A
melhor construção da engenharia da Antiguidade em Portugal é, sem sombra de
dúvida, a rede viária romana. Os percursos conhecidos até ao momento, embora,
na sua maioria, ainda sombreados de incertezas, mostram-nos que os romanos sabiam
muito bem qual a importância de unificar todo o território através daquele tipo
de vereda.
Para
um conhecimento mais aprofundado, acerca das vias romanas na Península Ibérica,
convém “passar os olhos” pelo Itinerário de Antonino, singular assentamento das
estações e distâncias existentes ao longo de inúmeras estradas do Império
Romano. Este documento possui uma sólida base e, segundo consta, iniciada em
estudos oficiais da época de Júlio César (100 a. C – 44 a. C), com, inclusive, uma
interessante continuação no período
de Octavianus Augustus (63 a. C – 14).
As
vias romanas, uma infraestrutura material essencial para a subsistência e
expansão do Império Romano, tiveram o seu início por volta do ano 300 a. C.,
sendo um meio muito eficaz para a circulação em geral, inclusive dos exércitos.
De sólida construção, a maioria de calceta, com cuidadosas curvas muito bem
planeadas, para escoamento das águas da chuva, e tendo, em suas laterais, trilhos
pedonais excelentemente delineados. O curioso é que não apenas os terrenos
“fáceis” eram alvo de sua construção, mas, também, áreas pantanosas, montes (atravessados
de lés-a-lés, por dentro), e desfiladeiros. Sem esquecermos as magníficas
pontes, muitas até hoje motivo de grande admiração.
Reza
a lenda que, aproximadamente, 400 mil quilómetros de estradas construídas
ligavam todo o Império Romano, um feito espetacular. Tendo, claro, o início da
sua irradiação em Roma, e espalhando-se de modo ordenado por um imenso
território. Essa teia de comunicação foi, sem dúvida, a grande responsável pelo
sucesso do domínio romano.
Presumivelmente,
investiu-se numa elevada inquirição territorial, conseguindo, assim, o Império
Romano, perceber quais as ligações necessárias, especialmente para aquelas
regiões de riqueza extrema, abundantes em minérios; com terras férteis,
apropriadas para o mais variado cultivo agrícola; com plagas de magnificência
termal; ou próximas a rios e mares, para fácil escoamento mineral ou bens
agrícolas.
Em
Portugal são inúmeros os vestígios dos caminhos romanos. A vila de Óbidos, por
exemplo, foi amplamente beneficiada por este Império. São conhecidas inúmeras vias que a ligaram a pontos de relevada
importância, tanto agrícola, quanto mineral e termal. Há indícios de conexões
com Olisipo (Lisboa), bem como com o rio Tejo, além de inúmeras variantes, por
diversas zonas das regiões do Centro e do Oeste do país.
Presumivelmente,
uma das mais importantes vias romanas em Portugal foi Conímbriga-Olisipo, e que
incluía Eburobrittium no seu trajeto, o que nos pode elucidar quanto ao prestígio,
a vários níveis, desta região. Portanto, todo o percurso dessa calçada romana
deveria ser recuperado, o que não me parece impossível (apesar da larga
destruição provocada pela construção da A8, bem como dos “descuidos” da
população, e dos meios políticos, ao longo dos
últimos 2.000 anos).
A
execução de um projeto arqueológico dessa monta (muito necessário em
Eburobrittium), ainda nos traria revelações curiosas e surpreendentes, que podem
elucidar-nos acerca dos costumes e tradições, nessa região, no período do
Império Romano. Demarcar
todo esse trajeto, seria uma mais-valia para o turismo local. Não só de Óbidos,
mas, das cidades, vilas e aldeias vizinhas.
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