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Qual o sentido da vida?

 

Lembre-se: você morrerá. Alguém, um dia, poderá ter o seu crânio nas mãos. Mesmo que não tenha nascido Yorick, o falecido bobo da Corte citado pela primeira vez na cena I do Quinto Ato de Hamlet, você será a personificação do Nada Absoluto, que transmitirá cadavericamente o memento mori da personagem. Portanto, pense em qual o sentido da sua vida, caro leitor. A vaidade terrena nada vale diante da transitoriedade da existência, sendo o seu desaparecimento material algo inevitável. Já a sua memória espiritual depende somente dos seus atos presentes.

É irrevogável: você morrerá. Nada restará para a filosofia, por isso apegue-se à religião, o único farta-brutos que consola o vazio. Mas lembre-se: até a vacuidade da sua crença será farelagem, pois ela, a fé, nada mais é do que uma esperança em algo não palpável.

Um dia, nem o seu túmulo será respeitado. Tudo se apagará diante do pó dos seus ossos. Por isso, amealhar, desesperadamente, o vil metal, prejudicando o seu semelhante, só adiantará o seu ingresso na terra do Nada. Tudo o que espalhou no planeta, sejam a traição, a arrogância, a falsidade, a mentira, serão os alicerces da sua essência, e aquilo mesmo que o fará cair na desesperação e no pez extremo.

A aquisição da felicidade, que leva à imortalidade da alma, consubstanciando-se em espírito, consiste em nove partes: a virtude, o conhecimento, a solidão, o prazer, a meditação, a razão, a coragem, os instintos e a contemplação. Será que você, distinto leitor, compreende qual será o caminho para chegar a essa adquirição?

O que lhe digo, com humildade, é: não se deixe subjugar pelo todo, mas subjugue o todo a si. A sua alma necessita de algo que a transporte para a felicidade e isso, com certeza, surgirá através da prática da bondade e do perdão. Aproveite, portanto, o tempo que lhe resta e, nas horas vagas, reflita sobre a morte física. Quando o pano de boca se abrir para a eternidade do seu espírito, a sua mente estará preparada, consciente e livre e, nesse instante, genuinamente, terá compreendido o sentido da vida.

Boas ações levam a boas consequências (Lei da Causa e Efeito, um exórdio essencial e inalterável do Universo). Agora pergunto-lhe: consegue usufruir de privilégios diante da miséria a que a classe política vota uma parcela dos seus cidadãos?

Se fosse vereador da Ação Social, jamais iria “laurear a pevide” para o Brasil, se soubesse que uma só pessoa está a morar na rua, na mesma freguesia onde moro, ou se todos os dias uma dúzia de seres humanos me abordasse a pedir comida, à porta de um supermercado. Ambição e egoísmo definem esse tipo de político. Um ser insignificante, que os vermes consumirão num ápice.

O sentido da matéria da vida é a morte. O que existe entre esta e o nascimento é aquilo que o define. Se essa enunciação for consolidada em amor, em preocupação com o próximo, o propósito da sua existência terá sido alcançado, e o seu espírito não vagará permanentemente entre a perplexidade e o sobressalto.

Da boca de Hamlet sai uma ponta de verdade: "Ser ou não ser, eis a questão: será mais nobre em nosso espírito sofrer pedras e flechas com que a Fortuna, enfurecida, nos alveja, ou insurgir-nos contra um mar de provocações e, em luta, pôr-lhes fim? Morrer… dormir: não mais."

Precioso leitor, você morrerá! Sendo político ou bobo da Corte. Você morrerá. Portanto chegou o momento de procurar o seu sentido da vida! Que Shakespeare nos concilie. Amém!


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Imagem: "A primeira mulher a representar Hamlet (1899)". Sarah Bernhardt (Henriette Rosine Bernard, 1844-1923). Photo Lafayette London. Fonte: The British Library.

OBS.: O cartão-postal acima mostra uma impressão fotomecânica de Sarah Bernhardt, na cena do cemitério, fazendo o célebre discurso “Ai, pobre Yorick”. Para o papel usou um crânio humano, oferecido pelo romancista francês Victor Hugo (1802-1885). Sarah Bernhardt representou, numa adaptação cinematográfica francesa, um trecho da peça HAMLET, de William Shakespeare (1564-1616). O diretor foi Clément Maurice (1853-1933). A película possui dois minutos de duração, e mostra a cena (ato V) do duelo entre Hamlet e Laertes. Esse filme foi produzido para ser exibido na Exposição Universal, no dia 1 de outubro de 1900, em Paris, França.

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