Construída no século XV e situada no centro da aldeia da Dagorda (popular e erroneamente chamada de “A-da-Gorda”, situada em Óbidos), no rossio com o mesmo nome (mas também conhecido como “praça do Jogo da Bola”), em estilo barroco, de planta longitudinal, com nave única e nártex.
No interior, vemos o tríptico sob
o arco da capela-mor: “São Francisco de Assis”, “A Virgem e o Menino” e “Santo
António”, além das telas “A Paixão de Cristo no Horto das Oliveiras” e “São
Gregório Magno”, todas obras de autoria de Josefa de Ayala e Cabreira Figueira (dita
Josefa de Óbidos, 1630-1684). Além de uma tela de Baltazar Gomes Figueira
(1604-1674), datada de 1643, nomeada “Repouso na Fuga para o Egito”.
Na nave encontramos um belo
revestimento a azulejos (aplicados no correr do século XVII), delimitados por
caixilho, sendo primariamente de um silhar, ulteriormente de painéis verticais,
com estalões dissemelhantes, entre desconformes cintas, sendo a fração superna,
de outras duas faixas, consumada por fímbrias. A capela-mor possui,
tal-qualmente, azulejaria até à sanca. A talha dourada do altar-mor e dos
altares laterais foi colocada no século XVIII.
Vê-se, à entrada, por baixo de
uma velha passadeira, a lápide do padre Paulo Ferreira, nela consta, em latim
antigo, aqui traduzido: “A sepultura do Padre Paulo Ferreira natural deste
lugar da Dagorda. Faleceu em 9 de janeiro do ano 1657”. É de referir que esse
extremado sacerdote desempenhou importantes funções na Santa Casa da Misericórdia
de Óbidos, entre elas: Mordomo da Capela (em 1620-1621; 1631-1632 e 1638-1639), Escrivão (em 1634-1635
e 1650-1651 e 1652-1653) e
Provedor
(em 1643-1644).
É de notar que o século
XV - aquando da construção da Capela de Santo António - foi uma centúria
importantíssima, abrangendo o final da Idade Média e o surgimento do Renascimento
e da Idade Moderna, com enormes avanços nos campos cultural, tecnológico e
social. Entre os inúmeros progressos
temos, na Europa, o da invenção, por Johannes Gutenberg (1400-1468) de um
mecanismo de reprodução de textos, que o levou à criação da prensa de tipos
móveis. Note-se ainda que no Oriente, mais especificamente na China e no Japão,
desde o século VIII já existia uma inovadora técnica de impressão, contudo, o
processo utilizado era distinto, designado de “impressão em bloco”, pois utilizava-se
uma barroca de madeira, talhada, para estampar uma lauda com um prefixado texto.
Sobre a Dagorda, existe
documentação - como este apontamento epistolográfico: “Óbidos. 3 de novembro de
1374. Traslado duma verba do testamento de Maria Fernandes, irmã de Afonso
Fernandes da de Gorda, seu testamenteiro, a qual deixou imposta numa parte da
vinha do Souto uma pensão de 20 soldos à igreja de S. Pedro…” - que confirma
que a teoria de que a citada aldeia tenha sido originada devido à existência de
“uma personagem local, de nome Vicência, proprietária de uma taberna e de um
estanco (venda) de tabacos, nos inícios do século XIX” é completamente errônea.
Relativamente à antiguidade da
aldeia, existem Tombos de propriedade, Inventários de partilha e Atas de
vereação, situados desde o século XIII. Há, inclusive, um estudo da
historiadora Manuela Santos Silva (1961-) que aponta a existência dos primeiros
povoadores pela altura do reinado (1279-1325) de D. Dinis (1261-1325), aquando
da doação de uma casa ao seu monteiro-mor (defensor dos montes, votado à
proteção das coutadas reais e da sua fauna cinegética).
A Capela de Santo António
surgiu duzentos (ou mais) anos depois do estabelecimento da aldeia. Arqueólogos
e historiadores possuem ainda muitas dificuldades pela frente.
- Dê-lhes saúde e sorte (e mantenha os políticos afastados), Senhor, pois a tarefa é árdua.
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