Numa daquelas magníficas
tertúlias culturais na noite lisboeta, fui confrontado com perguntas, para as
quais não tive resposta: Porquê a Feira dos Frutos das Caldas da Rainha quase
não tem fruta? Porquê tantos expositores de carros e de imobiliárias? Porquê o
exagero de barracas de alimentação e bebidas? Porquê é realizada naquele
parque? Porquê são cobrados bilhetes? Porquê se realizam os concertos também
naquele recinto? Apanhado de surpresa, e sem ter o que dizer, limitei-me a dar
de ombros.
Pouco tempo depois, já em casa,
comecei a pensar no assunto e cheguei à mais simples das conclusões: A Feira
dos Frutos poderia ser a grande montra portuguesa, do que de melhor se faz na
cultura simultânea de plantas hortícolas e árvores de fruto deste país, porém,
ao invés disso, é apenas um local para algumas pessoas comercializarem os seus
produtos, que, em sua larga maioria, não possuem nenhuma relação com o tema
principal.
Uma multidão vai à Feira dos
Frutos? Sim, mas, fazem-no por causa dos concertos. Não para verem a uva do
Douro; a ameixa d’Elvas; o ananás e o maracujá dos Açores; a anona e a banana
da Madeira; a cereja da Cova da Beira; as laranjas do Algarve, de Amares ou de
Ermelo; o figo de Torres Vedras; a ginja de Óbidos ou Alcobaça; a maçã Bravo de
Esmolfe; a maçã da Beira Alta; o melão de Amareleja, de Vilariça, de Campo
Maior ou de Elvas; o pêssego da Cova da Beira; porque nenhum desses produtos é ali
exposto.
Ah… Mas, parece que o COTHN –
Centro Operativo e Tecnológico Hortofrutícola Nacional esteve presente, com a
“apresentação de 10 Grupos Operacionais sob a forma de posters, no seu stand, localizado na área institucional”. Será que
os visitantes da Feira, ao lamber os tais posters,
conseguem ter a perceção do sabor de alguma das frutas portuguesas citadas
acima?
A Frutos – Feira Nacional de Hortofruticultura das Caldas da Rainha é
fundamental para este concelho? Sim, é! Porém, com outro formato, mais próximo
da ideia central da sua criação, pois, se nesta versão de 2019 estiveram “mais
de 120 expositores ligados a setores como maquinaria, indústria, artesanato e restauração”,
com certeza retirou-se (como ocorre todos os anos) o protagonismo da personagem
principal: A fruta.
No plano inicial, de 1978, a “Frutos
– 1ª Feira Nacional da Fruta”, enchia-nos os olhos e os sentidos. Nestes 41
anos esse evento caldense não evoluiu. Ao contrário das outras 51 Feiras,
realizadas em 20 países. Entre elas as magníficas: Ásia Fruit Logística (Hong
Kong, China); WorldFood Moscow (Moscovo, Rússia); Rohvolution (Speyer,
Alemanha); PMA Fruittrade Latin América (Santiago, Chile); Fruit Attraction
(Madrid, Espanha); WOP Dubai (Dubai, Emirados Árabes); HortEx Vietnam (Cidade
Ho Chi Minh, Vietnam); Fiera di Vita in Campagna (Montichiari, Itália), etc.
Para a Frutos – Feira Nacional de Hortofruticultura das Caldas da Rainha
chegar à excelência é necessário um grande trabalho de bastidores, realizando,
por exemplo, extensos contatos com produtores de norte a sul do país. Além de
ser imprescindível diminuir drasticamente a venda de produtos que não possuem
nenhuma relação com o tema central. Sei que não será fácil, pois os interesses
– privados – económicos são exageradamente grandes, e, aquela feira, sendo um
filão muito importante na balança comercial de alguns, certamente, se deixar de
o ser, trará incómodos monetários a quem dela se lambuza.
De entre as inúmeras mudanças a
realizar, é necessário estender a Frutos
pelo centro da cidade (acabando-se com a cobrança de bilhetes), abrindo, assim,
uma grande janela para o comércio tradicional, que continua a agonizar, dia após
dia.
Caldas da Rainha pode ter, e merece,
mais!
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