Avançar para o conteúdo principal

ACRA - Associação Cultural e Recreativa das Águas Santas

A Associação citada em epígrafe viu efetivada a sua constituição no dia 28 de novembro de 2002, depois de mais de dez anos de trabalho voluntário em prol de uma região pouco valorizada do concelho caldense.

Com uma preocupação cultural, recreativa, ambiental e social, a Comissão Instaladora, composta pela Sra. D. Umbelina Barros e pelos Srs. António Peralta, José Fialho e Fernando Lopes, não conseguiu ultrapassar diversas dificuldades impostas, entre elas a não efetivação de investimentos prometidos pela autarquia local. Como resultado, essa instituição entrou num campo letárgico, apagando-se por completo.

Recentemente, um grupo de abnegados (Sofia Borges, Anabela Coito, Marta Barros, Eva Duarte, Pedro Ventura e Filipe Lopes) assumiu o propósito antigo, colocou mãos à obra e fez ressurgir as ideias da anterior Comissão, como, por exemplo, a de recuperar parte do valioso conjunto termal, conhecido como Balneário das Águas Santas.

Consta que é enorme a vontade de dotar a futura sede com uma sala polivalente, uma copa e um espaço museológico. Deixo aqui duas ideias: a de criarem, igualmente, um recinto de leitura e uma biblioteca (especializada em Termas e em Caldas da Rainha).

Espero que esses destemidos jovens não se limitem a pedir favores à autarquia. Existem inúmeros “gatilhos” financeiros proporcionados pela União Europeia (se a instituição estiver constituída de forma legal) que podem auxiliar o desenvolvimento e a conclusão do plano em causa. Inclusive, podem conseguir o financiamento correto para a instalação (e o recheio) do Museu e da Biblioteca.

Com a necessária independência política, podem cativar mecenas. Com certeza muitas empresas portuguesas sentirão segurança e vontade de apoiar um intento tão belo e altruísta.

O entorno do Balneário das Águas Santas também merece um cuidado extremo, mas esse é um ponto que diz respeito, exclusivamente, à União de Freguesias de Caldas da Rainha – Santo Onofre e Serra do Bouro e, naturalmente, à Câmara Municipal.

Os envolvidos estão a dar um passo elevadíssimo, com um sentido cultural de exponencial valor, por isso é necessário ter cautela com o possível envolvimento da classe política, pois, como nos clarificou Voltaire (François-Marie Arouet, 1694-1778): “A política tem a sua fonte na perversidade e não na grandeza do espírito humano”.

As águas termais, naquele local, dificilmente poderão voltar à sua magnitude (a história conta-nos que a descoberta daquelas milagrosas caldas ocorreu no ano de 1852, quando um padecente de elefantíase encontrou um charco e decidiu banhar-se nele. Nos dias seguintes, outros leprosos fizeram o mesmo, e ali descobriram a cura para a sua maleita), devido aos estragos que uma fábrica existente nas proximidades causou ao aquífero, porém, é possível resgatar toda a história, os seus valores, e os objetos mais emblemáticos do histórico Balneário.

Reza a lenda que existe um obscuro plano da Câmara Municipal para recuperar o local e criar um Centro Interpretativo relacionado àquela região. Parece-me simples aproveitamento político. Não duvido que a autarquia venha a realizar qualquer ato em prol do local e das antigas Termas, o futuro é que me preocupa, pois esses intentos podem servir apenas para dar emprego a amigalhaços.  

A conservação dos espaços é, também, outro motivo de apreensão. Pois é algo que o poder político demora a “encaixar”. Construir é fácil. Manter é outra “loiça”.

Recuperar aquele simbólico lugar é ensinar as futuras gerações a respeitar a sua história. Como referiu Simón Bolívar (1783-1830): “As nações marcham para a sua grandeza ao mesmo passo que avança a sua educação”.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

José Rui Faria de Abreu

  Existem amigos que, quando partem para os confins do Desconhecido, nos deixam uma lacuna na alma, difícil de preencher. Foi o caso do Faria de Abreu. O primeiro contacto que tive com ele foi em Coimbra, no ano de 2001, quando fui obrigado a levar o meu pai, em consulta oftalmológica, de urgência. Após aquele dia, travamos uma salutar amizade, com vários telefonemas em diversos períodos nos anos que se seguiram, e até inúmeras visitas aquando das minhas várias passagens pela Terra dos Estudantes. Os colegas diziam que ele era o melhor oftalmologista de Portugal, a Universidade de Coimbra tecia-lhe elogios e louvores, os pacientes – o meu pai incluído – diziam que ele era um médico respeitador e dedicado. Eu digo, simplesmente, que ele era uma figura humana sensível, logo, alguém que compreendia o valor da amizade. José Rui Faria de Abreu faleceu na manhã do dia 27 de novembro de 2012 no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra , aos 67 anos de idade,...

Arena Romana nas Caldas da Rainha

Toda a vez que ouço um aficionado das touradas destilar frases de efeito, anunciando que “aquilo” é cultura, ponho-me a pensar num excelente projeto que poder-se-ia executar nas Caldas da Rainha: Construir-se uma Arena Romana. Naturalmente seria um plano muito interessante do ponto de vista “cultural”. As Arenas Romanas estão na história devido à inexorável caçada suportada pelos cristãos primitivos. Praticamente a mesma coisa que acontece com os touros numa praça. São muito conhecidas as crónicas sobre as catervas de animais impetuosos que eram lançados sobre os fiéis indefesos, algo muito semelhante com o que se vê nas liças tauromáquicas. Um touro a mais ou a menos para os aficionados é, praticamente, igual ao sentimento romano: Um cristão a mais ou a menos pouco importa. O que vale é a festa; a boa disposição de quem está nas arquibancadas; as fortunas envolvidas, representando lucros fenomenais para alguns; a bandinha de música, orientada por um maestro bêbad...

A arte de Paulo Autran

  Um dos amigos de quem sinto mais saudades é esse Senhor, cujo nome está em epígrafe. O seu percurso profissional mistura-se com a história do teatro brasileiro. O seu talento ombreia com o das divindades dos palcos, Leopoldo Fróes (1882-1932) e Laurence Olivier (1907-1989). A sua postura era ímpar, a de um cavalheiro, praticamente um aristocrata. Estava com 25 anos de idade quando o conheci, um ser ainda imberbe. Ele, com simpáticos 68. Gigante há muito. Respeitado, cultuado, um exemplo. Era carioca, nasceu na cidade do Rio de Janeiro, numa quinta-feira, 7 de setembro de 1922. Muito influenciado pelo pai, Walter Autran (1891-1960), formou-se na Faculdade de Direiro do Largo de São Francisco, em 1945, desejando abraçar carreira na diplomacia. Não almejava ser ator, porém estreou como amador, em junho de 1947, no Teatro Municipal de São Paulo, com a peça “Esquina Perigosa”, de autoria de John Boynton Priestley (1894-1984), com direção de Silveira Sampaio (1914-1964). Infl...