Em dia de sol e bom humor, vi-me diante de uma das telas pouco conhecidas de Mestre Malhôa. Essa, como outras que produziu, mostra-me que o seu autor é, sem dúvida, um dos grandes génios de uma arte admirável. A pintura em questão (não a posso identificar, nem ao colecionador, por pedido expresso do próprio) mostra-nos a alegria de um duelo de cores, tipicamente saídas daquela paleta notável, portanto, facilmente reconhecível como sendo um Malhôa.
O trabalho deste pintor deve ser contemplado como algo que sobreviveu ao tempo que passa, bem como a modismos de qualquer espécie. É vigoroso, contemplativo e carismático. O facto de não lhe ter sido atribuída nenhuma bolsa de estudos para aprimorar-se na França ou em Itália (uma imensa injustiça na época, pois era aluno de primeiros lugares, facilmente medalhado a ouro. A inveja alheia, tão prejudicial à arte, é tramada) só o engrandeceu, pois fê-lo dedicar-se com afinco aos desígnios do coração e da perspicaz visão pictórica de que era possuidor. Como resultado, temos o que aí está - espalhado por museus nacionais e internacionais, além de coleções particulares, como é o caso do cavalheiro acima citado - e que nos enche de orgulho.
José Malhôa respira, ainda, o ar de celebridade que o acompanhou pela vida. Um artista está vivo quando a sua obra se arrebata e perpetua. Malhôa viverá, em suas telas, pelo correr das décadas, e, um dia, estará na cotação de um Monet, um Manet, um Degas, um Modigliani, etc. Esse instante deverá surgir após os 150 anos de sua morte (a ser “comemorada” no ano de 2083). Somente a distância que o tempo nos trará, aliada a um grupo de investigação isento e honesto, poderá fazer subir à tona d’água um José Malhôa de renome mundial. A tela que admirei será uma daquelas disputadíssimas pelos olhares ávidos por beber daquele artista. Assim como, num dia, também com sol e bom humor, milhares de pessoas se acotovelarão para contemplar o Retrato de Laura Sauvinet - eterna Gioconda de Malhôa - exposto no seu belo museu, instalado no Parque D. Carlos I.
A criatividade do pintor de Portugal não se mostra estática e sem luz, muito pelo contrário, as suas telas possuem movimento e uma intensa luminosidade que nos instiga a usar lentes fumadas para as apreciar. Malhôa plasmou o seu poder criativo ao seu espírito moderno, porém, sem ser contaminado pelas gralhas estéticas de outras correntes. Foi fiel a si próprio, por isso é Malhôa, e é perfeitamente identificável. Qualidade, no conjunto da Obra, é a sua marca registada. Poucos podem gabar-se do mesmo.
Os temas abordados por José Malhôa são característicos, pois estão centrados na raiz do seu portuguesismo, por isso é ampliado ao olhar popular nacional. Caldas da Rainha deveria expandir a obra de Malhôa na sua malha urbanística, reproduzindo as suas telas em pinturas murais (nas laterais de edifícios, por exemplo) e apostando em rotundas criativas, onde, em cerâmica, ficassem eternizadas as suas pinturas. Este concelho teria, para deleite de caldenses e turistas, a Rota Malhôa. Um colírio para os olhos de todos.
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