras, nem expiações, não estando,
assim sendo, represado à reencarnação em corpos findáveis. Realizando-se,
portanto, na vida eterna, irmanado ao âmago de Deus.
Muitos são os que se lembram de
quanto auxiliou a quem necessitava, sem jamais exigir retorno, ou glória.
Dedicando-se ao bem, viveu a plenitude do tempo sem reivindicar, somente a distribuir.
Pela natureza da sua disposição moral, pela sua intuição acerca do que
verdadeiramente deve conduzir o ser humano, creio que vive agora em Luz, e
permanentemente a repartir as flores da sua condescendência interior.
Quem conviveu com o meu pai
sabe, perfeitamente bem que, junto a ele, a boa ordem sucedia à desordem. Tudo
ao seu redor transformava-se em harmonia, equilíbrio e solidariedade. O que
alterava, de imediato, o coração, a mente, e o espírito de quem o escutava.
Retemperando-se, assim, a fonte da vida, tornando-a - como o seu bom espírito -
muito mais celestial.
Tenho recebido inúmeras,
infinitas, expressões de amor pelo meu pai. Manifestações de saudade e de muita
ternura. Agradeço, penhoradamente, a todos os bons corações que assim se
expressam.
Cada frase que ouço vem
acompanhada de um pedido, uma tentativa de retribuir tudo o que dele receberam.
Como filho, fico jubiloso, diante de tanta sinceridade, tanta demonstração de amor.
Porém, o que lhes posso dizer?
Apenas isto: No seu túmulo,
todas as flores serão poucas; todas as preces serão ínfimas; todas as lágrimas
serão bênçãos. Ámen.
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