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Dinossauros no Oeste

 


Não, não estou a referir-me a nenhum político perpetuado no cargo. Cinjo-me apenas aos animais ornitodiros, do ramo clado Dinosauria, que habitaram o nosso planeta, no Jurássico Superior, há aproximadamente 150 milhões de anos.

É de louvar o incansável trabalho, de diversos paleontólogos portugueses e estrangeiros, de tentar resgatar essa importante fatia da história antiga, principalmente na região da Lourinhã. Porém, creio que com alguma diligência, por parte da Câmara Municipal das Caldas da Rainha, seria também possível avançar com uma concertada investigação na extensa área da Serra do Bouro (até Salir do Porto), onde se encontra uma jazida de icnitos (pegadas subdigitígradas de grandes e pequenos terópodes, marcas de mãos de saurópodes e um trilho bem delineado de rastos de saurópodes), com uma idade compreendida entre os 157 e os 152 milhões de anos.

A Bacia Lusitana/Lusitaniana, de Aveiro ao Cabo Espichel, goza de uma imensa riqueza em vestígios desses seres magníficos (pois aquela era uma área propícia para o seu desenvolvimento, devido, principalmente, à rica vegetação e às abundantes linhas d’água existentes), o que significa que, por contar com as mesmas condições, Caldas da Rainha também contenha indícios de jazidas paleobiológicas, das sociedades existentes no Jurássico Superior (e, provavelmente até do Inferior e do Médio).

Se for empreendido um trabalho conjunto, entre a autarquia caldense, a Universidade Nova de Lisboa (através do seu departamento de paleontologia); A Sociedade de História Natural; A Universidade de Coimbra (através do seu Laboratório de Geologia Sedimentar e Registo Fóssil); A Universidade de Évora; E a Universidade de Lisboa (através do seu Departamento e Centro de Geologia da Faculdade de Ciências), certamente será possível encontrar sedimentos de conjuntos de fósseis de dinossáurios em toda a área da Serra do Bouro (até Salir do Porto).

O Oeste é o segundo domicílio de numerosos paleontólogos, investigadores e arqueólogos, vindos das mais diversas paragens e, conforme inúmeros estudos, os achamentos têm suplantado, em muito, todas as expectativas.

O que muda num local, quando os peritos encontram jazidas de icnitos ou fósseis de dinossauros? Tudo! Principalmente o modo como passamos a observar a própria aldeia, vila ou cidade onde se deu a descoberta.

Portugal é o sétimo país, de um total de vinte e cinco, que contém vestígios de dinossauros. Loulé, no distrito de Faro, Algarve, é atualmente a principal jazida que remonta ao Triássico Superior, compreendido entre 237 milhões e 201,3 milhões de anos, algo extraordinário, pois isso leva-nos a uma época em que os atuais sete continentes eram apenas um, conhecido como: Pangeia.

A costa portuguesa possui muitas incidências de jazidas fósseis, A zona Oeste é a mais abundante. Se uma bem planeada investigação for efetuada nas Caldas da Rainha, este concelho entrará num grupo muito restrito, a nível nacional, e muito mais reduzido num grau internacional. Um luxo, pois transformará esta região num extraordinário ponto turístico.

A paleontologia possui duas companheiras: A Biologia e a Geologia. A política entra apenas como facilitadora.

O esforço caldense deve englobar todas as estruturas autárquicas (assim como fez Torres Vedras), sem cores partidárias, sem protagonismos. Todos a trabalharem com um só propósito: O engrandecimento do concelho onde residimos. Seremos capazes desse grande ato de humildade?

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