Estou deveras
entusiasmado com o momento pelo qual passa esse excecional Museu. A partir do instante
em que soube que o meu estimado amigo Carlos Coutinho deixaria a sua direção,
sobressaltei-me, pois imaginei que o órgão competente pela escolha do novo
responsável entregaria esse cargo a um amigalhaço (através de um concurso
público nacional feito à medida, como é tão comum em Portugal).
Felizmente, a
escolha ocorreu através de um concurso público internacional, e pelo que pude
apurar, o júri, a Direção Regional de Cultura do Centro e o Ministério da Cultura,
trataram do assunto com a delicadeza e a competência que o mesmo merecia.
O Museu José
Malhôa possui um enorme espólio do seu patrono, além de uma relevante coleção
de pintura e de escultura dos séculos XIX e XX, sendo, inegavelmente, o grande Museu do naturalismo em Portugal. Este
precursor na museologia portuguesa, tanto pela conceção arquitetónica quanto
pela utilização de preceitos de conservação e de correspondência entre os
acervos que expõe, merecia, portanto, na sua direção, alguém à sua altura,
como, parece-me, veio a acontecer.
Aguardo agora, e com
certa ansiedade, a implementação de um processo de trabalho que aproxime o
Museu José Malhôa de todos os quadrantes planetários, pois, como clarifiquei em
artigo - nesta mesma coluna, em tempos idos - o pintor José Malhôa possui
qualidade de sobra para ser venerado como um dos grandes da Europa, quiçá do
mundo. Faltou-lhe, infelizmente, até hoje, quem o levasse pelo braço, como
ocorreu (e ocorre) com outros artistas portugueses (e muitos com qualidade
duvidosa).
Vivemos num país
onde o orçamento para a Cultura é tão miserável que as estruturas dessa área
necessitam de algum exercício para conseguir manter os seus acervos, apostar em
projetos educativos, ou implementar linhas de trabalho dinâmicas. Caldas da
Rainha, por outro lado, possui inúmeros velhos do Restelo, que pouco sabem, mas
que muito esbravejam, dois problemas que, com o passar dos meses, podem retirar
energia à nova responsável por esse Museu. Espero, sinceramente, que não.
É necessário
pensar o Museu José Malhôa. Compreendê-lo na conjunção da tríplice coroa:
Objeto, Coleção e Exposição, assim estruturado deverá ser contextualizado
socialmente, aproximando-o das pessoas, com todas as valências possíveis.
Com o adequado
enquadramento histórico será possível alavancar planos que desenvolvam todas as
potencialidades dessa organização museológica.
Um dos setores a carecer
de um efetivo trabalho de raiz é o da criação de um “Centro de Documentação
José Malhôa” (ver. CALISTO, Rui. Malhôa Inédito: Genealogia; Centro de Documentação; Documentação
inédita e esparsa. 1ªed. Lisboa, Editora Martins Fontes Portugal &
Instituto Cultural e Humanístico “José Martins Fontes”, 2018, 103p.),
que permitirá, a todos os interessados, uma maior aproximação à vida e à obra
pictórica do Pintor de Portugal, além de facultar o desenvolvimento de ações de
localização e recolha de documentação, referente ao mesmo, existente em
diversos territórios do globo terrestre.
Como
escreveu Albert Camus (1913-1960): “Sem a cultura, e a liberdade relativa que
ela pressupõe, a sociedade, por mais perfeita que seja, não passa de uma selva.
É por isso que toda a criação autêntica é um dom para o futuro”.
José
Malhôa foi um criador autêntico, um génio expressivo da sua arte, um fenómeno
que merece todas as honrarias. A maior delas, em minha modesta opinião, é a de presentemente
colocá-lo no seu merecido lugar: O futuro.
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