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Figueiró dos Vinhos




O último artigo da série acerca das geminações de Caldas da Rainha é sobre esta vila em epígrafe, situada na Beira Litoral, no distrito de Leiria. É uma localidade simpática, com algumas referências históricas que remontam à Idade do Bronze Final, porém, só podemos considerar esta irmandade se atentarmos ao facto de que foi o pintor José Malhôa (1855-1933) que efetuou a aproximação das duas localidades, através da construção, em terras figueiroenses, do seu atelier, e casa de campo, batizado por “Casulo”, ainda hoje passível de visitação, embora muito desprovido, internamente, dos ingentes vestígios ali deixados em vida pelo grande Pintor.

Foi graças à corrente Naturalista - sob tutela desse Mestre caldense, e ainda dos escultores José Simões de Almeida, Tio (1844-1926) e José Simões de Almeida, Sobrinho (1880-1950), e do pintor Manuel Henrique Pinto (1853-1912) - que Figueiró dos Vinhos foi alvo de maior admiração no contexto nacional. A “Escola Naturalista de Figueiró”, de rosto terno e campesino, elevou o nome do burgo a uma dimensão diferente da, até então, conseguida.

A vila de Figueiró dos Vinhos possui outros, poucos, mas belos atrativos, tais como, a Praia Fluvial das Fragas de São Simão, local onde se podem realizar inúmeros desportos radicais, entre eles, o rapel, o slide e a escalada, e ainda desfrutar da ribeira de Alge, que ali passa a caminho do Zêzere, repleta de pequenas pedras coloridas em seu decote, circundada por um sorriso agradável de sobreiros e loureiros, tendo ainda um modesto miradouro que permite observar a plenidão do panorama verde envolvente; A Praia Fluvial de Ana de Aviz, com um expressivo conjunto natural e paisagístico; O Convento de Nossa Senhora do Carmo, fundado no ano de 1598, por gesto de Pero de Alcáçova de Vasconcelos (este cenóbio, pertencente à Ordem dos Carmelitas Descalços, foi também Colégio de Artes, e um respeitado Centro de Estudos de Filosofia. Após 1834, aquando da extinção das Ordens Religiosas em Portugal, foi Hospital e Casa da Misericórdia. Atualmente é um dos poucos lugares do país onde se podem apreciar excelentes concertos de Música Sacra); O Jardim Municipal, com as suas imperiais escadas; O Museu e Centro de Artes; A Torre da Cadeia; O Cabeço do Peão; A Cruz de Ferro, fundida nas Reais Ferrarias da Foz do Alge, em 1816, sob ordem do santista, formado pela Universidade de Coimbra em Estudos Jurídicos, Matemática e Filosofia Natural, José Bonifácio de Andrada e Silva (1763-1838), e colocada na entrada da vila; As Aldeias de Xisto do Casal de São Simão (um local diminuto, de praticamente uma só rua, que teve a graça de ter as suas casas recuperadas pelos próprios moradores); E a Igreja de São João Batista, onde podemos admirar uma tela de Mestre Malhôa: “O batismo de Cristo”, de 1904, visível no altar-mor. Essa Matriz, no ano de 1922, foi classificada como Monumento Nacional. Situada no centro urbano da vila, e construída no final do século XV, sob os auspícios dos Frades Crúzios de Santa Cruz de Coimbra, pertencentes ao domínio da Ordem de Santo Agostinho, guarda um património artístico de grande valor, de entre as muitas obras de arte podemos admirar, também, o quadro “São João da Cruz”, de autoria da artista plástica Josefa de Óbidos (1630-1684).

Figueiró dos Vinhos é um local aprazível, possuidor de uma ruralidade intensa e verdejante, e dotado de um bom núcleo de comércio e serviços. Um sítio perfeito para tranquilas férias.

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