O autor em epígrafe deixou uma
indelével marca na história da literatura em língua portuguesa. Nascido em
Leiria, a 26 de janeiro de 1878, dono de um virtuosismo encantador e de
singular afetividade, foi um profícuo homem de letras e um precursor do cinema
e da fotografia. A sua veia literária, além da poesia, das conferências e dos
textos para a tenra infância, estendeu-se, também, para as adaptações e as
traduções.
Dividindo a sua existência
entre o seu solar lisboeta e a sua casa de veraneio em São Pedro de Moel,
passou os seus dias a ler, escrever e a reunir amigos à sua volta. Viajado,
culto e profundamente dedicado à sua obra literária, construiu em torno de si
uma áurea de perfeito esteta, sendo toda a sua atividade literária adornada por
harmoniosas aspirações renascentistas.
A sua obra coloca-o no
movimento cultural conhecido como Renascença Portuguesa, conferindo-lhe,
também, o epíteto de “um dos primeiros representantes do Neogarrettismo”.
Fundador e redator da revista “Lusitânia” e colaborador de inúmeros periódicos,
entre eles “Atlântida”, “Revista de Turismo”, “Contemporânea”, “Serões”, “A
República Portuguesa”, “Ordem Nova”, etc., conseguiu manter um percurso sem
oscilações, sendo íntegro nos seus propósitos artísticos.
João do Rio (1881-1921) dizia
dele: “Fisionomia impressionadora a de Afonso Lopes Vieira, grande poeta da
geração nova. Tipo quente de português, com o cabelo caído sobre a testa e a
cor morena dos pescadores, corrigido, ou antes, acentuado por uma sóbria elegância
londrina. Vejo-o a conversar. Uma correção de dandy, uma finura ducal, o ar fatigado de um mundano.”
Afonso Lopes Vieira, com a sua
literatura, cativou leitores em Portugal e no Brasil, embora, alguns críticos
do passado digam que na poesia é considerado um poeta menor, pois não trouxe
renovação nos temas e no estilo, o certo é que o seu estro deu voz à realidade
despretensiosa e genuína de um Portugal a quem não era permitido expressar-se,
pois não pululava pelos salões da elite de então.
Segundo Jaime Cortesão
(1884-1960): “Este homem, tão enamorado do passado, tinha a inquietação do
presente e procurava, com inquietação igual, devassar o futuro. Português de
lei e, por isso mesmo, combinava muito a seu modo, na política, na arte e na
vida, o casticismo das tradições com o universalismo das ideias novas (…)
Aristocrata por temperamento, arrostou com bravura as consequências da sua
paixão morganática pelo povo. E nos últimos anos de sua vida esteve em oposição
franca e combativa ao governo totalitário de Portugal. Passava, e cada vez
mais, longas temporadas na sua casa de S. Pedro de Moel, entre as ondas, o céu
e os homens do mar. Deixou em testamento essa linda vivenda para servir de
asilo aos pescadores. Viveu e morreu em beleza. Fez da vida uma obra de arte,
uma afirmação perene de fé e um belo auto de amor à terra e ao povo.”
Afonso Lopes Vieira faz-nos
refletir sobre os horizontes da literatura. O último ato da sua vida ocorreu a
25 de janeiro de 1946, um dia antes de completar 68 anos de idade.
Álvaro Pinto (1889-1957)
remata-nos: “…famoso desde Coimbra pelas suas quadras e pelos requintes de
artista raro, foi dos poetas deste século um dos que mais nobremente cultivaram
o lirismo puro e o amor ilimitado pelos nossos clássicos. A ele se deve uma persistente
campanha vicentina, que trouxe para os palcos portugueses e para a bibliografia
dos últimos 40 anos as obras imortais do fundador do teatro nacional. A Afonso
Lopes Vieira se deve igualmente o recrudescimento dos estudos camonianos, que,
a par das suas obras originais e primorosas reconstituições de velhos textos,
tinham seu espírito profundamente lusitano em permanente criação de Cultura.”
Longa vida literária a Afonso
Lopes Vieira. Um autor do Oeste, com pujança nacional.
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