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FRANÇA JR.


Joaquim José da França Júnior nasceu no Rio de Janeiro a 19 de abril de 1838. Era filho de Joaquim José da França e da Sra. D. Mariana Inácia Vitovi Garção da França, e fora casado com a Sra. D. Clotilde de França, não deixando descendentes. Era Bacharel em Humanidades e Letras pelo afamado Colégio Pedro II (1853 a 1856) e em Direito pela Faculdade de Direito de São Paulo (1858 a 1862). A sua carreira de dramaturgo teve início no ano de 1861 com duas comédias de costumes académicos: Uma República Modelo e Meia Hora de Cinismo.

França Júnior revelou-se um grande continuador de Martins Pena, o que o tornou, cronologicamente, o segundo mais importante autor do teatro brasileiro. E, assim como Martins Pena, também redigiu para o tablado farsas de costumes e sátiras políticas, que se tornaram grandes sucessos. A 10 de maio de 1862 estreou em São Paulo a comédia Tipos da Atualidade, que ficou popularmente conhecida como O Barão de Cutia, graças à reputação da personagem com o mesmo nome, um fazendeiro rico que uma viúva interesseira desejava desesperadamente ter por genro. França Júnior fez das suas farsas diminutas caricaturas, de aparências diversas do quotidiano e da estirpe fluminense. Em 1863, no Rio de Janeiro, integra-se ao grupo de redatores do Bazar Volante, a substituir o Dr. António de Castro Lopes, utilizando o pseudónimo de Osíris.

Em 1864, publica na Cidade Maravilhosa a comédia Ingleses na Costa. Em 29 de abril de 1867 inicia colaboração n’O Correio Mercantil, ali escrevendo até 26 de julho de 1868. Compôs, também, para a Gazeta de Notícias, O Globo Ilustrado, O País (coluna Ecos Fluminenses), Gazeta da Tarde, Vida Fluminense e O Globo.

A 6 de agosto de 1868 torna-se Secretário da Presidência do Estado da Bahia, a convite do seu presidente, Bento Maria Targini (Barão e depois Visconde de São Lourenço), permanecendo no cargo até o dia 7 de novembro de 1871. Durante este mesmo ano vai à cena, de sua autoria, Amor com Amor se Paga, O Defeito de Família e Direito por Linhas Tortas. No ano de 1873 atua como membro da comissão que representa o Brasil na Exposição Universal de Viena, sendo responsável pela secção de Belas Artes, da qual escreve um relatório sobre pintura e escultura, depois editado em opúsculo com o título Relatório sobre a pintura e estatuária. Este, atualmente, é raríssimo, sendo mesmo peça de colecionador. A 3 de junho daquele ano é agraciado com a Ordem da Rosa e com a Cruz de Cavaleiro da Ordem de Francisco José, da Áustria.

Em 1875 é representada, de sua autoria, a peça Trunfo às Avessas, no Teatro Fénix Dramática, no Rio de Janeiro. A 18 de maio, desse mesmo ano, A Província publica comentários seus sobre a ópera Un Ballo in Maschera, que o mesmo assiste na cidade de São Paulo.

Em 1876, afirmou que abandonaria a literatura dedicando-se exclusivamente à pintura. No ano seguinte publica a comédia Entrei para o Clube Jácome. Em 1878 é lançado, em volume, os Folhetins, com prefácio de Alfredo Mariano de Oliveira. Em maio desse ano embarca para Paris como correspondente da Gazeta de Notícias, para escrever algumas gazetilhas sobre a Exposição Internacional de Paris. Por volta do ano de 1880 frequenta, como aluno, a Academia Imperial de Belas Artes (AIBA), no Rio de Janeiro. Em 1881 é representada no Teatro de São Pedro, na Cidade Maravilhosa, a comédia, de autoria de José Fogliani, com tradução de França Júnior, Os Candidatos. A 14 de abril de 1882 é representada no Rio de Janeiro, no Teatro Recreio Dramático, a comédia Como se fazia um Deputado. A 20 de julho, na mesma sala de espetáculos, apresenta Caiu o Ministério. Quase ao fim desse ano estreiam as peças: Três Candidatos e Um Carnaval no Rio de Janeiro. Em 1883, publica Dois proveitos em um saco. A 25 de janeiro do ano seguinte leva à cena a comédia De Petrópolis a Paris, no Teatro Recreio Dramático. E aqui, decide colocar um fim à carreira literária.

Cinco anos depois, em 1889, Arthur Azevedo convence-o a voltar a escrever e publicar. Nesse interregno aproveitou para aperfeiçoar a sua técnica pictórica, estudando com Hipólito Boaventura Caron (*Resende, RJ, 1862 + Juiz de Fora, MG, 1892), na Academia Imperial de Belas Artes.

A Obra Literária de França Júnior fortalece a tradição burlesca do teatro brasileiro e caracteriza-se pela ligeireza do diálogo breve, das peças em um ato, com fala coloquial, exercício cénico célere, anfibologias e enorme conhecimento de cadência teatral.

Além de comediógrafo, pintor, advogado, político, jornalista e Secretário do Governo Provincial da Bahia, França Júnior exerceu o cargo de Adjunto da Promotoria Pública da Corte e, posteriormente, Curador Geral e Juiz de Órfãos e Ausentes da Segunda Vara de Órfãos do Rio de Janeiro (1888). Além das já citadas publicações deixou ainda: O tipo brasileiro (1872), As Doutoras (1889), Beijo de Judas, Portugueses às direitas (1890), Maldita parentela, A lotação dos bondes, Política e Costumes, Bendito chapéu, Duas pragas familiares, Em Petrópolis e Os provincianos em Lisboa. A maioria destes títulos foi reunida em dois volumes intitulados: Teatro de França Júnior, no ano de 1980 e editados pela Funarte – Fundação Nacional de Artes.

Joaquim José da França Júnior, Patrono da Cadeira nº 12 da Academia Brasileira de Letras, por escolha do fundador Urbano Duarte de Oliveira (*Lençóis, 2 de janeiro de 1855 + Rio de Janeiro, 10 de fevereiro de 1902), morreu em Poços de Caldas, MG, a 27 de setembro de 1890. 

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