É curioso, o modo
como algumas pessoas exacerbam o seu grito ditatorial. Naturalmente, cada um de
nós possui, com mais ou menos exuberância, uma veia saltada, cheia de sangue
despótico, mas, alguns chegam a exageros.
Tem sido frequente, ao entrar
numa loja, de qualquer espécie, antes de um “bom dia” ouvir um grito saído das
entranhas mais tirânicas que existem. Um estridor que traz em si o peso nefasto
do que cada um tem de pior, sim, porque aquele “COLOQUE A MÁSCARA” que se ouve
é o vociferar do mais poderoso espírito de autoridade bacoca.
Das duas, uma: Ou o desgraçado
dono do berro possui uma clara tendência para o alistamento (neste caso não
podemos chamar de militância) num partido de extrema-direita, ou é simplesmente
tolo.
Pode ser, também, uma sumária
questão de falta de educação, e, se for o caso, convém ser resolvido de modo elementar:
Um curso intensivo com a Sra. Bobone (risos).
Como Portugal é um país de
especialistas em tudo - o que se percebe após uma consulta às redes sociais -
não deve ser difícil descobrir-se a cura para a tolice (tentar curar as
síncopes de extrema-direita é mais complexo, pois requer a frequência num curso
de História, de Ciência Política, de Relações Internacionais ou de Filosofia).
As boas relações humanas são
essenciais para o aperfeiçoamento social, intelectual e individual de cada um
de nós. Saber interagir com o outro é uma arte.
Como questionava Tales de
Mileto (c.624-546 a. C.): “Existe alguma ordem por trás do que
aparece? O que aparece é simples alucinação que esconde uma verdade oculta?”
Toda a vez que tomamos uma
decisão - neste caso a de admoestar a pessoa que, por descuido, esqueceu-se de
tirar a máscara do bolso, escarrapachando-a, colorida e visivelmente, na
“fronha” - devemos ter em conta que o bom senso e a boa educação devem andar
irmanados. Não quero, com isto, perder tempo a explanar acerca da diferença
entre o conceito de relações humanas e de relações públicas, mas, outrossim, e
apenas, o de comunicar o básico acerca da importância do “bom dia” anteceder ao
irritante coice em forma de frase.
Com um mínimo de educação
existirá, certamente, uma melhor qualidade de vida, o que, provavelmente,
impulsionará o cliente a regressar ao estabelecimento, refletindo-se em mais
dividendos para o cofre da empresa e, por tabela, tal qual o derrube de uma
bela fileira de dominós, um aumento de ordenado para o empertigado funcionário.
Tudo está relacionado. Se respeitarmos a ordem que surge por trás do que se vê,
compreendemos que esta é amparada por uma única verdade (que jamais deveria
estar oculta): A falta de cortesia não move montanhas.
Continuando com Tales de Mileto:
“há algo de comum a tudo o que existe, uma unidade que pode ser encontrada em
meio à diversidade que nos cerca…”, logo, um grito primal poderia ser emitido,
também, pelos que cometeram o “delito” de esquecer a colocação da máscara,
porém, em silêncio, atiram-no para a tumba das suas entranhas.
A presente obrigatoriedade de
uso da máscara (que de modo nenhum contestamos) permitiu algo “extraordinário”
e paradoxal: a democratização da ditadura. Dando oportunidade a todo o funcionário
de loja, ou instituição, para se sentir importante e exacerbar autoridade. De
tal modo que, com os egos assim inflamados, nos faz parecer que o próximo passo
que darão não será o de aumentar o tom de voz, mas sim o de erguer uma bandeira
fascista.
Gritemos, então, para dentro de
nós! Revoltados com o facto de não conseguirmos compreender aquilo que nos
liga. E, usemos máscaras, evitando, assim, algum desafogado intestino a
caminhar em nossa direção.
Comentários
Li com muito interesse um artigo seu no Jornal das Caldas intitulado "O meu bisavô a harmónica e o Grilo" e ficar-lhe-ia muito grato se entrasse em contacto comigo para uma breve conversa sobre o tema.
Obrigado.
Meu email é: joséhenriques3d@gmail.com
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