Maçon. Iniciado no ano de 1910, e
integrado na Loja José Estevão, do Grande Oriente Lusitano, sob o nome
“Pilatos”, praticou uma Maçonaria de apoio aos mais vulneráveis, respeitando o
tríptico: Liberdade, Igualdade e Fraternidade. Fundou a Caixa Previdente do
Futuro (1883); construiu dezoito escolas primárias e uma creche; edificou o
Bairro Grandella na Capital portuguesa, para oferecer boas condições de moradia
aos seus funcionários; ofereceu-lhes assistência médica e proteção social;
estabeleceu, a todos, sem exceção, um dia de descanso semanal (domingo);
consagrou-lhes uma semana de férias (remunerada e anual), e constituiu a Casa
do Povo na Foz do Arelho.
O seu nascimento, há 170 anos,
deu-se em Aveiras de Cima, Azambuja, no dia 23 de junho de 1853, sendo filho de
Francisco Maria de Almeida Grandella (1830-?) e de Matilde Libânia Doroteia de
Barros Grandella (1852-?). Aos 11 anos de idade mudou-se para Lisboa, pela mão
da prima Miquelina (?-?), indo morar na casa desta, situada na Calçada da
Pampulha. Na mesma circunstância empregou-se num empório na Rua dos Fanqueiros,
onde permaneceu por três anos. De 1864 até ao final da vida, a sua visão
comercial e industrial levou-o a um alto patamar de riqueza. Porém, o seu
coração boníssimo transformou-o num elevado filantropo (detestava a famigerada
caridade) sendo um exemplo para muitos. Em 1903 adquiriu um edifício na Rua do
Carmo, ali instalando uma primitiva variante do entreposto que o tornou famoso
na Europa, que seriam os faustosos Grandes Armazéns Grandella, inaugurados a 7
de abril de 1907 com projeto do renomado arquiteto francês Georges Demay
(1864-1922), perito em arquitetura do ferro. Esse empreendimento fora inspirado
pelos armazéns La Samaritaine (Paris), sob um gosto Arte Nova, com retoques de
específicas técnicas decorativas portuguesas.
Foi um cidadão importante para
a Cultura, pois através de suas ideias e ações colocou em prática inúmeros
projetos artísticos, de autoria dos mais diversos talentos portugueses. Destacou-se
como um verdadeiro mecenas, sem aceitar que uma só linha fosse escrita, na
comunicação social da época, acerca das suas atitudes benevolentes. Um dos seus
maiores feitos foi o da construção do Teatro Novo (no local onde primitivamente
existiu o Teatro da Ópera, popularmente conhecido como Teatro das Hortas do
Conde), com traçado do arquiteto António José Dias da Silva (1848-1912), situado na Rua dos Condes, esquina com
a Avenida da Liberdade, em Lisboa e inaugurado a 23 de dezembro de 1888 com um
monólogo inicial recitado pelo ator Francisco Alves da Silva Taborda
(1824-1909) intitulado “Ontem e Hoje”, de autoria de Baptista Machado
(1847-1901), e a opereta “As duas Rainhas”, esta numa tradução de António de
Sousa Bastos (1844-1911).
O Teatro Novo era um santuário
por onde passaram inúmeras companhias teatrais nacionais e estrangeiras
(principalmente os mais variados e sonantes nomes do teatro francês), além de
excelentes elencos de ópera e opereta italiana. Infelizmente foi demolido no
ano de 1951, dando lugar ao edifício do Cinema Condes que, atualmente, abriga o
Hard Rock Café.
Francisco Grandella chegou a
editar dois livros: “O Assalto” e “Memórias e receitas culinárias dos
Makavenkos”, aventurando-se, também, na publicação de duas revistas (“A Cidade
e os Campos” e “Passatempo”), onde deixou alguma produção literária, e nas
artes plásticas.
Numa ocasião, nos finais de
1897, enquanto recuperava de uma fratura numa perna, passou a fazer termas nas
Caldas da Rainha. Num dos seus inúmeros passeios pela região, foi levado à Foz
do Arelho, apaixonando-se imediatamente pela rusticidade e beleza daquela
praia. O seu encantamento levou-o a construir, entre 1898 e 1907, um vistoso
palacete de estilo neomanuelino, um singelo torreão e uma sóbria capela. Em
1924 mudou-se, em definitivo, para a bela casa. Vitimado por uma
congestão cerebral - segundo os mais importantes periódicos da época, entre
eles o “Jornal do Brasil” e o “Jornal do Comércio”, ambos do Rio de Janeiro -
foi a óbito, no dia 20 de setembro de 1934, no seu palacete da Foz do Arelho. O
seu sepultamento ocorreu no dia seguinte, no Cemitério do Alto de São João, em
Lisboa.
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