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No Silêncio das Noites Longas

 

No recente dia 25 de fevereiro, no The Literary Man Óbidos Hotel, a escritora obidense Valentina Tomaz lançou o livro cujo título pode ler-se em epígrafe. Foi uma sessão muito concorrida, esgotando a lotação do salão cultural daquela unidade hoteleira. O evento contou, na mesa principal, com a autora em questão; o ex-presidente da Câmara Municipal de Óbidos, Telmo Faria; o apresentador da noite, o jornalista Francisco Aleixo; bem como o prefaciador do volume, este que vos escreve.

“No Silêncio das Noites Longas” é uma evocação, uma homenagem a José Carlos Rosa Santos (1964-2022) e, como escrevi no prefácio: é o extravasar de sensibilidades. Quando duas pessoas se conhecem, se apaixonam, se amam, os véus dos céus dos multiversos ficam repletos de raios flamejantes, de sóis grandiosos e de gotículas de um refrescante licor, preparado com as mais intensas, saborosas e delicadas frutas, retiradas de um paraíso, ocultado dos ímpios, cuidado por elfos e gnomos celestes.

A história sensível deste livro está repleta de amor. Não apenas terreno. Etéreo. Entretecido com as linhas de Eros.

A alma que o escreveu aspira a ser espírito e, quando essa graça a atingir, suspirará pelo reencontro com aquele que a motivou a escrever, a derramar aljôfares de uma saudade perene. Assim, completos, seguirão pela Vida de todos os dias, porém, sem horas para os guiar, pois ali, naquele limiar, o Tempo é senhor de si e não de todos.

São jovens, tanto a alma quanto o espírito. São efebos e assim permanecerão. Pois só quem ama pode almejar manter a eterna juventude. Só quem ama, verdadeiramente, descobriu a sua Fonte, tantas vezes procurada.

Quando o Sol aspergir as fascinações, e os riachos correrem para o seu destino, dois seres diáfanos seguirão o seu curso, a caminho da sua perpetuidade, de mãos dadas e olhar cravado na infinitude da vereda, enquanto alguém, do cimo de uma nuvem, dirá: e de Luz serão feitos os espíritos, que se moverem por sobre o arco-íris e as transparências.

“No Silêncio das Noites Longas” é uma nítida evocação de bem-querer, sendo igualmente um caminho, que nos leva a recordar os moinhos de cana criados pelo José Carlos Rosa Santos, na praia de Salir do Porto, local paradisíaco que se o soberbo romancista Henrique Maximiano Coelho Netto (1864-1934) tivesse conhecido, provavelmente diria:

“A trilha agreste, tão raras vezes percorrida, forrada de musgo fino, por vezes desaparecia em mato. Nos altos ramos do arvoredo, colgados de cipós dourados e de parasitas floridas, era incessante o voejar de pássaros e de insetos. Vozes cochichavam na espessura, vozes alegres, como de crianças que brincassem, combinando traquinices, logo, porém, pelo brilho que atraiu meus olhos, compreendi que o ruído risonho era de um córrego que defluía por entre pedras vestidas de limo. Quer frescura balsâmica! Aqui, ali um nimbo, um disco avaro, um raio de sol cortando em diagonal a sombra”.

Ou seja, um local romântico e aprazível para cultivarmos o amor e equilibrarmos a harmonia do mundo.

Devo, por fim, congratular a Editora La Traviata, pois, “No Silêncio das Noites Longas” é, graficamente, um livro belíssimo. De parabéns está, também, a fotógrafa Odete Frazão, incansável e de um profissionalismo ímpar, que ajudou a abrilhantar a noite, deixando para a posteridade excelentes testemunhos visuais, que poderão ser vistos no Site daquela casa publicadora. Deixo aqui, igualmente, um sinal de apreço pela presença da comunicação social, incansável no apoio ao surgimento do citado livro.

Há noites culturais memoráveis, aquela foi, sem dúvida, uma delas.

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