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Cuidar da casa alheia

 

Acho muito curioso o modo enérgico demonstrado por alguns caldenses e obidenses, no que trata à recente eleição para a presidência dos Estados Unidos da América. Gostaria de ver as populações, desses dois concelhos, preocupadas, isso sim, com as suas terras, com o desempenho das suas autarquias, e com a prestação da Oposição em ambas as localidades.

“Com certeza, se estivesse nos “States” votaria em fulano…”, foi o que ouvimos por estes dias. Louvo a atitude, mas, pergunto: Porque não vão às urnas em território português? Porque limitam a sua atuação política a banais discussões em redes sociais?

Para transformarmos um município morto num de grande produtividade, em todas as áreas, precisamos de envolvimento popular. Se nunca nos dispusermos a atuar daremos força à não-mudança. Nada é mais prejudicial à Democracia do que ajudarmos (abstendo-nos de ir às urnas) a manter um partido no poder por mandatos consecutivos. Sendo, também, muito nocivo, por razões óbvias, estimular as maiorias absolutas, instrumento vigoroso para o acomodamento, para perniciosos jogos políticos, e para o abandonar de projetos que, até, poderiam ser marcantes para as regiões. 

Os caldenses, e os obidenses, têm preguiça para ir às urnas, fazem-no, apenas, ao sabor de uma maré recheada de estratégias de marketing. E, quando decidem tirar o corpo do sofá, votam sem análise, sem ponderação, sem puxar pela memória para relembrar os atos falhos dos políticos em quem votaram em eleições passadas. Mas, dão palpites na eleição alheia. Discutem o Biden e o Trump sem ter a menor ideia de quais as políticas praticadas por eles e, principalmente, o que pode significar, para Portugal, a eleição de um deles nos Estados Unidos da América.

Em Portugal ocorrem sessões significativas, em estruturas que deveriam ter assistência popular (quando são públicas). Refiro-me às Assembleias Municipais e às Assembleias de Freguesia. Estes são os locais ideais, para que se perceba o que estão a fazer aqueles políticos que receberam o seu voto, e que são, ali, os vossos representantes, a vossa voz.

Outro ponto de relevo, no que trata à política portuguesa, diz respeito à falta de rotatividade. Manter alguns políticos doze anos num órgão autárquico, é o mesmo que abdicar de projetos modernos que possam beneficiar a qualidade de vida de todos os munícipes.

Faço parte da Assembleia de Freguesia da União de Freguesias de Caldas da Rainha – N. S. do Pópulo, Coto e São Gregório desde 2017, e, somente em uma reunião, fiquei satisfeito com a presença dos fregueses (sessão decorrida na Fanadia). Naquela noite, a participação da população fez com que o debate político fosse acirrado, e as reivindicações apresentadas criassem, nos representantes da dita Assembleia, bem como no Executivo da citada Junta, um sentimento de obrigação e de necessidade de fazer valer as nossas participações, com a apresentação de boas Propostas, principalmente, com o dever de tentar fazer o melhor pela nossa comunidade.

Agora um desafio para si, caro leitor: Esqueça as eleições dos outros países. Manter-se como politólogo de sofá, e de rede social, não beneficia a sua aldeia, vila ou cidade. Manifeste-se de outro modo: Filie-se ao seu Partido de preferência. Fazendo parte de uma militância partidária poderá ter voz ativa; apresentar-se a votos em uma Lista; e aumentar o seu conhecimento acerca de como se faz política concelhia. Participe, filie-se, antes que um medíocre tome o seu lugar. Dê a cara a votos. Seja a pessoa que vai mudar, para melhor, o destino do seu concelho.

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