Caldas da Rainha possui um raro
acervo cinematográfico, porém, não contempla um espaço adequado para o expor
permanentemente.
O cinéfilo Mário Lino, coordenador
do Museu do Ciclismo, é o feliz proprietário desse nobre património relacionado
com a Sétima Arte. Para que esse pecúlio permaneça nesse concelho urge ultimar
a criação de um Museu do Cinema, o que, creio, não será difícil para uma cidade
que se auto-denomina “das Artes”.
O espólio em questão, possuindo
um local apropriado, permitirá ao visitante uma abordagem amplamente singular,
que, naturalmente, poderá repercutir, de modo específico, num olhar apaixonado
sobre a conceção do que foi, é, e será, o cinema.
Toda aquela riqueza
cinematográfica é constituída por documentos diversos, cartazes, fotografias, além
de uma excelente gama de projetores de diferentes épocas, entre outras
preciosidades.
Esse acervo possui uma esplêndida
inventariação, tanto das salas de cinema quanto do histórico cinematográfico de
Caldas da Rainha, bem como uma magnificência singular acerca daquela arte em
diversos pontos do globo terrestre.
É bom que se assuma que existe
um entrelaçamento entre os museus e as salas de cinema, amplamente comprovado
pelo investigador Philippe Dubois, da Universidade de Paris III (Sorbonne
Nouvelle), um dos melhores na área da imagem, e um renomado autor, tendo
publicado estudos importantes acerca do audiovisual (“Cinema, vídeo Godard”, “O
ato fotográfico”, etc.). Um pesquisador que compreende a extensão artística do
cinema e a sua conformidade com a arte contemporânea, comumente conhecido como
“Cinema de Exposição”. Expressão retirada do crítico Jean-Christophe Royoux,
que fixa a permuta do cinema para as galerias de arte e os museus, uma antítese
ao costumado “cinema de projeção das salas escuras”.
Criar um Museu do Cinema nas
Caldas da Rainha pode permitir a qualquer visitante uma melhor compreensão
estética, bem como uma assimilação histórica, do que é a Sétima Arte, além de
crivar com certezas a ideia desse concelho ser uma terra vocacionada para as
artes.
O comum das pessoas em Portugal
considera o cineasta um não-artista, desvalorizando abertamente o trabalho
destes profissionais, isso porque o cinema nem sempre foi bem exposto sendo visto
como uma questão cultural de somenos importância, relacionado ao entretenimento
mais despretensioso. Esse pensamento foi sendo modificado nos concelhos que
possuem uma Cinemateca (Lisboa) ou um Museu do Cinema (Lisboa e Melgaço), mas ainda é pouco. Sendo, também, por
isso, importante a criação desse museu nas Caldas da Rainha. Assegurar o cinema
como um domínio da arte será a completa valorização de todos os que nele
desenvolvem os seus projetos, seja à frente ou por detrás das câmaras.
O Museu do Cinema das Caldas da
Rainha, pelo acervo já existente, pertença de Mário Lino, pode ser um amplo
repositório do que se fez relacionado
com o documentário, com o filme de entretenimento, de autor, e experimental.
Mas, pode ser, também, um arquivo ímpar, pois há a possibilidade de
sensibilizar outros colecionadores, no que trata a efetivarmos doações
importantes das coleções dos periódicos que contam a história do cinema
(Cahiers du Cinéma, Cinelândia, Motion Picture, Cine Jornal, Coleção Cinema,
Set, Cena, Filmelândia, Empire, Première, Fangoria, Cinema, Take, Pipoca, A
Cena Muda, etc.).
Esse espaço poderia abrigar,
também, uma sala de projeção de 35mm para o cinema de autor, privilegiando
aquelas películas que, obviamente, não possuem espaço nas grandes salas e, já
agora, uma biblioteca especializada em cinema, que tanta falta faz aos amantes
da Sétima Arte.
Meios financeiros o concelho
das Caldas da Rainha possui. Acervo e mentes especializadas também! Vamos,
portanto, deixar o campo das ideias e passar para o terreno da ação?
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