Uma Comuna francesa é uma das
geminações de Caldas da Rainha. Refiro-me a Le Raincy, conhecida, também, por “Enclave
Burguês”, ou “A Pequena Neuilly”. Localizada no Departamento de
Seine-Saint-Denis, uma formosa região situada no meio do pays d’Aulnoye, na área
administrativa de Ile-de-France, nordeste de Paris, na França.
Le Raincy é uma plaga
admirável, cuja história está amparada pela fina flor da nobreza francesa, tendo,
inclusive, a gratitude de ver projetado o seu nostálgico Château du Raincy pelo
afamado arquiteto Louis Le Vau (1612-1670). É de notar que foi neste local, no
ano de 1664, que o dramaturgo Jean-Baptiste Poquelim, o reconhecido Molière (1622-1673)
estreou Le Tartuffe, após convite de Anne de Gonzague de Cleves (1616-1684), a
então proprietária daquele castelo.
Desde os primórdios que aquele
burgo é alvo de sequazes defensores de ideias democráticas e libertárias, porém,
as vicissitudes trazidas por diversos conflitos militares - entre eles a
Ocupação Saxã (1066), a Guerra dos Cem Anos (1337-1453), a Guerra dos Trinta
Anos (1618-1648), a Guerra Franco-Prussiana (ou Guerra Franco-Germânica)
(1870-1871), a Primeira Grande Guerra (1914-1918) e a Segunda Grande Guerra (1939-1945)
- abafaram as suas vozes. Diversos foram os nomes sonantes que desfilaram por
Le Raincy, contudo, um salta-nos à vista: Napoleão Bonaparte (1769-1821), que
adorava a região e, no Château, usufruiu de inúmeros momentos de reflexão.
Atualmente, um simples passeio por
aquele lugar revela-nos algumas maravilhas, como as casas remanescentes da
Belle Époque; o Liceu Albert Schweitzer (erguido em homenagem a esse filósofo,
médico, teólogo e organista alemão nascido em 1875 e falecido em 1965); o lago
artificial e o parque florestal existentes nesse Liceu; a ordenada e bela Place
des Fêtes, com os seus dois vasos de mármore branco, ornados com cabeças de
carneiros, sedimentos dos ornatos do antigo Château; casas e mansões em estilo
haussmaniano, provenientes da bendita teimosia arquitetónica do Barão
Georges-Eugene Haussmann (1809-1891), responsável pela Reforma Urbana de Paris,
na época de Charles-Louis Napoléon Bonaparte, conhecido como Napoleão III
(1808-1873); a Igreja Notre-Dame du Raincy (também conhecida como
Notre-Dame-de-la-Consolation); o Aqueduto de Dhuys; é de referir, também, que
Le Raincy possui um movimento cultural riquíssimo, com enfoque para o Teatro, a
Dança, as Exposições de Pintura e, ainda, arremetidas magníficas na Literatura,
na Fotografia e em alguns desportos, tais como o tênis, a natação, a petanca, o
ciclismo, e as caminhadas de médio e longo curso.
É habitual em Le Raincy
homenagearem-se as grandes personalidades, independente do país de origem, que
deixaram significativa marca na Cultura mundial, todavia, naturalmente, os
grandes eventos estão, em sua maioria, mais relacionados aos sonantes nomes
franceses, entre eles Molière, George Sand (1804-1876), o Marquês de La Fayette,
Marie-Joseph Paul Yves Roch Gilbert du Motier (1757-1834), e Hector Berlioz
(1803-1869).
A Cultura em Le Raincy é um
revérbero do que de melhor se faz em solo francês. O respeito pela classe
artística (independente do género) é evidenciado nas fortes tendências
absorvidas por outros países, um enorme sinal de avanço e prenúncio dum futuro muito
promissor.
Quais as semelhanças com Caldas
da Rainha? Neste caso, como em artigos anteriores, cujo tema aflorado é a
geminação entre regiões, fica a dúvida.
Será que os caldenses já
ouviram falar de Le Raincy? Certamente que, uma imensa maioria, não.
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