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Arte musical do Ocidente – O Pós-Romantismo

 

Determinar qual o espólio do Romantismo é empreitada tão intrincada quanto ordenar a proveniência do próprio movimento. Porém, existiu uma passagem de testemunho, o chamado Pós-Romantismo, que está alicerçada em quatro sustentáculos: o Neoclassicismo, o Impressionismo, o Expressionismo, o Nacionalismo, o Verismo (este sob manifesta ascendência do Positivismo de Auguste Comte (1798-1857)), que podemos considerar uma possível herdeira.

Nessa “nova escola”, percebe-se a existência de obsoletas leis tonais, ou seja, música para agradar ouvidos, sem inovação nos acordes ou nos ritmos. Com isso, a maioria das composições sobrevindas não se tornaram opção palpável para o engrandecimento da música. Salas de concerto a abarrotar de público não eram o reflexo seguro da evolução do idioma tonal.

Podemos até dizer que a música desprezou a presunção e ganhou simplicidade, reunindo uma oposição estética que avançou por uma retórica menos egocêntrica e mais racional, mas é pouco. Abaixo os contornos melódicos e as inovações tonais. Acima as sonoridades mimosas e artificiais, com deslumbres aquáticos, ou impressões que evocavam a noite, as nuvens, as neblinas. Tudo muito diáfano, com uma avalanche de dissonâncias, contrastando com os excessos sentimentais do Romantismo.

Vislumbramos nomes sonantes e extraordinários do período (que não conseguiram abandonar totalmente o Romantismo), entre eles: Sergei Rachmaninoff (1873-1943), Claude Debussy (1862-1918), Maurice Ravel (1875-1937), Alexander Scriabin (1872-1915), Ignacy Paderewski (aclamado como o melhor pianista do seu tempo, 1860-1941), Charles-Camille Saint-Saens (1835-1921), César Franck (o mais reverenciado organista de sua época, 1822-1890), Max Bruch (1838-1920), Serguei Prokofiev (1891-1953), Ígor Stravinsky (1882-1971), Alberto Nepomuceno (1884-1920), Itiberê da Cunha (1846-1913), Luciano Gallet (1893-1931), Francisco Braga (1868-1945) e Giacomo Puccini (1858-1924).

Os músicos desse período foram muito influenciados por Richard Wagner (1813-1883) e por Johannes Brahms (1833-1897), bem como por outros criadores anteriores, mas também pelo Jazz (uma notável porta que se abriu para que os compositores do Pós-Romantismo buscassem um aperfeiçoamento tonal. O Jazz, originário de New Orleans (Estados Unidos da América) chegou à Europa no ano de 1910, pelas mãos de Scott Joplin e outros músicos estadunidenses que foram obrigados a abandonar o seu país por sua arte não ser tratada com respeito. Cerca de trinta anos depois o Jazz afro-americano regressa a casa, levado em ombros por grandes compositores eruditos, influenciando, assim, nomes notáveis como os de Charlie Parker (1920-1955) e John Coltrane (1926-1967)).

Em Portugal não se fizeram sentir os ventos do Pós-Romantismo. Os nomes (aproximadamente cinco dezenas) surgidos no período, refletiam a legenda das mesmas leis tonais do Romantismo. Entre eles passo a citar os de maior destaque: Alexandre Rey Colaço (1854-1928), Alfredo Keil (1850-1907), Alfredo Napoleão (1852-1917), Artur Napoleão (1843-1925), Júlio Neuparth (1863-1919), Tomás de Borba (1867-1950) e Virgínia Basto (1859-1939). O que grassava no país eram as bandas filarmónicas e as fanfarras, reprodutoras de uma cultura popular muito despretensiosa, porém, genuinamente importante para a confirmação da identidade histórica da população e do que seria a sua transmissão de valores na cultura nacional.

No distrito de Leiria, os impulsos do Pós-Romantismo eram inexistentes, conhecendo-se, apenas, a música popularucha, criada, interpretada, cantada e dançada pelo povo, quase como única expressão de instrução artística. Só conseguiremos recuperar o possível acervo de compositores pós-românticos que possam ter existido nessa região (e no país), quando a Cultura possuir mais voz que a política.

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