Apresenta-se-me hoje um texto de Agustina Bessa-Luís intitulado: O Dourado. Sinto-o como uma das produções menos profundas dessa autora, uma escrita que não preencheu o vazio que me vinha na alma. O Dourado é uma personagem marcada pela sede de riqueza e posse, que não vê nenhum problema em passar de lanceiro do reino a saqueador de casas senhoriais. Pronto, está contada a história. A autora não deu atenção a algumas situações na acção da trama, que poderiam enriquecer todo o texto como, por exemplo, fazer uma descrição mais detalhada da personagem central, para levar o leitor a perceber o real motivo da sua mudança de “profissão”, ou seja, de lanceiro do Rei a saqueador. Toda a acção acontece muito rapidamente, sem o primor do detalhe “queirosiano”, fazendo com que a trama seja muito leve, e que tudo o que se apresenta seja muito previsível. Desenrolo aqui um certo gosto literário por Eça de Queirós, e faço um julgamento deveras perigoso em relação a Agustina Bessa-Luís, concordo, porém, o certo é que esperava bem mais desse conto, algo que me fizesse apontar para o preciosismo do pormenor, do “piscar o olho” da personagem principal para com o ávido leitor. Nada aconteceu. Fiquei, portanto, decepcionado quando percebi que não existe, no desenvolver da trama, aquele raro toque que outros textos de Agustina Bessa-Luís possuem. Para piorar a situação, aborreci-me profundamente com as várias quebras de ritmo existentes por todo o conto. Algo impensável para mim, que estou sempre à procura de uma certa musicalidade em cada texto. Não compreendo, o motivo que levou a autora a “economizar” a possibilidade de descrever situações que poderiam enriquecer, em muito, todo o trabalho. Fiquei com a sensação que não disse tudo o que queria dizer porque não lhe apetecia prolongar a escrita. Ou, se quiserem, não quis “investir no enriquecimento vocabular” do tema. Mas, nem tudo é mau, pois continuo a gostar da literatura de Agustina Bessa-Luís, e a acreditar que seria muito justo se fosse premiada com o Nobel pelo conjunto da obra.
Existem amigos que, quando partem para os confins do Desconhecido, nos deixam uma lacuna na alma, difícil de preencher. Foi o caso do Faria de Abreu. O primeiro contacto que tive com ele foi em Coimbra, no ano de 2001, quando fui obrigado a levar o meu pai, em consulta oftalmológica, de urgência. Após aquele dia, travamos uma salutar amizade, com vários telefonemas em diversos períodos nos anos que se seguiram, e até inúmeras visitas aquando das minhas várias passagens pela Terra dos Estudantes. Os colegas diziam que ele era o melhor oftalmologista de Portugal, a Universidade de Coimbra tecia-lhe elogios e louvores, os pacientes – o meu pai incluído – diziam que ele era um médico respeitador e dedicado. Eu digo, simplesmente, que ele era uma figura humana sensível, logo, alguém que compreendia o valor da amizade. José Rui Faria de Abreu faleceu na manhã do dia 27 de novembro de 2012 no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra , aos 67 anos de idade,...
Comentários
Rui, fiquei curioso, em que livro da Agustina você encontrou o conto "O Dourado" ?
Cumpts!
Peço desculpa pela demora na resposta.
Em 2007 encontrei "O Dourado" publicado em separata. Creio que alguma livraria ainda o deve ter, ou então um alfarrabista.
Veja também nas editoras "Minutos de Leitura" e "Guimarães".
Cumprimentos
RC .:.
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