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JOSÉ SARAMAGO

Lembro-me, como se fosse hoje. No ano de 1998, estava a estudar uma peça, que seria levada à cena algum tempo depois, quando, num intervalo, enquanto sorvia um chimarrão quente e bem preparado, liguei a televisão para ficar a par das notícias do momento, e eis que a emissão, toda ela, era de parabenização ao glorioso José Saramago, por ter-lhe sido atribuído o Prémio Nobel de Literatura.

Confesso que me apeteceu abrir a janela do apartamento, enfrentando aquela fantástica São Paulo, e aos gritos manifestar toda a minha alegria. O que fiz, de imediato, foi telefonar para todos os amigos da Academia Paulista de Letras, do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, do Instituto Cultural e Humanístico “José Martins Fontes”, a tentar dar a notícia em primeira mão, enganei-me, todos já a sabiam, a informação correra célere, existia já uma imensa panóplia de admiradores, em manifestação profunda e, quase, alucinada, em regozijo pela conquista do grande escritor. Estávamos todos eufóricos.

O Brasil respirou alegria através das narinas de José Saramago. O mesmo Brasil que hoje chora a sua morte, através da tristeza instalada no coração de todos aqueles que adoram a sua literatura. E eu sou um deles. Tenho, pousados nas estantes lusófonas, todos os seus livros, já gastos pela leitura. Já não tenho vontade de abrir janelas, já não estou em São Paulo, já não me apetece dar telefonemas…

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