Segundo notícia veiculada pela
imprensa, Caldas da Rainha poderá abrigar mais uma grande superfície. As
perguntas que faço são simples e diretas, e deveriam ser respondidas pelo
Diretor-geral das Atividades Económicas (DGAE), pela Câmara Municipal, e pelo
presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR)
territorialmente competente: Esse concelho necessita de mais um empreendimento
desse porte? Há massa crítica para tal? Lembraram-se de que essa medida pode
enfraquecer – ainda mais – o comércio tradicional, especialmente o do centro da
cidade? Acreditam mesmo em conquista de postos de trabalho com vínculos
contratuais seguros?
Os políticos caldenses ainda
não compreenderam que o grande motor para um extraordinário desenvolvimento
económico do concelho passa por dois caminhos: A atribuição financeira às bem
organizadas indústrias culturais; A reativação total e completa das Termas.
Caldas da Rainha, com a
vereação cultural que possui, jamais conseguirá efetuar um bom investimento no
setor cultural. Os quase seis meses de nova gestão da pasta são a prova cabal
do que escrevo. Não há inovação. Não há apoio efetivo ao setor museológico. Não
há investimento na arte cerâmica. As áreas da música, do teatro, da literatura,
etc. vivem momentos de completo abandono (é o esforço de artistas e técnicos que
mantém alguma criação e fruição cultural em andamento). Resumindo: A cidade da
cultura está a léguas de distância de o ser. Muitos caldenses não o percebem
porque não estão inteirados acerca
da produção cultural (diária) de outros concelhos.
Na falta de grandes
acontecimentos culturais, uma nova superfície comercial de grande porte, com
certeza, dará boas fotografias para qualquer vereador(a) da cultura poder
exibir aos amigos. Que é o que se tem visto.
“A pandemia não nos deixa
trabalhar”, “a guerra entre a Rússia e a Ucrânia tem impedido o desenvolvimento
dos projetos no setor cultural”, etc., são desculpas que não cabem aqui,
portanto, não as utilizem.
Os pequenos e médios
comerciantes (que estão à mercê da sua própria sorte) desejam apoios efetivos e
duradouros. A classe trabalhadora merece condições dignas para exercer as suas
funções, não ficando sujeita a empregadores que precarizam o trabalho, e reduzem
as condições do mesmo.
Uma nova grande superfície nas
Caldas da Rainha não é, nunca será, uma mais-valia para a população, porque as
que existem já satisfazem o concelho e os seus arredores.
Não será essa novel estrutura
que trará hóspedes para um possível hotel de cinco estrelas (prometido para os
Pavilhões do Parque D. Carlos I), somente uma Indústria Cultural forte, e as
Termas em pleno funcionamento, o podem conseguir. Todo o resto são balelas
eleitoreiras e/ou motivos para vereadores incapazes justificarem porquê fazem
pouco, ou nada, pelos seus pelouros.
Camilo Castelo Branco
(1825-1890) tem uma frase que cai como uma luva a certos políticos incompetentes:
“Todas as pessoas têm uma
porção de inépcia que há-de sair em prosa ou verso, em palavras ou obras, como
o carnejão de um furúnculo. Quer queira quer não, um dia a válvula salta e o
pus repuxa.”
Outra superfície de grande
porte nas Caldas da Rainha trará mais trevas ao centro da cidade, obrigando os
comerciantes dessa região a buscar soluções de sobrevivência que podem passar
por uma mudança de concelho ou o encerramento da sua atividade. Neste último
caso, dependendo da idade, podem tornar-se trabalhadores precários, diminuindo
drasticamente o rendimento mensal e prejudicando, assim, o seu núcleo familiar.
Um estudo de mercado - sem
vícios, completamente imparcial - deveria ser feito. Acho improvável que o
mesmo ditasse que a área onde Caldas da Rainha se insere necessita de outra
grande superfície.
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