Em sua origem, o Natal surgiu para celebrar o Deus Sol no solstício de inverno.
Há indícios
históricos de que o primeiro louvor natalício, como o conhecemos, tenha
ocorrido no século II, na Turquia. Depois, no século III, a Igreja Católica
passou a encorajar a conversão dos povos pagãos - então dominados pelo Império
Romano - a glorificar o nascimento de Jesus, o Homem de Nazaré. No século IV
estava consolidada a festividade entre os religiosos ocidentais, com a primeira
comemoração em Roma no ano de 336. Já no ano 350 o Papa Júlio I (?-352)
coordenou uma extenuante investigação e proclamou o dia 25 de dezembro como
data-maior católica.
Por estes lados,
as luzes natalinas já estão acesas. O comércio colocou brilhos e luzes da época
em suas montras; Uma cadeira para o bom velhinho - aquele, de barbas brancas e
fato vermelho – foi instalada numa grande superfície comercial; Aguarda-se,
apenas, o tilintar dos sinos, a anunciar a aproximação das renas, carregadinhas
das prendas para ansiosos petizes, e adultos que não perderam a magia do
momento.
Tudo parece
apontar para um instante de alegria e boa disposição. Mas, existe um entrevero
em toda a história: A população não está com espírito natalício. O motivo é
claro: O planeta está a ser assolado por uma das mais violentas pandemias de
que há história. Este ano anómalo talvez seja um dos possíveis desfechos da
irresponsabilidade do ser humano, que vem, ano após ano, a causar ao planeta um
colapso ambiental, levando-o a uma emergência climática sem precedentes.
Se ouvirmos, e
lermos, atentamente Paul Crutzen (1933-), prêmio Nobel de Química em 1995,
damos razão à sua análise detalhada acerca do grau de colisão destrutiva de
toda a atividade humana sobre a natureza. Esse soberbo investigador afirma
categoricamente que o planeta Terra entrou, há décadas, em uma nova era
geológica, que ele batizou de Antropoceno, ou Época da Dominação Humana,
caracterizando uma nova fase da crónica terrestre, onde o ator principal, o ser
humano, é o motor da deterioração ambiental, e o portador de práticas que são
incentivadoras de uma desmesurada e impensável hecatombe ecológica.
Inevitavelmente,
e segundo o citado pesquisador: “A Terra entrou em uma espiral da morte. A 6ª
extinção em massa das espécies e a crise climática são as ameaças mais urgentes
do nosso tempo. E o tempo para reverter esta espiral da morte está se
esgotando. Será necessária uma ação radical para salvar a vida no Planeta. O
progresso demo-econômico tem gerado externalidades negativas para o meio
ambiente |…| O conjunto das atividades antrópicas ultrapassou a capacidade de
carga da Terra e a Pegada Ecológica da humanidade extrapolou a Biocapacidade do
Planeta. A dívida do ser humano com a natureza cresce a cada dia e a degradação
ambiental pode, no limite, destruir a base ecológica que sustenta a economia e
a sobrevivência humana.”.
Para além da
catástrofe ambiental, temos a calamidade instalada no nosso organismo. A nossa
fragilidade orgânica, devido à péssima alimentação que ingerimos diariamente,
não permite que as nossas defesas consigam combater uma simples gripe, quanto
mais um vírus tão eficaz como o da COVID-19.
Portanto, aquilo
que vivemos, neste momento, nada mais é do que o efeito daquilo que causamos, a
nós, e ao nosso planeta.
Como podemos
manter o espírito natalino? Creio que de um modo simples: Protegendo-nos, para
preservar o próximo. Assim, quem sabe, o Natal de 2021 seja vivido por todos
aqueles que estão a ler este artigo.
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