O organismo citado em epígrafe
foi inaugurado no dia 2 de maio de 1889, no Funchal, Ilha da Madeira, e nestes
133 anos de existência vem servindo, com ânimo, correção e honestidade, a
comunidade carente de toda a região. É uma IPSS (Instituição Particular de
Solidariedade Social de Utilidade Pública, sem fins lucrativos), e todo o seu
trabalho centra-se no apoio aos escalões sociais mais necessitados, ajudando na
mudança de hábitos de vida, na prevenção das situações de abandono e de
mendicidade, na integração dos desvalidos no campo social, no auxílio à busca
de emprego e na inserção habitacional. Tudo sendo disponibilizado de modo
gratuito para quem necessita de assistência.
A região Oeste de Portugal
similarmente possui um histórico de apoios sociais deveras interessante, porém,
atualmente, principalmente nas Caldas da Rainha, a prática não corresponde à
propaganda que se faz.
Desconhece-se se existe uma
Equipa de Rua, constituída por um psicólogo e uma assistente social, munida de
uma viatura de amparo aos sem-abrigo (e aos pedintes) que proliferam pela
cidade. Sente-se a ausência, também, de um Centro de Acolhimento
Diurno e Noturno,
que possa tratar dos banhos, da alimentação e da estadia (que deveria ter
capacidade para, no mínimo, trinta utentes em situação de Sem-Abrigo).
Somente após a recuperação
física, mental e moral do Sem-Abrigo é que se pode tratar da sua colocação no
campo de trabalho. Cada pessoa que vive na rua é um ser humano, com infinitas aptidões
e, certamente, com uma profissão, que pode muito bem ser uma mais-valia, em
diversos setores, para o concelho das Caldas da Rainha.
Devido à falha imensa da Rede
Social caldense, resta à “Associação De Volta a Casa” (sob tutela do magnânimo
Joaquim Sá, e demais voluntários, que doam horas diárias de suas vidas para
ajudar a quem precisa) prestar um serviço que deveria ser, única e
exclusivamente, da responsabilidade da Câmara Municipal.
Todavia, essa Associação não
possui condições para dar todo o tipo de apoio aos necessitados, conseguindo
garantir as refeições, as trocas de roupa e os banhos, faltando, logicamente, o
apoio residencial, e todo um tratamento psicológico na tentativa de devolver
aquelas pessoas, não só ao mercado de trabalho em geral mas, também, à própria
vida com dignidade.
Todo o executivo da Câmara
Municipal, bem como os restantes políticos locais, deveriam dormir algumas
noites na rua, para sentir na pele a gravidade do problema.
O que se vê no dia a dia é o
que permite aos cidadãos tirar conclusões, no que diz respeito à questão social
caldense. E o que a nossa vista alcança é somente o esforço heroico da
“Associação De Volta a Casa” em ajudar a diminuir, e até reverter, o ciclo de
pobreza que se conhece.
Assim sendo, não pode
encontrar-se nestas precárias condições de amparo ao próximo um concelho que
surge das mãos de uma Rainha, cujas ações eram voltadas para a assistência
solidária aos carenciados e às iniciativas culturais. Com efeito, foi ela a
grande mecenas de Gil Vicente (1465-1536) e Damião de Góis (1502-1574), além de
ser a responsável pela versão impressa do livro “O espelho de Cristina” (1518)
– de autoria da poetisa e filósofa italiana, radicada inicialmente em Paris e,
por fim, em Poissy, Christine de Pisan (1363-1430) – cujo texto é considerado
como o estopim para o início do movimento feminista.
A maioria dos caldenses gosta
de apregoar que faz “caridade” para amenizar o sofrimento alheio. Lorota que
derrubamos com um simples pensamento de Eduardo Galeano (1940-2015): “Não
acredito em caridade. Acredito em solidariedade. Caridade é tão vertical: vai
de cima para baixo. Solidariedade é horizontal: respeita a outra pessoa e
aprende com o outro. A maioria de nós tem muito o que aprender com as outras
pessoas”.
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