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A arte de Paulo Autran

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A viagem de Thomas Mann

  Em 1856, Júlia da Silva Bruhns (1851-1923), natural de Paraty, no Rio de Janeiro, embarca num vapor com destino à Europa. Naquele instante, aos cinco anos de idade, genuinamente, não poderia imaginar o que a vida lhe reservava. Dezanove anos depois, a 6 de junho de 1875, na Cidade Livre de Lübeck (hoje, estados alemães Schleswig-Holstein e Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental), dá à luz o pequeno Paul Thomas Mann. Ensaísta, contista, crítico social e romancista, Thomas Mann viria, com a sua pujança artística, a ser um dos mais carismáticos escritores do planeta. A sua obra é uma das mais importantes da história da literatura, e é imprescindível em qualquer biblioteca de relevo. A sua estreia literária, no ano de 1893, foi modesta, iniciando colaboração com a revista “Der Fruhlinssturm”, da qual veio a tornar-se seu coeditor. Com o passar dos anos, este grande antinazista, legatário temporão da memória idealista e romântica alemã, conseguiu reproduzir de modo muito original a cons

Obrigado!

  Depois de, aproximadamente, seis anos de colaboração com o Jornal das Caldas, chegou o momento de uma mudança. Um autor que não se movimenta acaba por cair em lugares-comuns. O que não é bom para a saúde literária da própria criação. Repentinamente, após um telefonema recebido, vi-me impelido a aceitar um dos convites que tenho arrecadado ao longo do meu percurso. Em busca do melhor, o ser humano não pode, nem deve, estagnar. Avante, pois para a frente é o caminho, como se costuma dizer, já de modo tão gasto. Sim, estou de saída. Deixo para trás uma equipa de bons profissionais. Agradeço, a cada um, pelos anos de convívio e camaradagem. Os meus leitores não deverão sentir falta. Mas se por acaso isso vier a acontecer, brevemente, através das minhas redes sociais, saberão em que folha jornalística estarei. Por enquanto reservo-me à discrição, pois há detalhes que ainda estão a ser ultimados. A responsabilidade de quem escreve num jornal é enorme, especialmente quando se pr

O Declínio das Fábulas - I

  Em poucos dias, o primeiro volume do meu novo livro “O Declínio das Fábulas” chegará a todas as livrarias portuguesas. Esse tomo reúne uma série de temas que reverberam o meu pensamento nas áreas da cultura, da arquitetura, da mobilidade, etc. para uma cidade como Caldas da Rainha. O prefácio é de autoria da jornalista Joana Cavaco que, com uma sensibilidade impressionante, timbra, assim, o que tem constituído o trabalho deste que vos escreve. Nele, há trechos que me comoveram francamente. Outros são mais técnicos, contudo exteriorizam um imenso conhecimento daquilo que venho produzindo, por exemplo: “É essa mesma cidade ideal a que, pelo seu prolífico trabalho, tem procurado erguer, nos vários locais por onde tem passado, seja a nível cultural ou político. Autor de extensa obra, que inclui mais de sessenta livros (a maior parte por publicar) e um sem fim de artigos publicados em jornais portugueses e brasileiros, revistas de institutos científicos e centros de estudos, entre o

Impressões de 1907

  Matthew entra na estação do Rossio, na mão direita o bilhete para Caldas da Rainha, na esquerda o volume “Notas de Viagem – Paris e a Exposição Universal (1878-1879)”, de Ramalho Ortigão. O seu intuito é, somente, o de rever a Vila, que é afamada graças às Termas e, quem sabe, aproveitar um pouco daquelas águas para debelar alguns incómodos respiratórios, reumáticos e músculoesqueléticos. O enredo do livro levara o seu pensamento a desejar a França, contudo, os seus parcos recursos não o autorizavam a tanto. Quando ouviu o silvo da máquina, apressou-se a subir os pequenos degraus da carruagem e a acomodar-se confortavelmente. Quinze minutos depois percebeu que não conseguiria esquadrinhar o relato de Ramalho, a paisagem não o permitiria. Completamente envolvido pelas cores deixou-se entreter, imaginando como poderia fazer bem, aos seus pulmões, caminhar por aqueles campos. A brochura foi parar à algibeira. Os olhos passaram a perscrutar o entorno, completamente extasiados. A vi

José Mattoso

  Desde 1968, com o surgimento da tese de doutoramento: “ Les monastères du diocèse de Porto de l'an mille  à 1200 ”, até este 2023, a historiografia portuguesa contou com um investigador que abriu inúmeros caminhos para importantes descobertas acerca da História Medieval, ajudando a clarificar - para minha imensa satisfação - incontáveis itinerários de exploração, inclusive sobre a Vila de Óbidos, assim como em relação a outros concelhos régios medievais da região Oeste. Como o meu querido leitor sabe, a crónica existente, relativa a essa citada Vila, é devastadoramente bela, contribuindo para realçar a relevância de Portugal no contexto europeu e afirmando a própria personalidade das gentes do lugar. Isso só é possível graças ao trabalho árduo de inúmeros estudiosos, entre eles, um dos maiores, José João da Conceição Gonçalves Mattoso (1933-2023). Ainda imberbe - e influenciado pelo tio-avô D. José Alves Mattoso (1860-1952), Bispo da Guarda - esse erudito ingressou na vida

Cidade-dormitório

  Apesar da autopromoção constante, nos meios de comunicação - por parte do executivo da Câmara Municipal - Caldas da Rainha continua a ser uma singela localidade perto de Óbidos, com pouca atratividade cultural e nenhuma graça estética. O concelho não possui um rosto, uma marca que o defina. Parece, inclusive, que os autarcas não conseguem decidir-se sobre qual o caminho a seguir nesse quesito. Caldas da Rainha é uma cidade com que fisionomia? Qual o seu selo distintivo? O que pode atrair turistas? O que a pode tornar apetecível para grandes investimentos? Uma das ações urgentes a realizar é a do resgate da sua história e da sua identidade, todavia, o pelouro indicado para isso, o da Cultura, é apenas um cabide de emprego e uma vitrina de pavoneamento. Não existe uma estratégia, por parte desse organismo, para evidenciar a crónica caldense, os seus feitos, os seus heróis, as suas instituições, etc . Não há, igualmente, um programa de revitalização urbana, que tenha como objeti