Avançar para o conteúdo principal

Badajoz




Bela Espanha, esta que nos é representada por Badajoz, onde as lendas sobre a sua origem se multiplicam, assim como as graciosidades culturais, sopradas por ares de uma arqueologia remota e muito rica.

Terra de nomes sonantes, naturais. Ou passageiros de aventuras citadinas, situados em embarcações melífluas, repletas de beleza, entre pincéis, acordes, letras e monarquias, refiro-me, entre tantos, ao El Divino, Luís de Morales (1509-1586), a Joaquín Romero de Cepeda (1540-?), a Juan Vásquez (1510-1560 ou 1572), a Rodrigo Dosma (1533-1599), a Dom Rodrigo (688-711) a Diego Sánchez (1525-1549).

Um concelho onde a história atropela os nossos sentidos mais apurados, deixando-nos com muita sede de conhecimento. Uma região onde o derramamento de sangue, devido aos inúmeros conflitos ali ocorridos pelos tempos afora, obriga-nos a cair em perplexidade, fazendo-nos duvidar, até, de como foi possível chegar aos dias atuais. Mas, instala-se depois a certeza de que foi a fibra e a forte têmpera dos citadinos, que, geração após geração, foram inflando em si a coragem dos invencíveis.

Encravada a sudoeste da Península Ibérica, Badajoz bebe das águas do Guadiana, rio encantado, com um curso total de 829km, desde as lagoas de Ruidera, em Ciudad Real, até ao Golfo de Cádis. Primitivamente instituída num outeiro calcar do Período Paleozoico, graciosamente ablaqueado por esse voluptuoso flume, exatamente onde hoje podemos admirar a alcáçova, a exemplar e imponente fortaleza, sentinela omnipotente fincada no Cerro de la Muela, que dá ânimo e força aos residentes e encanta o olhar dos visitantes.

Mas, não fica por aqui o poderio arquitetural, sendo inúmeras as demais excelências desse concelho: A Fortificação Vauban, com seus oito baluartes a ameaçarem os intrusos emanados da Guerra da Restauração; La Giralda e Torre de Soledad, símbolo etéreo de um comércio outrora muito forte; A Porta de Palmas, por onde, em 1551, entravam os que vinham por Bem e aqueles que nem por isso; A Catedral de São João Batista, que desde 1255 continua trazendo paz de espírito aos residentes e àqueles, de outras plagas, que a procuram em peregrinação; O Real Mosteiro de Santa Ana, de 1518 que vem testemunhando as vicissitudes e as virtudes da história local; A Capela das Adoradoras, construída no século XIII. Esses e demais traços de uma terra sublimada pela arte e pelo sorriso sincero de cada um dos naturais.

Badajoz, a sua história e a sua memória, devem ser preservadas e repetidas. Como deve ser também revivida, a cada ano, a grande ligação desse concelho com Caldas da Rainha, seja em âmbito cultural (o que, creio, nunca ocorreu), seja através daquele que é considerado o acontecimento pioneiro na história do cicloturismo português, o “CicloBrevet Internacional Caldas-Badajoz”, evento iniciado há exatos 37 anos pela mão acolhedora do Sporting Clube das Caldas.

Repetir a efeméride, naturalmente, será um estreitar cada vez mais intenso das relações entre as duas localidades e, claro, entre os dois países. Será, também, e, felizmente, uma forma de prestar homenagens a todas as pessoas que fizeram, e fazem, parte da história dessa prova ciclística.

Badajoz e Caldas da Rainha, o que mais se poderia realizar para se diminuírem distâncias? Talvez um Festival de Teatro, um Documentário, ou, quem sabe, a publicação de um livro que explanasse com vivacidade e ternura a história de um amor impossível, entre um Romeu e uma Julieta, com delicadezas Ibéricas.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

José Rui Faria de Abreu

  Existem amigos que, quando partem para os confins do Desconhecido, nos deixam uma lacuna na alma, difícil de preencher. Foi o caso do Faria de Abreu. O primeiro contacto que tive com ele foi em Coimbra, no ano de 2001, quando fui obrigado a levar o meu pai, em consulta oftalmológica, de urgência. Após aquele dia, travamos uma salutar amizade, com vários telefonemas em diversos períodos nos anos que se seguiram, e até inúmeras visitas aquando das minhas várias passagens pela Terra dos Estudantes. Os colegas diziam que ele era o melhor oftalmologista de Portugal, a Universidade de Coimbra tecia-lhe elogios e louvores, os pacientes – o meu pai incluído – diziam que ele era um médico respeitador e dedicado. Eu digo, simplesmente, que ele era uma figura humana sensível, logo, alguém que compreendia o valor da amizade. José Rui Faria de Abreu faleceu na manhã do dia 27 de novembro de 2012 no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra , aos 67 anos de idade,...

Arena Romana nas Caldas da Rainha

Toda a vez que ouço um aficionado das touradas destilar frases de efeito, anunciando que “aquilo” é cultura, ponho-me a pensar num excelente projeto que poder-se-ia executar nas Caldas da Rainha: Construir-se uma Arena Romana. Naturalmente seria um plano muito interessante do ponto de vista “cultural”. As Arenas Romanas estão na história devido à inexorável caçada suportada pelos cristãos primitivos. Praticamente a mesma coisa que acontece com os touros numa praça. São muito conhecidas as crónicas sobre as catervas de animais impetuosos que eram lançados sobre os fiéis indefesos, algo muito semelhante com o que se vê nas liças tauromáquicas. Um touro a mais ou a menos para os aficionados é, praticamente, igual ao sentimento romano: Um cristão a mais ou a menos pouco importa. O que vale é a festa; a boa disposição de quem está nas arquibancadas; as fortunas envolvidas, representando lucros fenomenais para alguns; a bandinha de música, orientada por um maestro bêbad...

A arte de Paulo Autran

  Um dos amigos de quem sinto mais saudades é esse Senhor, cujo nome está em epígrafe. O seu percurso profissional mistura-se com a história do teatro brasileiro. O seu talento ombreia com o das divindades dos palcos, Leopoldo Fróes (1882-1932) e Laurence Olivier (1907-1989). A sua postura era ímpar, a de um cavalheiro, praticamente um aristocrata. Estava com 25 anos de idade quando o conheci, um ser ainda imberbe. Ele, com simpáticos 68. Gigante há muito. Respeitado, cultuado, um exemplo. Era carioca, nasceu na cidade do Rio de Janeiro, numa quinta-feira, 7 de setembro de 1922. Muito influenciado pelo pai, Walter Autran (1891-1960), formou-se na Faculdade de Direiro do Largo de São Francisco, em 1945, desejando abraçar carreira na diplomacia. Não almejava ser ator, porém estreou como amador, em junho de 1947, no Teatro Municipal de São Paulo, com a peça “Esquina Perigosa”, de autoria de John Boynton Priestley (1894-1984), com direção de Silveira Sampaio (1914-1964). Infl...