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Praça da Fruta

 


Este símbolo caldense, identificado em todo o país, esteve irreconhecível por muitas semanas devido, como se sabe, à pandemia que assola o nosso planeta. Neste momento, felizmente, os vendedores, que são o rosto daquela exuberância, ali estão, novamente, a expor e a vender os seus produtos.

Passada a força da borrasca, venho colocar-me em sentido, para reiniciar uma discussão, por mim encetada no dia 1 de março de 2018, aquando da apresentação da minha Proposta “Instalação de um Céu de vidro na Praça da República”, na reunião da Assembleia de Freguesia da União de Freguesias de Caldas da Rainha – N. S. do Pópulo, Coto e São Gregório.

Ora bem. Sabendo que é o mercado diário, no antigo Rossio, atual Praça da República (a badalada Praça da Fruta) que mantém viva aquela identidade, podendo, assim, trazer um bom volume de turistas a esta região, insisto, novamente, com aquele tipo de instauração, dizendo: Esse histórico local possui um importante tabuleiro em pedra e uma crónica mais do que secular, e poderia ser enriquecido com uma ampla cobertura em vidro laminado ou aramado (sem paredes), sustentada por uma estrutura em ferro fundido cinzento ou nodular, amparada por oito ou dez roques, lembrando a arquitetura do ferro dos séculos XVIII e XIX. Essa construção, trabalhada artisticamente ao estilo das Ordens Clássicas - quem sabe explorando a sofisticação do Capitel Coríntio, por ser muito decorativo e ornado – ofereceria, então, um visual grandiloquente aos que a admirassem, sendo, também, amplamente segura e confortável para vendedores, fregueses ou visitantes. Permitiria, até, dispensar as tendas atuais, com as pesadas armações que as sustentam (evitando assim despesas com a empresa que trata da montagem e desmontagem das mesmas, custo atualmente suportado pelos feirantes).

Poderia, neste caso apenas por charme, colocar-se uma entrada figurativa, com duas colunas (Boaz e Jachin, simbolizando, respetivamente, a força e a estabilidade) em cobre, com fuste retorcido, numa das laterais, ou num dos topos da praça, suportadas por uma ornamentação de lírios de bronze em forma helicoidal (coluna torsa ou salomónica).

Esse tipo de investimento (neste caso não seria despesa), naturalmente, atrairia as atenções do mundo, fazendo com que o fluxo turístico tivesse um aumento considerável.

Repensar diariamente a Praça da Fruta é revitalizá-la. 

Durante o século XV aquele local era chamado de “Rossio do Lugar” e possuía um panorama diferente, pois ali estava inserida uma igreja e, defronte desta, um pequeno cemitério. Quase ao final daquela centúria, a Rainha D. Leonor de Lencastre, pensando na excelência dos produtos agrícolas da região, manda instalar nas proximidades do edifício religioso e do Campo Santo, um mercado.

Aquela praça medieval cresceu, ultrapassou os séculos, assistindo ao derrube dos seus vizinhos edificados e ao surgimento de um conjunto de casas e edifícios que moldaram o recinto de modo perene.

Infelizmente, nos dias atuais, todo o entorno da Praça está descaracterizado, resultado de decisões pouco acertadas, que autorizaram a construção de “caixotes” sem o mínimo bom gosto, ou respeito pela história do local.

Seis séculos de vida, desde o Rossio do Lugar até à Praça da República, marcam de modo indelével uma crónica que poucas cidades possuem. E, tudo começou com um hábito criado naturalmente pela população agrícola: O de trazer os seus produtos para as imediações do Hospital Termal de Nossa Senhora do Pópulo, vendendo-os, porém, sem disposição e decência. A Rainha D. Leonor de Lencastre organizou-o.

Caldas da Rainha, Lugar em 1484, Vila em 1511, Município em 1821, Cidade em 1927, uma gradativa evolução, como sói acontecer a uma região possuidora de múltiplas manifestações sociais e culturais, porém, uma plaga que possui deficiências grandes, que só serão sanadas quando a sua população a compreender e respeitar.

Comentários

Juçara Leite disse…
Que lugar mais lindo!

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