No dia 7 de fevereiro de 2020,
numa publicação em outro veículo de comunicação, explanei acerca do excelente
“Crítica della Víttima”, do italiano Daniele Giglioli, um livro que “investiga
a origem da ideologia da vítima e a consolidação de uma estratégia de lamúrias
que divide a sociedade em réus e vítimas, vítimas em algozes (…) Em lugar das
ambições de emancipação e transformação que caracterizam a modernidade,
Giglioli defende que hoje é a retórica da vitimização que mais captura o
imaginário social. Foi explorando o ressentimento dos que se consideram vítimas
do sistema, que, Donald Trump e a coalização liderada por Giuseppe Conte na
Itália se elegeram. O triunfo do vitimismo estaria ligado ao retorno de afetos
políticos de implicações catastróficas: Hitler e Mussolini chegaram ao poder
culpando os outros, diz. Agora, como à época, a popularidade do vitimismo teria
ligações com a crise do regime democrático, a sensação de que há um fosso
intransponível entre cidadãos e elites políticas e financeiras.” Esta
vitimização é, assim, uma corrente transformadora de escroques em vítimas.
Tornando-os desculpáveis e até, no limite, acarinhados pela comunidade.
Em Caldas da Rainha a referida
técnica também faz escola e é usada, com mestria, por alguns insignificantes
indivíduos. Estão sempre esperançosos e expectantes à espera de que surja
alguma crítica sobre as suas atitudes políticas que lhes permita arvorarem-se
em grandes padecentes de ataques pessoais, retirando daí dividendos. Achaques
deste tipo levam-nos exatamente aos pontos discutidos pelo notável Daniele
Giglioli, e eles sabem-no muito bem. Mas não sabem mais nada além disso, porque
não leem, não estudam, não se preparam para o moderno mundo globalizado que
está diante de nós.
As atuações baseadas em jogos
de “coitadismo” e vitimização podem resultar para o estreito meio ao redor do
político medíocre (e contam sempre com o apoio dos que lhe são idênticos, e que
nada trazem de bom à sociedade), contudo, para a maioria das pessoas (os
eleitores conscientes) fica claro que o que está em jogo é, tão-somente, que
esse indivíduo possui um claro desejo de ascender politicamente. Ser vítima, ou
ter acessos de “coitadismo”, só demonstra o óbvio: falta de argumento, nulidade
de conhecimentos gerais, total desprezo pelos poucos apoiadores que,
inocentemente, depositaram nele a esperança da busca por ideais elevados e
respeito pelas pessoas do seu concelho.
A Democracia merece criaturas melhores
nos cargos públicos, especialmente indivíduos que estejam em ação política sem esperar nada em troca. O que se
vitimiza, somente para angariar gestos de simpatia e para tentar diminuir os
outros, acaba por ser enredado numa teia muito próxima aos apelos das políticas
Extremas, o que é muito perigoso para os cidadãos, pois passa a desenvolver mururus de despotismo e prepotência, o
que pode significar que está a um passo de tornar-se um ditador.
A melodia dos tiranos é péssima,
pois, como nada entendem de música, arruínam o trabalho da orquestra. A
chorumela bacoca, o vitimismo barato desses mancebos, que acreditam piamente
que possuem algum valor nas lides autárquicas locais, não acrescentam nada ao
país. Do seu lado ficam os (poucos) mesmos de sempre, outros
pseudo-qualquer-coisa que, assim como eles, querem subir a qualquer custo,
passando por cima de tudo e de todos. Elementos que, não sendo parados a tempo,
ao chegarem à liderança da lide partidária a que pertencem, deixam um estrago
que demorará anos a reparar. É muito apropriado, aqui, o pensamento do filósofo
Edmund Burke (1729-1797): “Quanto maior o poder, mais perigoso é o abuso”.
Talvez,
em época de eleições, se a maioria da população fosse às urnas, sabendo
antecipadamente quem são os candidatos, através de uma cuidadosa análise (que
deveria durar todo um mandato autárquico) passaria a perceber que cada vez mais
são necessários professores na política. Já há algum tempo que - para cargos de
elevada importância - voto pela profissão, porque creio que somente os
educadores estão preparados para lidar com a evolução humana e com o
significado da Democracia.
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