Neste século XXI, os jogos
tradicionais - praticados por crianças de todo o mundo até meados da centúria
anterior - sobrevivem apenas na memória de quem com eles se divertiu.
Foi o tempo em que jogar às
escondidas, à cabra-cega, à barra do lenço, ao lá-vai-alho, ao elástico, ao
berlinde, à cama-de-gato, ao espeta, aos soldados de plástico monocromáticos,
ao macaquinho do chinês, à amarelinha, ao quente ou frio, ao saltar à corda, à
macaca, à corrida de sacos, às cadeiras, ao gato-e-rato, às palmas das mãos
(com a respetiva cantoria), aos jogos com bola, etc., era “o pão nosso de cada
dia”.
Brincar era, para todos, uma
necessidade espantosa, com sol ou chuva. Juntar os grupos de amigos e dar asas
à imaginação fortaleceu gerações, tornando-nos “super-qualquer-coisa”.
As grandes corridas com
carrinhos de rolamentos levaram muitos ao hospital. O pião, a abrir cabeças,
também. Testávamos todos os limites, desde os físicos aos de segurança. A vida,
para nós, era um precipício que deveria ser vencido, sobrevoado, magicamente
ultrapassado.
Ser criança era, simplesmente, distrair-se
na rua. Partir janelas com uma bola, ou subir aos telhados para a ir buscar,
era tão corriqueiro que algumas famílias entabulavam velhos discursos e
mantinham uma frondosa vassoura junto à entrada da porta (pois, o ralhete nunca
vinha só). Éramos MUITO felizes, e sabíamos.
Há, porém - não devo deixar de
referir –, uma diferença entre “ser criança antes” e “ser criança agora”: atualmente
os pequenos possuem uma série de prerrogativas, entre elas, a educação, a
saúde, a nutrição, e o essencial direito à vida (infelizmente não são todas que
desfrutam desses benefícios, basta lembrarmo-nos das tristes notícias, que nos
chegam diariamente, e que envolvem um número impressionante de inocentes que
sofrem as maiores barbáries em incontáveis países). É urgente, em todos os
continentes, a criação, valorização e perfeita execução, do “Estatuto da
Criança e do Adolescente” (ratificado no Brasil a 31 de julho de 1990). Devemos,
também, ter em atenção a existência de outros mecanismos de proteção infantil,
entre eles a “Declaração de Genebra dos Direitos da Criança” e a “Convenção Internacional
sobre os Direitos da Criança”. Uma criança é-o em qualquer parte, o que muda
são as disposições (e procedimentos) dos adultos em relação a ela.
Foi graças ao Iluminismo
(século XVII) que surgiu a primeira conceção de “infância”. Desde então, muita
água correu entre pás de moinhos até que os mais velhos compreendessem o lugar
dos pequenos na sociedade.
As crianças devem ser felizes,
saudáveis e beneficiadas com amplas possibilidades para expandir o seu supremo
potencial ao longo da vida. Estudos e brincadeiras têm de ser um modo para
alcançar a máxima felicidade, pois a alegria é a mola propulsora para uma
caminhada repleta de confiança, permitindo ao indivíduo a propagação do “Ser
Bom”. Somente sendo bom, individualmente, teremos um mundo melhor, uma comunidade
mais Justa e Perfeita.
Hoje, como disse anteriormente,
há diferenças enormes no que trata à proteção da infância e da adolescência,
porém, que falta fazem aquelas brincadeiras de rua, os joelhos esfolados, os
olhos negros, os “galos” na cabeça e todas as demais maleitas, surgidas como
resultado de grandes folganças.
Há dois pensamentos a que
sempre regresso quando penso na infância que tive, um deles é de Jean Piaget
(1896-1980): “A brincadeira é o trabalho da infância”, o outro é do poeta Mário
Quintana (1906-1994): “As crianças não brincam de brincar. Brincam de verdade”.
“Saudade” não é a palavra certa
para o que sinto. Talvez a mais correta seja “Amor”!
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