No atual largo Nossa Senhora da Ajuda, em Gaeiras, Óbidos, encontramos
uma Capela, mandada edificar no século XVIII, pelo beneficiado António da Silva
e Faria (1696-1804), na, então, Quinta de Nossa Senhora da Ajuda.
Esse senhor, depois de servir a El-Rei D. João V (1689-1750), tornou à
Quinta e, ali, estabeleceu, também, a Casa Pia - onde recebeu e protegeu os
desvalidos -, providenciou a recruta de dois mestre-escola (ele para os
meninos, ela para as meninas, para auxílio às primeiras letras), e instituiu a
Casa das Irmãs da Caridade.
Provavelmente, o seu regresso ocorreu somente após 1759 (ano em que
completou 64 anos de idade), pois, nesta data específica - segundo documento, arquivado
nos Feitos Findos, Fundo Geral, Letra A, mç. 1505, nº 5, do Arquivo Nacional da
Torre do Tombo - ainda estava incorporado
aos afazeres da Sé Patriarcal de Lisboa.
Na centúria XVIII, o Século das Luzes - enquanto as ideias Iluministas
ultrapassavam fronteiras, incitando às transformações, às Revoluções, como a Francesa
e a industrial - Gaeiras vivia modorrentamente, enfeitada com alguns
estrebuchamentos agrícolas e mentalidades alheadas à evolução que se infundia
na Europa.
Essa tranquilidade e alienação, aliadas à pouca instrução da maioria da
população, permitiam que a religião fosse imposta como um amparo às famílias.
António da Silva e Faria, quando para ali regressou, deu, imediatamente,
início a todos os benefícios que propôs para a região, em troca recebeu, por
parte da população, um respeito e uma admiração enormes. Contou, muito, o facto
de ser próximo de El-Rei D. João V, e, também, 1º Mestre-de-cerimónias da Sé Patriarcal
de Lisboa, que o colocava muito perto do Cardeal Patriarca. Era, sob os olhos
do Império e da Igreja, a pessoa certa para agregar, a turba solta, em
comunidade organizada e “feliz”, para isso, seria necessário erguer naquele
local “a casa para o culto”.
Nos seus primórdios, a Capela de Nossa Senhora da Ajuda pertenceu à
Ordem de São Thiago de Óbidos, possuindo somente um sino sem torre e um adro.
A citada Capela dispõe, atualmente, de um risco retangular, e é composta
por uma nave com teto em caixotões, com as suas traves firmadas em escoras,
ordenadas de modo longitudinal por toda a extensão da mencionada nave. O seu
coro-alto, de peitoril em ferro forjado, carece de luz e de um espaçamento
adequado. A sua tribuna é de corte orbicular, com balaústres. Passa, quase
discreto, o seu arco “apoteótico”, de volta perfeita, que rompe para a
capela-mor, com revestimento em abóboda de berço, aberta por duas janelas
transversais. A frontaria é traçada por uma portada em verga direita rematada
por um óculo, tendo no seu anverso uma despretensiosa torre sineira. O relógio
que lá se vê foi instalado tardiamente, em 1980. É importante referir que a
imagem da padroeira Nossa Senhora da Ajuda é multicolorida, porém, realçada a
dourado, tendo a sua origem, também, no Século XVIII.
Apenso ao altar-mor acha-se o sepulcro de António da Silva Faria, o
beneficiado.
Se pararmos para observar a história daquela centúria, alcançamos águas
que correram fortemente na França, entre elas: A tomada da Bastilha, a prisão
da monarquia, e a libertação dos presos políticos, propulsores da Revolução
Francesa; E, no Brasil, a insurreição dos Inconfidentes Mineiros - sob
liderança do grande Tiradentes (Joaquim José da Silva Xavier, 1746-1792) –
rebelando-se contra a Coroa Portuguesa e as suas reprováveis medidas sociais e
económicas.
Enquanto as transformações políticas se acentuavam por diversos
quadrantes, e os grandes filósofos clareavam os sombrios recantos da mente
humana, algumas dezenas de fieis adentravam portas, para cultos nada
esclarecedores, numa graciosa Capela, fincada no sossego de uma região,
ofuscada por ideias que ainda hoje não nos tornam independentes e fortes.
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