Muito antes de Jesus Cristo ter
nascido, correu o mundo conhecido uma frase atribuída a Júlio César (100 a. C.-44
a. C.): “Há nos confins da Ibéria um povo que nem se governa nem se deixa
governar”. É a sina do povo português.
Mais uma vez está o país
envolto numa turbulência política, igual a tantas que ilustraram o passado
oscilante da nação.
Não vejo em Portugal nenhum
sinal de grandeza, pois a história foi contada, apenas, pelos vencedores. O que
percebo (aliás, todo o planeta deduz), é que existe um povo que “não sabe muito
bem a que veio”. São guerreiros? Tem dias. São unidos? Nunca. É um país rico?
Seria, se não existisse tanta roubalheira (nos altos escalões do poder). É um povo
de suprema Cultura? Poderia ser, se os sucessivos Governos assim o quisessem e
permitissem.
Os portugueses deveriam ser
alvo de um minucioso estudo antropológico, pois tudo o que possuem de melhor
teve origem no que possuíram de pior. Ou será que posso dizer que a razão
apagou-se muito para além do nascer de cada dia? A prédica geral nunca termina,
tudo discutem, “tudo sabem”, pouco produzem. A fé na chegada de um salvador (alguém
que pense por todos) mantém-se viva, enquanto isso o país vai afundando, por
seguir as “mentes iluminadas” que a própria política vai parindo. Quando
pensamos que o discurso está no fim, o indivíduo respira profundamente e,
abrindo desabrigadamente a bocarra, reinicia o vómito de lugares-comuns. Como
resultado, tudo à sua volta perpetua-se “com uma mão cheia de nada”.
A genética é tramada. Por isso,
o povo sustenta valores umbigais, entre eles: a traição; a inveja; a criação de
encruzilhadas “para lixar o próximo”; a elaboração de estratégias “para sacar
umas massas aos abstratos e passar os dias à sombra”; etc..
Se explanarmos acerca dos
sucessivos Governos que surgiram no pós-25 de abril, a ladainha praticamente
não muda. O que difere é o tamanho do prejuízo, pois aí ultrapassa os milhões
de Euros que “os amigalhaços embolsaram graças a “pequenos” favores. Os
paraísos fiscais estão abarrotados de dinheiro honesto depositado por mãos
criminosas.
Portugal não é um país
competitivo na ciência, na tecnologia, na indústria, etc.. Não há uma área
importante onde, de facto, seja possível assumir uma posição cimeira (o futebol
é poeira para os olhos). Toda a governação é, desde o tal 25 de abril de 1974,
um engodo, uma falácia.
O que mais me preocupa,
politicamente, é o despreparo de hordas inteiras de pessoas, alçadas - à
pressão - a cargos políticos.
Recentemente assisti à posse de
deputados de uma Assembleia de Freguesia (e do Executivo da mesma Junta). O que
vi e ouvi foi assustador. Rudeza nas atitudes e nas palavras; diálogos
disparatados e completamente desnecessários; arrogância; desconhecimento total
do Regime Jurídico das Autarquias Locais; ignorância acerca do que compõe o
quadro de competências; agnosia total sobre o território de que a freguesia
dispõe; um membro do Executivo que acredita que a verba anual destinada à Junta
seria entregue, na totalidade e de uma só vez, aos cofres daquela Casa (deve
achar que aquele organismo público é uma mercearia, e que todos os pagamentos
são efetuados em dinheiro vivo ao balcão); etc..
Diogo Freitas do Amaral
(1941-2019), no seu Curso de Direito Administrativo, vol. I, 3ª ed., diz-nos que
“as freguesias são as autarquias locais que, dentro do território municipal,
visam, a prossecução de interesses próprios da população residente em cada
circunscrição paroquial”. Os eleitos, pelo que percebi, não compreendem esse
pensamento, logo, não conseguirão entender qual será o seu ponto de ação. E
voltamos ao mesmo, insistindo em respeitar a sina. Venerando-a, até.
Na autobiografia “Confissões”,
Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), referindo-se a Maria Teresa de Espanha
(1638-1683), declarou: “Recordo-me de uma grande princesa a quem se dizia que
os camponeses não tinham pão para comer, ao que ela responde: “pois que comam
brioches””.
Em Portugal, nem pão nem
brioches. É necessário menos para manter os desgovernos, e muito mais para
alimentar as mamatas.
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