Nos anos 90, do Século XX,
diversos estudos - realizados por especialistas, por iniciativa do município, e
com promessa de apoio por parte do Governo – previam a Candidatura de Óbidos a
Património Mundial reconhecido pela UNESCO.
As ruínas romanas de
Eburobrittium, a Lagoa de Óbidos, a classificação de Monumento Nacional, a
riqueza do centro histórico, a magnificência do Castelo, a grandiosidade da
escola de pintura barroca, fundamental em todo o Barroco português, são alguns
dos imperativos importantes para que esse desejo se torne realidade, porém, até
hoje a engrenagem não avançou, pois é acentuado o desinteresse da autarquia em
tal promoção.
Óbidos possui vestígios e
elementos suficientes que confirmam a sua particularidade e a sua importância
nos quesitos História e Património, o que significa que, por puro descaso
político não se prosseguiu ainda com
essa candidatura. Se há culpados, estão em todos os lados, da Esquerda à
Direita, porém, naturalmente, a maior fatia pertence a quem está no poder.
Inevitavelmente, se a Vila de
Óbidos fosse reconhecida como Património da Humanidade, a região daria um salto
qualitativo importante também na questão financeira, na obtenção de apoio
técnico especializado para diversas áreas, sendo também uma alavanca para a
economia local e, quem sabe, finalmente, conseguir-se-ia organizar o turismo (que
nos últimos vinte anos tem sido insuflado por muita propaganda, porém, sem o
mínimo de preocupação com quem vive e trabalha na região).
Deixei, desde tempos
imemoriais, de ouvir falar na criação da Comissão da Candidatura, na elaboração
da Carta do Património e na definição do modelo de gestão de todo o processo.
Ou seja: A Situação empacou e a Oposição adormeceu. Típico de quem quer a
política apenas para o seu bel-prazer, e não para, de facto, ajudar o concelho
e a sua população.
Se verificarmos a lista estabelecida
do património mundial, elaborada pela UNESCO, encontramos 890 bens, sendo, a
sua maioria (689) de âmbito cultural, o restante está dividido em naturais
(176) e mistos (25), a Vila de Óbidos enquadra-se perfeitamente em todos eles.
Para que a Vila seja uma das
grandes candidatas a Património da
Humanidade, é necessário uma preocupação mais cultural, deixando o
entretenimento em segundo plano, Sendo fundamental, também, que se dê outra
atenção ao centro histórico, com outra (existe alguma?) estratégia de
recuperação patrimonial. As antigas promessas (“capacitação cultural das
escolas, dinamização do Parque Tecnológico, novo modelo de Turismo, tudo
assente no conhecimento, cultura e criatividade”) ficaram pelo caminho, sendo
engavetadas como simples promessas de campanha política. Coisa natural, de
quatro em quatro anos e, infelizmente, ditas por políticos de todos os
quadrantes.
Recordo-me, inclusive, de uma
Universidade portuguesa, “interessadíssima” em preparar a candidatura do centro
histórico de Óbidos. Assunto também atirado para trás das costas. Deveria ser
mais uma promessa de campanha “para ajudar a eleição de algum amigalhaço político”.
O modo como em Portugal se
tratam os assuntos culturais, especialmente aqueles que podem alavancar as
economias locais, mostram-nos que algo vai mal nas escolhas eleitorais da
população.
Segundo Michel Foucault: “A
proposição está para a linguagem como a representação está para o pensamento: a
sua forma é a um tempo a mais geral e mais elementar, pois que, se a
decompusermos, já não encontramos o discurso…”, e de arengo em arengo, promessa
em promessa, as mediocridades avançam, e os territórios perdem, neste caso
específico, quem perde é uma das Vilas mais importantes da Europa. Paz à sua
alma!
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