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Arte musical do Ocidente – O Classicismo

 

O século XVIII foi extremamente inovador em termos musicais. Em meados dessa centúria, Franz Joseph Haydn (1732-1809) ao utilizar figuras mais moderadas de expressão; Carl Philipp Emanuel Bach (1714-1788) ao purificar a harmonia no estilo de composição; Christoph Willibald von Gluck (1714-1787) ao imputar a primazia da música instrumental sobre os improvisos vocais da ópera napolitana; Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791) ao redefinir a sinfonia e modificar a música de câmara; Ludwig van Beethoven (1770-1827) ao ampliar a linguagem e o conteúdo musical (impulsionando o início da autonomia da forma, dando mais expressão às emoções e mais realce à consonância harmónica), entre outros, ditaram a transmutação do Barroco para o Classicismo.

Porém, creio que, a grande mola propulsora para essa mutação, foi o surgimento do Iluminismo - com os seus ideais humanos e racionais – que influenciou o desenvolvimento do pensamento insubmisso na mente dos compositores da época.

Este novo período compreende, aproximadamente, os anos 1750 a 1820, tendo o seu âmago na elegância, na objetividade, na simetria e na clareza, tanto que é também conhecido como Período Galante. A grande novidade deste ciclo é a expansão do piano, alçando-o a um estatuto de sublime relevância, e impulsionando a forma sonata, gerando estruturas requintadas e aptas a suster uma audição mais veemente, graças à sua disposição repartida em três segmentos: explanação, aperfeiçoamento e iteração do tema. A utilização desse protótipo de escrita musical converteu-se, em parte, num homónimo dos movimentos primários não somente de sonatas, mas similarmente de sinfonias e da maioria da música instrumental de então.

Carl Philipp Emanuel Bach resume o sentimento da transformação do Barroco para o Classicismo com uma única frase: “Penso que a música deve predominantemente comover o coração. Faz parte da verdadeira arte musical uma liberdade que exclui tudo o que é escravo e mecânico. Devemos tocar a partir da alma, e não como um pássaro domesticado.”

Portugal não deteve nenhuma relevância nos primórdios do Classicismo devido à inexistente educação musical nessa época, porém, após o casamento de D. João V (1689-1750) com a princesa austríaca Maria Ana de Habsburgo (1683-1754) a música obteve novo viço. Com incentivo financeiro dos monarcas, alguns músicos portugueses rumaram à Itália e à França para aprender e desenvolver estudos, entre eles encontravam-se: Francisco António de Almeida (1702-1755), António Teixeira (1707-1774), José António Carlos de Seixas (1704-1742), Frei Manuel dos Santos (1668-1737), Frei Francisco de S. Jerónimo (Jerónimo Francisco de Lima, 1743-1822), João Rodrigues Esteves (1700-1755), Marcos António da Fonseca Portugal (Marco Portogallo, 1762-1830), João de Sousa Carvalho (1745-1799), António Leal Moreira (1758-1819), João Pedro de Almeida Mota (1744-1817) e João Domingos Bomtempo (1775-1842). Uma parte, não muito extensa, do legado musical desses compositores pode ser encontrada nos mais variados arquivos de Portugal e do Exterior.

Com a existência de inúmeros templos religiosos, o distrito de Leiria recebeu diversos intérpretes afetos ao Classicismo, porém, no que trata a compositores (ou mestres de capela), encontrei poucas referências fidedignas dos nascidos nesta citada região. Dois podem ser os motivos: o terramoto de 1755 aniquilou uma boa parte dos acervos dos Classicistas de primeira e de segunda geração; as mãos humanas podem tê-los destruído, só por que sim.

Missas, Te Deum, matinas, responsórios, impropérios, miserere, tantum ergo, ofertórios, hinos, motetos, salmos de vésperas, suítes, conceti grossi, peças para conjuntos de câmara, sinfonias, sonatas, concertos, se fosse possível encontrar o que supostamente está perdido, indubitavelmente o seu destino deveria ser a edição imediata, ficando, assim, ao alcance das mãos e dos olhos de todos aqueles que ainda acreditam que somente a Arte pode salvar a Humanidade.

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